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Avançar por cima do território dos vizinhos, custe o que custar


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Fevereiro 2016: soldados chineses nas ilhas Spratly (Nansha para a China) . A placa diz: “Nansha é nossa terra nacional, sagrada e inviolável”.

Sobre o acesso ao porto de Tanmen a foto do ditador comunista chinês Xi Jinping domina como a do Big Brohter da novela “1984” de Georges Orwell.

Ele serra a mão de um grupo de pescadores num cartaz em que pode se ler palavras do chefe marxista: “as ilhas Nansha [a denominação chinesa para as ilhas Spratly arrancadas dos países vizinhos] fazem parte da China desde tempos imemoriais. O Exército de vanguarda protegeu habilmente nossos direitos marítimos”, segundo extensa reportagem do jornal espanhol “El Mundo”.

Os supostos “direitos marítimos” da China foram declarados inexistentes pela Corte Permanente de Arbitragem (CPA), sediada em Haia, mas a China desconheceu acintosamente a decisão.

A pequena população local estimada em 31.000 habitantes depende da pesca, e a viagem do ditador de Pequim confirmou a importância estratégica bélica para o controle do imenso tráfico comercial  no Mar do Sul da China.

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Ilhas Spratly: o mapa da invasão. O anel branco indica obras em andamento. Nomes em vermelho: ocupadas pela China; roxo Filipinas; verde Malásia; amarelo Vietnã; azul Taiwan. A ilha é território filipino.

Converteu-se num dos pilares do esforço expansionista para se apropriar da soberania sobre quase 90% do Mar do Sul China passando por cima dos direitos, alguns reconhecidos internacionalmente e outros não, de cinco países vizinhos.

Xi Jinping foi até o templo vermelho da Irmandade dos 108, uma lenda forjada para consolidar o poder comunista na região.

A lenda diz que 108 pescadores há sete séculos se uniram para lutar contra os piratas “estrangeiros” que na interpretação hodierna se parecem demais com os EUA.

Tanmen, a principal cidade e porto local, virou a ponta de lança do expansionismo.

Em 2012, um atrito suspeito de barcos pesqueiros chineses serviu de pretexto para uma invasão que consolidou o controle de Pequim sobre o atol de Scarborough, atribuído às Filipinas.

Também “justificou” outro confronto em 2014 contra a presença de uma plataforma petrolífera em zona disputada com o Vietnã.

Um navio de Tanmen foi filmado nessa ocorrência abalroando um pesqueiro vietnamita que acabou afundando.

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O general Fan Changlong, oficial mais graduado do Exército Vermelho que visitou as ilhas Spratly

Pequim estabeleceu em 1985 uma milícia marítima em Tanmen que o jornal estatal ‘China Daily’ louvou enquanto “unidade militar avançada”.

Mas em caso de necessidade da propaganda é apresentada como grupo de generosos e patrióticos pescadores.

Trata-se de um grupo paramilitar que treina os pescadores para “colher informações marítimas de forma ativa, ajudar nas construções nas ilhas artificiais sobre recifes e fornecer defesa da soberania no Mar do Sul da China”, segundo o ‘Hainan Daily’.

As autoridades chinesas estão facilitando barcos de maior calado para estender a área de atividades desses pescadores. Também fornece subvenções para combustíveis e entregou equipamentos de GPS a quase 50.000 pesqueiros de forma quase gratuita.

Pequim não poupa orçamento para reforçar as posições usurpadas. Em Tanmen constrói um museu mítico para justificar sua versão singular sobre o Mar do Sul da China com um custo de por volta de 133 milhões de euros.

Recentemente inaugurou um grande porto na cidade de Sanya, que poderá acolher até 2.000 barcos de até 3.000 toneladas, muito superiores à maioria dos guarda-costas das nações vizinhas.

A família de Wang Zhezhong diz possuir – e não é a única família a fazer isso – documentos escritos, verdadeiros “livros de apontamentos usados por seus antepassados pescadores em épocas imemoriais” quando não havia mapas. Ela até criou um pequeno museu com objetos recriados recentemente.

Porém quando se lhes pede mostrar algum desses documentos, só exibem uma fotocópia!

O governo promove “cruzeiros turísticos” pelas ilhas disputadas. Os estrangeiros estão excluídos desse passeio que começa “com a cerimônia de hastear a bandeira” da China nos territórios dos outros. Em 2015, 16.000 turistas chineses teriam sido beneficiados pelo governo com esse périplo.

O jornal ‘South China Morning Post’ já anunciou que uma dessas “expedições turísticas” começará a ser feita num mini transatlântico de 10.000 toneladas.

Um jornalista de “El Mundo”puxou conversa com o pescador Ye Xingbin, veterano da batalha de 1974 contra o Vietnã do Sul, que não duvidou em reconhecer que a finalidade das atividades pesqueiras era “garantir as ilhas para a China”.

Segundo esse informante, as atividades lúdicas para “turistas” são verdadeiros cursos de doutrinamento e propaganda. Os “turistas” são treinados para formar coros tomados de frenesi nacionalista.

Eles são incitados a cantar o hino do país até que o guia brada: “de quem é o Mar do Sul de China?” e todos têm que responder ao uníssono: “da China!”

O governo comunista criou em 2012 a “cidade” de Sansha na ilha Woody e lhe atribui a administração de um conglomerado de 250 ilhotas, as Spratly incluídas, espalhado sobre quase dois milhões de km2, mas que tem menos de 1.000 residentes.

A crise econômica que vive o gigante socialista asiático, pesa muito pouco na hora da expansão militar. Trata-se de avançar por cima dos outros a qualquer preço.

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

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Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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