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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Chang, Eng e a Europa Unida


“…uma integração solidária dos países do euro
deve conduzir a uma união política” (Gilles Lapouge)[1]

Eng e Chang
Eng e Chang

A perfeita metáfora para o relacionamento entre os países é o relacionamento entre os indivíduos. Da mesma forma como existe uma gradação que vai do conhecido ao parente ‒ passando pelo vizinho, o amigo, o patrão, etc., ‒ os países se relacionam entre si, amigavelmente ou não.  Mas seria de ver com bons olhos uma tentativa de generalizar entre os países um tipo de relacionamento como os xifópagos têm entre si?[2]

Xifópagos? Que quer dizer isso? Era a situação dos irmãos siameses[3], homens cujos peitos estavam ligados por uma membrana, e que viveram assim atrelados um ao outro até a morte. A imagem dos irmãos siameses vem espontaneamente ao espírito quando pensamos em certas situações criadas no contexto da chamada globalização, tantas vezes igualitária.

Trata-se sem dúvida do tipo de relacionamento material mais desconcertante, mais estreito e mais mórbido entre duas pessoas. Os xifópagos não são dois seres fisicamente distintos, pois ligados, reciprocamente, e compartilhando por vezes até algum órgão interno. Sua condição física, como é fácil de imaginar, gera todo tipo de incômodos para ambos. Há mesmo a situação extrema de gêmeos dotados de um total de três pernas.

Esqueleto de gêmeos mostrando fusão da parte inferior do corpo (Mutter Museum, Philadelphia, USA).
Esqueleto de gêmeos mostrando fusão da parte inferior do corpo (Mutter Museum, Philadelphia, USA).

Os xifópagos sofrem a mais radical forma de mútua dependência que pode haver entre duas pessoas. E só de pensar, por pouco que seja, em tal situação bizarra, sentimos o arrepio de um não pequeno desconforto psicológico – que não é nada se comparado ao mal estar que devem sentir os próprios gêmeos.

O que Chang e Eng, os famosos irmãos siameses, diriam da globalização? Acho que eles não entenderiam. Poderíamos até imaginar o seguinte diálogo:

Chang: Como? Países compartilhando voluntariamente seus órgãos, como nós compartilhamos os nossos? Será que não há algum engano?

Eng: Não. Não há engano. Está nos jornais e nos livros.

Chang: Esses senhores não sabem o que é a infelicidade de ser apenas 50% de si mesmo, e passar a vida toda atrelado fisicamente a outro ser, sem poder ir e vir por si só.

Eng: Deixemos isso, Chang. Vamos tomar um whisky?

Chang: Vá você sozinho. Não se lembra das vezes em que você bebeu e nós dois ficamos ébrios, tendo eu de partilhar, além de tudo o que já aguento, também uma terrível ressaca, sem ter bebido?[4]

Eng: Você sabe muito bem que sem você eu não posso ir a lugar nenhum, porque estamos atados. Então não vou. Mas lembre-se de que poderei me vingar quando você quiser beber água…

Ouçamos a lição dos siameses!

Aplique-se o conto aos países já globalizados, ou em risco de o serem. Fala-se um tanto da unificação da América do Sul, mas no momento a principal ameaça de globalização não é em matéria política, mas de modas, roupas, músicas, hábitos, etc.. E quase ninguém presta atenção nesta realidade, tão nociva.

Em relação aos outros países, queremos ser, e desejamos que eles sejam, amigos leais, mas não xifópagos!


[1] Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo, 30-8-2012.

[2] Xifópagos ou  irmãos-siameses: gêmeos que nasceram com os corpos ou alguns órgãos de ambos ligados por uma membrana.

[3] Eng e Chang Bunker, os irmãos siameses, nasceram no Sião (hoje Tailândia) em 1811. Eles  vieram ao mundo unidos por uma pequena membrana  de carne na região do peito. Até morrer ficaram ligados assim. Outros xifópagos dividem algum órgão interno.

[4] O romancista Mark Twain imagina, numa obra de ficção, que um deles bebia e os dois ficavam ébrios, o que parece que acontecia com certa frequência. Chang nesse caso, embora sóbrio, estaria “não moralmente, mas apenas fisicamente bêbado” (www.hannibal.net/twain/works/siamese_twins_1869/ index_pp.html, acessado em  20-2-2003).

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Leo Daniele

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