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Plinio Corrêa de Oliveira
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Direita? Esquerda? Que quer isso dizer, afinal?


Que significa ser “de direita” ou ser “de esquerda”? Aparentemente pouco ou nada; seria uma espécie de gíria, um termo destinado à xingação da outra parte, mas na realidade com pouco conteúdo. “Para muitos, os vocábulos ‘direita’ e ‘esquerda’ perderam qualquer valor como rótulos qualificativos de atitudes ideológicas, culturais ou morais. Sem embargo, continuam palavras de uso corrente, o que parece demonstrar que, no âmago delas, há  algo de realmente substancioso”.[1]

Não vimos, por exemplo, Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), portanto tipicamente de esquerda, e até de extrema esquerda, adotar em relação ao Código Florestal atitude semelhante à dos ruralistas, que são entretanto considerados de direita? Uma baralhada de termos total…

Quando acontecem tais confusões, é sempre útil saber como as palavras em questão nasceram, e ir às origens do sentido atual. Se o fizermos, no caso veremos coisas interessantes.

Há mais de duzentos anos, ocorreu um dos acontecimentos mais marcantes da História humana: a Revolução Francesa. O lema desta revolução, “liberdade, igualdade, fraternidade”, paira de maneira geral acima de todas as esquerdas.

Foi então que surgiram os termos direita e esquerda. Pois o grupo que ocupava os assentos da esquerda da Assembléia Constituinte apoiavam as mudanças radicais da Revolução, incluindo a criação de uma república, e simetricamente, os da direita se lhes opunham.

Mais especificamente, em 28 de agosto de 1789, os deputados adversários do direito de veto do rei sentaram-se à esquerda do assento do presidente, iniciando-se o costume dos deputados radicais se identificarem com essa posição.

Em face da trilogia da Revolução Francesa ‒ liberdade, igualdade, fraternidade ‒ “o esquerdista perfeito e acabado se define como aquele que pleiteia uma liberdade total, uma igualdade total e uma fraternidade também total. Em tal concepção, a meta última é uma sociedade ’anárquica’, em que sejam abolidas todas as desigualdades”.

“Anarquia”, no sentido etimológico e radical da palavra, procede do grego “an”, privativo, e “arch”, governo).  Temos então um ponto de referência consistente para saber o que é  um esquerdista.  “Será  tanto mais esquerdista, ou menos, quanto mais se aproxime ou se distancie do “an-arquismo ” total.

O direitismo, pelo contrário, afirma que Deus criou os seres desiguais, e assim a verdadeira justiça está  numa sociedade humana hierarquizada, em que as desigualdades sejam harmônicas e proporcionadas […]. O direitismo afirma, pois, que em si mesma a desigualdade não é injusta. Que, em um universo no qual Deus criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a injustiça é a imposição de uma ordem de coisas que Deus, por altíssimas razões, fez desigual.[2]  Assim, a justiça está  na desigualdade” (Plinio Corrêa de Oliveira).

Mas esse padrão de direitismo não é a desigualdade absoluta, simétrica e oposta à igualdade absoluta, mas a desigualdade harmônica, convém insistir.  Quanto mais uma doutrina for contrária à trilogia de 1789 e se aproximar desse padrão de desigualdades harmônicas e proporcionadas, tanto mais será direitista.

Outros “direitistas” fizeram por sua vez concessões ao espírito igualitário, porque estavam eles próprios infiltrados pelos princípios revolucionários que combatiam.  Ou ainda por tática política, isto é, para a conquista e conservação do poder.  Haja vista o cunho socialista oficial do fascismo e do nazismo.

Por tudo isto, o vocábulo “direita” não alcançou na linguagem corrente, um sentido tão claro quanto “esquerda”, e tem servido para designar não só o verdadeiro direitismo de inspiração cristã: sacral, hierárquico e harmônico.

Este artigo se inspirou em esclarecedora matéria de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira, considerado por um intelectual italiano, Giovanni Cantoni, como “o teólogo das desigualdades sociais”.[3]


[1] Plinio Corrêa de Oliveira,  Jornal da Tarde (São Paulo), 9-6-79.

[2] Cfr.  Mt. 25, 14-30; 1 Cor. 12, 28 a 31; S. Tomás, “Summa contra gentiles”, Livro LI,  Cap.  LXXVII.

[3] Publicada no Jornal da Tarde, de São Paulo, em 9-6-79.

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Leo Daniele

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