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Plinio Corrêa de Oliveira
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Em defesa das elites


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De cá e de lá ouve-se a seguinte opinião: a elite seria uma gangue de desocupados que está aí para explorar o povo. Reservatório de todos os vícios. Um bando de malfeitores conjugados para acumular, em proveito próprio, bens de toda ordem, culturais e materiais, que tocariam a todos. Só faltaria dizer que os réus do “mensalão” seriam da elite…

Ou então, morar num condomínio de luxo, como um que existe em Miami, nos Estados Unidos, no qual é possível estacionar o automóvel dentro do apartamento! É singular! Se fosse gente de verdadeira elite, não ocorreria isso, pois a verdadeira elite não é espalhafatosa.

Para o bastante conceituado dicionário Larousse, elite é o que há de melhor e de mais distinto. Segundo T. Bottomore[1] a palavra elite era usada durante o século XVIII para nomear produtos de qualidade excepcional. Posteriormente, seu emprego foi expandido para abarcar grupos sociais superiores, tais como as unidades militares de primeira linha ou os elementos mais altos da nobreza. Assim, de modo geral, o termo ‘elite’ designa um grupo saliente na sociedade ou um grupo localizado em uma camada hierárquica superior, em dada estratificação social.

Fala-se em elites econômicas e políticas; estas sabem (??) se defender por si. Mas, propriamente, a palavra “elites” indica coisa diversa: algo de social, com perfume de tradição, de distinção, de finura. Podem ter dinheiro, mas não é uma questão de dinheiro.

O certo é que a natureza humana pede a formação de lideranças. Se determinado grupo de homens fosse deixado em uma ilha deserta, e sem contato com o resto da população, logo ter-se-ia instituído uma liderança rudimentar. Havendo distinção, idealismo, desinteresse e dedicação continuada ao bem comum, poderia surgir uma elite. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, a respeito, um livro fundamental, muito traduzido, muito estudado, muito apreciado, intitulado “Nobreza e Elites Tradicionais Análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana”[2].

O homem de elite,‒ seja qual for o tipo ao qual pertence essa elite ‒ tem a principal responsabilidade, ou a principal missão de se dar a si mesmo ao bem comum. Essa doação de si mesmo ao bem comum consiste em que ele tenha o conceito claro sobre o que a elite deve fazer.[3]

Uma senhora que quase não aparece em sociedade, mas muito fina, bondosa e de grande família, pode pertencer a uma elite mesmo sem participar de atividade visível em prol do bem comum. Nada fazendo, mas sendo. Ela está se dando ao bem comum, através de sua família. E é uma grande coisa!

Continua Dr. Plinio: A elite deve convidar a seus membros a adaptar suas vidas a um princípio do poeta francês Paul Claudel. Disse Claudel sobre a juventude que ela foi feita não para o prazer, mas para o heroísmo. Também se pode, principalmente se deve dizer o mesmo, da elite. Os bens de fortuna e o prestígio social não foram dados aos membros da elite principalmente para seu prazer, mas para o heroísmo, para que os ajudem a ter a elevação de alma necessária para uma abnegação completa de suas vidas[4].

Há um prognóstico nada igualitário para a América Latina, no firmamento da História:

Há uma lição da História que é de suma importância para todos os que refletem sobre o futuro da América Latina. Essa lição é que os países que dispõem de uma elite que tenha a consciência de sua responsabilidade, são países que sobem no firmamento da História e realizam brilhantemente sua missão. Porém, ao contrário, as nações cujas elites não têm a consciência de sua responsabilidade e de sua missão, de uma maneira inevitável fracassam e se precipitam nas grandes catástrofes da História.[5]

Por que então a palavra elite tem para alguns uma ressonância antipática? Seria simplificar indevidamente a resposta dizer que isto acontece porque há elementos de elite que procedem mal, porque isto existe em todas as classes sociais. A verdadeira resposta é a existência de um preconceito igualitário que existe no fundo de certas almas, através do qual se vê a palavra elite de maneira pejorativa. Uma verdadeira ‒ e perniciosa ‒ “elitofobia”, paralela à cristianofobia. Bem expressa no primeiro parágrafo deste artigo.

O tema é vasto mas o espaço é curto. Voltarei eventualmente ao assunto.


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Elite_(sociologia), acessado em 21-8-12

[2] Livraria Civilização Editora, Porto, 1993, com traduções para o inglês, francês, alemão, italiano, espanhol.

[3] Conferência pronunciada em Buenos Aires em 6-5-68.

[4] Conferência pronunciada em Buenos Aires em 6-5-68.

[5] Conferência pronunciada em Buenos Aires em 6-5-68.

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Leo Daniele

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