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Plinio Corrêa de Oliveira
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Papa Francisco e a Venezuela – parte 1


Publicamos a seguir um trecho do 2º capitulo do livro A “mudança de paradigma” do Papa Francisco – Continuidade ou ruptura na missão da Igreja?   em um dos títulos desse capitulo é tratado sobre a relação do Papa Francisco com a Venezuela.

Capítulo 2

Promoção da agenda neomarxista e altermundialista
dos “movimentos sociais”

Para a doutrina católica, o comunismo é “intrinsecamente perverso”[*]. Porém, movimentos marxistas e regimes de esquerda do mundo inteiro veem no Papa Francisco um ponto de referência. O atual pontífice tem-se de fato mostrado muito próximo das reivindicações desses grupos ou governos. A despeito dos resultados desastrosos do “socialismo real” por exemplo, o martírio de muitos cristãos e a difusão da miséria e de seu caráter antinatural, Francisco tem afirmado várias vezes que o comunismo roubou a bandeira do Cristianismo na luta a favor dos pobres, dando a impressão de que se trata de uma ideia que, afinal de contas, é bem intencionada. E a geopolítica vaticana parece hoje cultivar um relacionamento privilegiado com regimes que da Venezuela até a China se inspiram mais ou menos diretamente no socialismo real, qualificado no pontificado de João Paulo II de “vergonha de nosso tempo” pelo então cardeal Joseph Ratzinger no célebre documento “Libertatis Nuntius”, o qual condenava a Teologia da Libertação.

[…]

Venezuela: salvando a vida do regime e dando as costas ao Episcopado

Igualmente surpreendente tem sido sua atitude com relação à Venezuela. Hugo Chávez, o patrocinador do “Socialismo do século XXI”, faleceu na mesma semana em que o Papa Francisco foi eleito. Até então, a posição diplomática da Santa Sé era de claro apoio aos bispos da Venezuela na defesa da Igreja contra a hostilidade do regime chavista. Mas tal posição mudou, apesar de a situação econômica e social piorar sob Maduro, especialmente após a miséria e os protestos se alastrarem por todo o território.

Manifestantes venezuelanos enfrentando a policia, nos escudos eles usam a Imagem de Nossa Senhora de Coromoto e a cruz de São Jorge

Desde fevereiro de 2014 os multitudinários protestos nas ruas têm sido quase contínuos e já provocaram centenas de mortos, sobretudo de jovens manifestantes assassinados pelas milícias chavistas. Como explicou o cardeal Jorge Urosa, arcebispo de Caracas, durante uma visita a Roma em fevereiro de 2015, “um dos principais problemas é que o governo quer instaurar um sistema político totalitário, marxista-comunista, que é a causa de todas as dificuldades que estamos vivendo”[1].

Apesar disso, em duas ocasiões em que o governo estava particularmente fragilizado e convocou para uma “mesa de diálogo”, o Vaticano lhe prestou o seu concurso: em abril de 2014, enviando Dom Aldo Giordano, Núncio Apostólico em Caracas, como testemunha, atendendo a um pedido ingênuo de um setor da oposição; e em outubro de 2016, ao receber Maduro no Vaticano, aonde fora solicitar a mediação do Papa Francisco — enquanto ocorriam manifestações multitudinárias na Venezuela e após a Assembleia Nacional ter declarado que ele tinha dado um golpe de Estado. Tal mediação se efetivou sob a presidência de um enviado especial do Papa, o arcebispo Emil Paul Tscherrig. Porém, menos de três meses depois, um reputado analista argentino de assuntos ibero-americanos, Andrés Oppenheimer, escreveu na sua coluna do El Nuevo Herald, de Miami: “O esforço de mediação do Vaticano foi um desastre. Legitimou o governante autoritário desse país, Nicolás Maduro, jogando-lhe um salva-vidas quando milhões de manifestantes exigiam nas ruas a sua renúncia, em outubro de 2016. E permitiu a Maduro ganhar tempo, fortalecer-se e reprimir ainda mais a oposição”. E concluiu: “É hora de pôr fim a este drama. E o Papa Francisco deveria dar o primeiro passo, deixando de ser um obstáculo à pressão coletiva com vistas à restauração da democracia na Venezuela”[2].

cardeal Urosa que foi agredido pelos “colectivos” chavistas

A paciente benevolência do Vaticano em relação ao regime totalitário de Maduro atingiu seu clímax na Semana Santa de 2017, quando os “colectivos” chavistas invadiram e interromperam a Missa crismal celebrada pelo cardeal Urosa na catedral de Caracas, gritando ameaças e agredindo fisicamente o celebrante. Na ocasião, o Papa Francisco e a Secretaria de Estado não publicaram nenhuma declaração oficial de repúdio à sacrílega agressão, nem de solidariedade à vítima. O pontífice nem sequer mencionou o sofrido povo venezuelano na sua mensagem Urbi et Orbi, alguns dias depois[3].

Pior ainda, na viagem de regresso do Egito, na habitual conferência aérea de imprensa, ele indiretamente atribuiu à oposição venezuelana uma ponderável responsabilidade pelo fracasso dos esforços de pacificação: “Houve uma intervenção da Santa Sé e… não resultou. Ficou-se por aí. Não resultou porque as propostas não eram aceitas: ou se esbatiam, ou havia um ‘sim, sim’ que depois era um ‘não, não’… […] E sei que agora estão insistindo […] para se relançar esta facilitação; […] Eu creio que tem de partir já com condições; condições muito claras. Parte da oposição não quer isto: é curioso, que a própria oposição está dividida[4].

Esse equilibrismo entre governo e oposição provocou a seguinte reação de Alberto Ruiz-Gallardón, ex-ministro de Justiça da Espanha: “Com imensa dor, incluo o Vaticano na minha queixa pela equidistância entre vítimas e verdugos. […] Os bispos venezuelanos têm sidos heróis diante do tirano. Mas Roma tem abordado o tema como se se tratasse de uma disputa de limites territoriais”[5].

 

Continua no próximo post: Papa Francisco e a Venezuela – parte 2 – Nota dos bispos da Venezuela e a carta do Papa

* * *

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Ele pode ser lido na integra na pagina: https://ipco.org.br/a-mudanca-de-paradigma/


Notas:

[*] “O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã. E, se alguns, induzidos em erro, cooperassem para a vitória do comunismo no seu país, seriam os primeiros a cair como vítimas do seu erro” (Pio XI, encíclica Divini Redemptoris, n° 58, https://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19370319_divini-redemptoris.html)

 

[1] https://www.aciprensa.com/noticias/cardenal-urosa-totalitarismo-marxista-comunista-trajo-la-crisis-a-venezuela-83288/

[2] http://www.elnuevoherald.com/opinion-es/opin-col-blogs/andres-oppenheimer-es/article131574119.html

[3] https://cruxnow.com/global-church/2017/04/24/time-francis-vatican-get-tough-venezuela/

[4] http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2017/april/documents/papa-francesco_20170429_egitto-volo.html

[5] http://www.elmundo.es/opinion/2017/08/02/5980d07246163f58278b4643.html

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Autor

José Antonio Ureta

José Antonio Ureta

37 artigos

Chileno, membro fundador da "Fundación Roma", uma das organizações chilenas pró-vida e pró-família mais influentes; Pesquisador e membro da "Société Française pour la Défense de la Tradition, Famille et Propriété"; colaborador da revista Catolicismo e do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e autor do livro: "A mudança de paradigma do Papa Francisco: continuidade ou ruptura na missão da Igreja? Relatório de cinco anos do seu pontificado".

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