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Plinio Corrêa de Oliveira
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Manipulando a morte


Já faz dias que venho tentando digerir um conjunto de notícias com que me deparei. No caudal de informações com as quais temos contato diariamente, uma notícia que fica estancada acaba por atrapalhar o fluxo normal da análise dos acontecimentos. Tento esquecer o assunto, mas logo ele volta à carga.

Explico-me. Por ocasião do dia de finados, data da comemoração, na Igreja, de “todos os fiéis defuntos”, alguns jornais trouxeram notícias sobre a prática da cremação. Até aí, nada de novo. A novidade (talvez não tão nova para alguns) é que artistas estão criando métodos para transformar as cinzas em “obras de arte”. Eis as notícias:

– Em São Paulo, uma artista cobra de três a quatro mil reais para transformar o que restou do cadáver em uma tela com motivo escolhido pelo “cliente”, ou por sua família. “Comecei – afirma a artista – quando passei perto de um cemitério e vi que poderia criar algo que imortalizasse as pessoas” (Folha de São Paulo, 2/11/11);

– Em Curitiba, artistas ofereceram a algumas famílias um programa alternativo. Em vez da missa de finados, estas puderam “relembrar seus mortos” imortalizados em esculturas produzidas a partir das cinzas dos defuntos (Época, 29/10/11);

– Do outro lado do mundo, na Coréia do Sul, um cientista desenvolveu um método para transformar o resultado da cremação em pequenos cristais coloridos. “Sempre que olho para as pedrinhas, considero que elas são meu pai e lembro-me dos bons dias passados com ele”, declarou um professor aposentado que testou o método (G1, 14/11/11).

Estupefato ante o inusitado das invenções, e ainda mais tomado pelas sensações de pasmo causadas pelos vídeos e fotos que acompanhavam as notícias, resolvi pesquisar a posição da Igreja face ao tema da cremação.

Em todos os tempos, a Igreja aconselhou o sepultamento dos mortos, como herança judaica do Antigo Testamento baseada em diversas passagens das Sagradas Escrituras. Em termos jurídicos, já o Código de Direito Canônico de 1918, promulgado por Bento XV, prescrevia a privação de exéquias eclesiásticas às pessoas que tivessem “escolhido a cremação do seu corpo” (Can. 1240, 5º). O Código de 1983 manteve o preceito, apenas ressalvando que a escolha da cremação seja feita “por motivos contrários à fé cristã” (Can. 1184, 2º).

Tenho minhas dúvidas sobre se grande parte das cremações hoje feitas, sobretudo por grandes expoentes midiáticos, não sejam “por motivos contrários à fé cristã”. Deus julgará.

Agora, quanto a transformar as cinzas em “arte”… Continuo a remoer esse dado. Confesso que ver um quadro sendo pintado com cinzas, ou uma escultura sendo modelada com os restos de um cadáver, produziu em mim calafrios.

Uma conclusão, ainda titubeante, a que consegui chegar foi a seguinte: tudo isso vem sendo feito no sentido de apagar da mente das pessoas a imagem da morte como uma tragédia. Se é verdade que pode ser uma passagem para uma eternidade feliz, também o é que pode significar o começo da infelicidade eterna.

“Medita nos teus novíssimos [morte, juízo, inferno e paraíso] e não pecarás eternamente” – é o conselho da Escritura. Não quereria o demônio evitar essa salutar meditação, extinguindo das mentes o caráter trágico da morte?

Talvez alguém possa me ajudar a resolver esse problema…

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Guilherme Martins

Guilherme Martins

22 artigos

Colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.

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