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Plinio Corrêa de Oliveira
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O chinês mais rico do mundo


Jack Ma é o chinês mais rico do mundo, afirmam notícias de há pouco; asseveram, depois de 2014, pela primeira vez, ele voltou a estar no topo. De qualquer forma, há anos figura sempre entre os cinco chineses mais ricos. Sabemos, é instável a posição em tais listas, sobe e desce ao sabor das cotações nas bolsas. Na tabela da “Forbes” para 2018 que consultei na rede, Jack Ma aparece como o segundo, 20º na classificação mundial, com patrimônio de 39 bilhões de dólares.

Posso considerar, para efeitos deste artigo, Jack Ma como o chinês mais rico da Terra. Grande símbolo midiático, ninguém mais que ele representa o capitalismo chinês, do qual é apresentado como o mais fulgurante ícone. Nasceu em 1964, muito menino presenciou a Revolução Cultural na China que foi de 1966 a 1976.

A fortuna de Jack Ma tem como base o site de e-comércio Alibaba, fundado pelo magnata em 1999, num quarto do apartamento em que morava. Hoje, sociedade anônima, da qual possui 9% das ações, o Alibaba tem 250 milhões de compradores ativos e é responsável por 60% do volume das entregas na China. Em setembro de 2018 Jack Ma anunciou que irá se retirar do dia-a-dia das operações de seu império econômico para se dedicar à filantropia. Abandona o proscênio principal, ponto final na carreira de executivo.

Vou virar a página. Dois meses depois do anúncio de Jack Ma, em 27 de novembro, o diário oficial do Partido Comunista Chinês (O Diário do Povo) anunciou que Jack Ma é membro do Partido Comunista Chinês (PCC), desmentindo alegações que circulavam de que o tycoon seria mero homem de negócios.

Por que o jornal do PCC de forma repentina e inesperada revelou o fato? As especulações variam, das principais falarei abaixo. A relação de 100 pessoas que ajudaram o processo de reformas e abertura promovido pelo PCC publicada por “O Diário do Povo” incluiu ainda Pony Ma (no rol da “Forbes”, acima mencionado, aparecia como o chinês mais rico do mundo e estava em 17º lugar entre os bilionários mundiais) e Robin Li, também bilionário chinês, mas a publicação comunista não declara serem ambos membros do PCC (dá a entender, claro). A reportagem de “O Diário do Povo” afirma que Jack Ma ajudou os objetivos do comunismo de muitas maneiras dentro da China, bem como em países da Ásia e da Europa.

Qual o motivo da revelação aparentemente extemporânea? A maior parte dos analistas de assuntos chineses propende a achar que a matéria de “O Diário do Povo”, aviso aos navegantes, faz parte de nova política do governo chinês que procura exercer maior controle sobre o setor privado. Recentemente o PCC determinou, toda empresa privada que tenha como empregados pelo menos três membros do PCC, com eles deve constituir uma célula (célula partidária) no seu interior. Se não tiver os três membros, devem os comunistas das empresas próximas se juntar até atingir o mínimo de três. E aí constituir a célula de fiscalização. A finalidade é “guiar e supervisionar a empresa para que cumpra estritamente todos os regulamentos e leis nacionais”. 75% das empresas privadas já estão aplicando a mencionada diretriz.

O PCC tem 89 milhões de membros num país de 1,4 bilhão de habitantes. Não custa lembrar, a situação da China assemelha-se em raiz à política posta em vigor por Lenine em 1921 (a Nova Política Econômica) que vigorou até 1928, quando Stalin a suprimiu. Comportava apoio ao capital estrangeiro, suspensão das desapropriações, estímulo à propriedade privada, práticas de mercado livre, formação de uma tecnocracia que dirigiria a economia. Os comunistas chineses não inventaram a roda.

Convém recordar seu mais importante documento, publicado recentemente, a constituição do PCC, em que expõe princípios e programa, aprovada em 24 de outubro de 2017 em congresso nacional. Trago abaixo pequenos extratos (em verdade, leninismo, o documento completo pode ser consultado com facilidade na rede). Reitero, é o que existe de mais moderno sobre o comunismo chinês: “O Partido Comunista da China é a vanguarda da classe operária chinesa, do povo chinês e da nação chinesa. O mais alto ideal do Partido e seu objetivo final é a realização do comunismo. O Partido Comunista Chinês utiliza o marxismo-leninismo, o pensamento de Mao Tsé Tung […] como guias para a ação. O marxismo-leninismo revela as leis que governam o desenvolvimento da história. O pensamento de Mao Tsé tung é a aplicação e desenvolvimento do marxismo-leninismo na China. Sob o pensamento de Mao Tsé Tung, o Partido Comunista Chinês dirigiu o povo chinês, fundou a República Popular da China, uma ditadura democrática do povo”.

Ao longo de 28 páginas, expõe princípios, a estratégia gradualista, as condições para ser membro do PCC. É documento minucioso, explicativo, ninguém vai poder alegar, o PCC não mostrou a que vinha e não avisou. Está tudo lá, princípios e estratégia, em letra de forma. Como Adolfo Hitler colocou tudo em letra de forma no “Mein Kampf”. E depois aplicou à Alemanha o que havia escrito no livro.

Outro nome para meu texto, talvez até mais apropriado, embora menos chamativo, seria circunspecção, olhar com atenção em torno de si. A cada dia, recebemos da realidade advertências novas, fatos inesperados que nos esbofeteiam como socos de Cassius Clay. Alguém imaginava que o chinês mais rico do mundo era comunista, seguia disciplinadamente a orientação da cúpula do PCC? Para todos os ingênuos e apressados, era tão-somente o modelo acabado do tycoon capitalista.

Não estou obcecado, procuro o contrário, que todos vejam (recordo outra etimologia, obcaecare, tornar cego, ob, à frente; ao fugir obstinadamente da realidade, muita gente se torna cega). Nem sou catastrofista. Estou agindo no rumo contrário, buscando evitar a catástrofe, e aí apontando a pirambeira no caminho. E nem vou repetir razões já por mim expressas vezes sem conta.

Acho que deve haver comércio com a China, é sensato aproveitar oportunidades comerciais, temos que considerar sempre necessidades e conveniências da economia brasileira, mas é imperioso, para mantermos de fato a soberania e possibilidades de futuro digno para filhos e netos que saiamos gradualmente da armadilha — dependência excessiva e suicida da economia chinesa —, fruto sobretudo da política entreguista do período lulopetista. Como? Em especial, martelo, fortalecendo laços econômicos com Estados Unidos, Japão e Europa. Sem o apoio dos Estados Unidos, muito dificilmente escaparemos da enrascada na qual nos metemos por dessiso, irreflexão e leviandade.

De novo, só reclamo circunspecção, olho aberto para o que acontece em torno de nós. A desatenção é autodestruidora, irá certamente nos atirar na condição vergonhosa, talvez não confessada, de protetorado chinês.

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Péricles Capanema

Péricles Capanema

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Analista político e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

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