Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Suaves Milagres de Jesus Menino


Conto de Natal“Entre Enganin e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva.” Assim começa o célebre conto de Eça de Queiroz, intitulado Suave Milagre, e ao filho aleijado dessa viúva vai a atenção do leitor.

“A criancinha pediu e pediu à mãe que lhe trouxesse Jesus, mas ela lhe explicou que nem Obed nem Públio Sétimo que eram homens ricos e poderosos o conseguiram.

“— Oh filho! E como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galileia? Obed é rico, e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebrom até o mar! Como queres que te deixe? 

“ — Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que O encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?
 
“A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:

“— Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!

“E a mãe, entre soluços:
 
“— Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi. Oh filho! talvez Jesus morresse… Nem mesmo os ricos e os fortes O encontram. O Céu O trouxe, o Céu O levou. E com Ele para sempre morreu a esperança dos tristes. 

“De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou: 

 
“— Mãe, eu queria ver Jesus…
 
“ E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:

“ — Aqui estou.

*       *       *

O que falta ao século XXI, tão roto, tão trôpego, tão triste, para obter por meio de Nossa Senhora graça semelhante à que teve o menino do conto? O que é preciso é reconhecer-se pequeno e roto, diante da grandeza de Quem que de alguma maneira vai nos atender, se pedirmos.

Observadas estas condições, também nos nossos tempos o milagre se repete. Mas um milagre de realidade total, e não de imaginação como o de Eça. Por exemplo na Hungria, durante o regime, comunista — nos últimos tempos desta chaga da Humanidade — naquele abençoado país católico. Gertrudes, a professora, ateia e provavelmente comunista, imaginou uma cilada para tornar suas alunas ateias: sugeriu que todas O chamassem. Se Ele existisse, Ele certamente viria, diante do brado das meninas. Como Ele não surgiria, seria uma prova de que Ele não existe.

O medo, a dúvida, por um momento jugulados, podiam renascer, mas o sentido da camaradagem deu o impulso, que as reuniu em torno daquela que se revelava ‘chefe’(Angela) e esperava o milagre. Tinham os olhos fixos, não na porta, por onde poderia entrar o Menino, mas na parede branca, em que se destacava a figurinha de Angela, e continuavam a repetir:

‘Vem, Menino Jesus! Vem, Menino Jesus!

“Nesse instante, a porta abriu-se sem ruído, e as crianças pensaram que toda a luz do dia entrava por ela. Era uma claridade intensíssima, que crescia, crescia como a chama violenta dum enorme fogo. No meio desse clarão, um globo cheio de luz. O medo invadiu-as , mas nem tiveram tempo para gritar ou fugir; o globo abriu-se e apareceu um Menino lindo e risonho como nunca tinham visto. O Menino sorria sem proferir uma palavra, e todas sorriram também, tranquilas e contentes. Algumas garotas esfregavam os olhos para melhor contemplarem o Menino vestido de luz, outros olhavam-no de olhos espantados, sem pestanejarem. O Menino sorria, não falava, sorria para todas.

“Depois, o globo fechou-se de mansinho, e desapareceu devagar. A porta fechou-se sem que ninguém lhe tocasse, e as crianças emocionadas, os coraçõezinhos inundados de felicidade, sem uma palavra abraçavam-se, a chorar de felicidade. O Menino as ouvira! O Menino viera!

“As crianças olhavam ainda a porta. Subitamente, um grito agudo quebrou a emoção desse silêncio. Aterrada, os olhos esgazeados, braços estendidos, mãos enclavinhadas, a professora gritava como louca:

“Ele veio! Ele apareceu!

“Em seguida fugiu, batendo com força a porta. A Sra. Gertrudes deu entrada em um manicômio”.

Isto se passou na paróquia do Pe. Norberto, o vigário dessa paróquia, que é quem narra o ocorrido. Testemunha da revolução anticomunista ocorrida em 1956, ele testifica a realidade destes acontecimentos, declarando sob juramento ter interrogado as meninas e não ter encontrado em suas palavras contradições.(*)

________________

(*) Retiramos os dados referentes aos maravilhosos acontecimentos da Hungria da revista Catolicismo, nº 756, de dezembro de 2013.

Detalhes do artigo

Autor

Leo Daniele

Leo Daniele

201 artigos

Categorias

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados