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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Suicídio e sociedade


Suicídio

Um amigo contou-me que uma colega sua de trabalho, moça bonita, bem apessoada, por volta de 30 anos, casada, com um filhinho de poucos meses, foi acometida de uma doença que a deixou inchada, sobretudo o rosto, que ficou avermelhado e com protuberâncias.

Mas o pior da história é que essa situação a lançou numa depressão profunda, tão profunda que a levou a atirar-se de um andar alto do edifício onde morava, morrendo instantaneamente.

O choque para a família, para os colegas de trabalho, para todos que a conheciam enfim, foi tremendo.

Não conheci essa moça, mas o fato me impressionou e passei a refletir sobre ele. Quantos suicídios vão ocorrendo nos dias de hoje!

Mais de um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano no mundo. Trata-se de uma das principais causas de morte entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade.(1) Projeções da Organização Mundial de Saude, com base em tendências do final do século XX, indicam que em 2020 haverá cerca de 1,53 milhão de suicídios; sendo que 10 a 20 vezes mais pessoas tentarão suicidar-se em todo o mundo.(2)

No Brasil, estimativas sugerem que ocorram 24 suicídios por dia, mas o número deve ser 20% maior, pois muitos casos não são registrados. A quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4.(3)

Normalmente é na juventude que a pessoa tem mais desejo de viver, tem planos, tem empreendimentos a realizar, tem ilusões. Por que pôr fim à vida? Por que essa falta de coragem de enfrentar as adversidades? Já se ouvem casos de suicídio infantil.

Os estudiosos que se debruçam sobre o assunto, de modo geral atribuem essa calamidade a fatores sociais. A sociedade moderna seria de molde a tornar as pessoas muito egoístas, cada um por si, faltando compreensão e apoio a quem dele precisa. O indivíduo sente-se sujeito à lei da selva.

Essa explicação tem muito de verdadeira, mas ela precisa ir até o fundo do problema para ser inteiramente aceitável.

O Antigo Regime, como era designada a sociedade anterior à Revolução Francesa, tinha uma concepção profundamente familiar da sociedade. Os indivíduos existiam dentro das famílias, fossem elas nobres ou plebeias. É ali que eles se formavam para a vida quando crianças, recebiam os estímulos para um desenvolvimento reto da personalidade quando jovens, apoio quando adultos e proteção quando as cãs lhes cobriam as cabeças e as forças diminuíam. Na família eles eram compreendidos e amados durante toda a sua existência. Tudo sob o signo da Religião e da paz de alma, nas alegrias como nas adversidades.

Com a Revolução Francesa veio a era moderna, com seu individualismo e suas liberdades. Progressivamente foram sendo implantados o divórcio, os anticoncepcionais, o aborto, as leis permissivas de todo gênero. A família monogâmica e indissolúvel, fruto do sacramento e das bênçãos da Igreja, implodiu e cada um de seus elementos foi jogado para um lado. Crianças, para as creches; jovens, para os pseudo-prazeres da sexualidade, do rock, do funk; adultos, para a disputa acirrada pela subsistência; velhos, para os asilos.

Nesse entretempo, o clero, com honrosas exceções, também foi se modernizando. As igrejas, outrora templos da adoração a Deus, mas também de consolo, de perdão, de cura das feridas morais, em muitos casos se distinguem pouco de um circo, onde vale tudo.

Como estranhar que o número de suicídios cresça assustadoramente?

______________________

Notas:

  1. http://www.rferl.org/content/article/1071203.html
  2. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1489848/
  3. Julliane Silveira, in Folha de S. Paulo, 18-3-2010

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Autor

Gregorio Vivanco Lopes

Gregorio Vivanco Lopes

173 artigos

Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

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