A festa da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é a mais importante do ciclo litúrgico, ainda mais que a do Natal pois, como diz São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Cor 15, 14).
Já a solene missa da Vigília Pascal canta a alegria da Ressurreição. Ao canto do Glória, tocam novamente os sinos e o órgão, que se tinham calado desde a Quinta Feira Santa, seguido pela tríplice entonação do Aleluia, cantado pelo celebrante e repetido pela assembléia dos fiéis.
A ressurreição de Cristo Jesus é o seu mais estupendo milagre, o fato mais glorioso de sua existência humana, a prova mais luminosa de sua divindade. É a base ou pedra angular de nossa fé. A ressurreição tem seu coroamento na ascensão, e alcançará seu triunfo completo no Juízo Universal.
A Páscoa, celebrando a vitória de Cristo e de seus fiéis sobre a morte e o pecado, representa a passagem das almas do estado de culpa à condição de filhos amados de Deus. Está intimamente coligada com o santo Batismo, o qual não só é figura dessa vitória e passagem, mas a efetua, conferindo a vida espiritual da graça.
Por isso o tempo da Páscoa deve lembrar-nos as exigências morais da vida nova adquirida no Batismo , que se assentam no princípio enunciado por São Paulo: ressuscitado com Cristo, o cristão levanta as suas aspirações para o Céu, para desprender-se das satisfações terrenas, e saborear as coisas do alto.
Caberá ao Espírito Santo acabar de formar no batizado “o homem novo” que, pela santidade de vida, será testemunha de Cristo ressuscitado.
Também neste dia:
Santo Anselmo de Cantuária, bispo, confessor e Doutor da Igreja
Considerado o primeiro teólogo-filósofo, muitos de seus ensinamentos e textos passaram para o ensino comum da Igreja. Arcebispo de Cantuária, lutou denodadamente pelos direitos de sua Sé contra a prepotência dos reis ingleses.
Anselmo nasceu em Aosta, na Itália, filho do nobre Gondulfo e da piedosa Ermenberga, verdadeira matrona cristã. Formado na escola da mãe, entregou-se cedo à virtude e, segundo seu primeiro biógrafo, era amado por todos, tendo muito sucesso nos estudos. Bons tempos aqueles em que as pessoas virtuosas eram amadas, e não perseguidas.
Aos quinze anos Anselmo já se preocupava com altas questões metafísicas e teológicas, e quis entrar num mosteiro. Mas os monges negaram-lhe a entrada por medo de desagradar seu pai.
Tendo que ficar no mundo, o rapaz entregou-se aos poucos aos seus prazeres, só não chegando a excessos por amor à sua mãe, a quem não queria desagradar. Mas essa âncora, que ainda evitava que ele se afogasse no mar do mundo, faltou-lhe. Com seu falecimento quando Anselmo tinha vinte anos, seu pai, tornou-se mal-humorado e violento, maltratando freqüentemente o filho.
Anselmo resolveu então fugir de casa, acompanhado por um servo. Vagou pela Itália e pela França, conheceu a fome e a fadiga, até que chegou ao mosteiro de Bec, onde havia a escola mais afamada do século XI, dirigida por seu famoso conterrâneo, Lanfranco.
Anselmo tornou-se seu discípulo e amigo, e entregou-se então vorazmente ao estudo, esquecendo-se às vezes até das refeições e recreação. Seus progressos eram tão admiráveis quanto sua amabilidade, e logo passou por um prodígio de saber, piedade e virtude, o que levava seus condiscípulos a crer que já fazia milagres.
Em 1066 foi eleito abade de Bec. E aqui seu primeiro biógrafo, Eadmer, conta a pitoresca e comovente cena, típica da Idade Média: o eleito abade prosterna-se diante de seus irmãos pedindo-lhes com lágrimas, que não o onerem com aquele fardo, enquanto que os irmãos, também prosternados, insistem com ele em que aceite o ofício.
Sob sua direção, Bec alcançou sua maior celebridade, sendo para a Normandia e Inglaterra o que Cluny era para a Borgonha, França e Itália
O amável abade tinha uma figura imponente e majestosa, sempre serena. A calma era um dos seus traços característico.
Era entretanto também um lutador: enquanto luta com os senhores da região em defesa de seu mosteiro, defende a pureza da fé contra Berengário, discute com os hereges, e confunde o racionalista Roscelino.
Ora, Anselmo, que já havia sucedido Lanfranco como abade de Bec, foi escolhido pelo povo para suceder o primeiro, à sua morte, na sé de Cantuária, na Inglaterra.
Ocorreu então outra cena que só podia acontecer naqueles tempos de fé: “ele [Anselmo] foi arrastado a força até o lado do leito do Rei, que estava doente mas devia confirmar sua eleição, um báculo foi-lhe enfiado na mão fechada, e o Te Deum foi cantado”. Assim, contra sua vontade Anselmo foi feito arcebispo de Cantuária.
Entretanto, o arrependimento do rei, foi-se com a doença. Apenas restabelecido, ele tentou dobrar o Arcebispo, que se opusera à alienação das terras da arquidiocese em favor de apaniguados do monarca. Começou então uma verdadeira batalha entre altar e trono. Anselmo preferiu exilar-se para o Continente antes que ceder nos princípios.
É preciso dizer que essa tendência absolutista dos soberanos ingleses manifestar-se-á, no século seguinte, com o martírio de São Tomás Becket e, no século XVI, com o cisma de Henrique VIII.
Na véspera da morte de Santo Anselmo, esse homem fecundo, sempre em elucubrações metafísicas e teológicas, lamentava que não tivesse tido tempo para escrever um tratado sobre a origem da alma, tema sobre o qual havia meditado constantemente.
Enfim, carregado de anos e de virtude, o santo faleceu no dia 21 de abril de 1109, sendo canonizado pelo Papa Alexandre III.