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Plinio Corrêa de Oliveira
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A ignorância é pior do que a cegueira


Carlos Vitor Valiense

A ignorância, do latim ignorantia, no estrito sentido da palavra, tem um significado muito abrangente. Morfologicamente falando, classifica-se tanto como substantivo, quanto como adjetivo de dois gêneros. O vocábulo é utilizado para caracterizar um individuo que ignora que não tem instrução alguma, que possui uma estupidez, tolice, ineptidão ou uma imbecilidade que revela uma falta de saber ou desconhecimento.

Haussler, Franz (b,1845)- Flowers for Grandmother, 1874

Não raramente se escuta os inúmeros ditos populares que resumem ou coincidem com certas situações que todos passam no decorrer da vida. Certa feita, escutei de minha avó, uma senhora nonagenária, matriarca da minha família paterna, que de forma muito sábia, olhando-me com seus pequenos olhos e um semblante que me inspirava confiança, disse-me: – “Meu neto, lembre-se que a Ignorância é pior do que a cegueira”. No momento, não me atentei para o que ela me falara, contudo, a experiência de uma senhora com pós-doutorado na universidade da vida lhe possibilitara chegar a uma conclusão que certamente, na naquela ocasião, eu não teria. “A ignorância torna-nos cegos!”.

Dentre as sete Obras de Misericórdia Espirituais (crf. Catecismo da Igreja Católica, n.2447), uma que os Católicos devem prezar e colocar em prática é ensinar os ignorantes. A Igreja, na historia da humanidade, sempre foi a portadora do Saber e da Verdade, e sempre exerceu, com grande prontidão e maestria, o seu múnus de instruir e de levar as almas ao caminho uno da salvação. Como católicos fiéis, aquilo que é ensinado pela Igreja, deve, também, ser passado àqueles que se encontram na ignorância.

No decorrer dos tempos, surgiram homens inspirados pelo ideal da busca por uma vida que aparteasse as trevas da ignorância. Primeiramente, as trevas que tinham e, em seguida, a dos que acorressem a eles. Resolveram dedicar-se à vida intelectual, à busca pelo conhecimento e pelo elevado, à busca pela sabedoria. Uma busca que os levaria a conhecer a Verdade.

Plinio Corrêa de Oliveira, grande pensador Católico do século XX, aconselhando a um rapaz que se sentia chamado à vida intelectual, disse: “para quem tem a vocação dos estudos filosóficos, a perfeição espiritual se chama paixão da verdade. Para nós, católicos, a verdade não é apenas uma questão epistemológica ou metafísica, é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus que se encarnou para nos salvar”. Desse princípio, uma das consequências que se pode extrair para um jovem católico que deseja se dedicar aos estudos filosóficos é a de que “não deve haver distinção entre a sua vida espiritual e a sua vida intelectual. Uma vez que você diz querer em tudo fazer a vontade de Deus e, se julga com vocação para os estudos filosóficos, então não se preocupe com o futuro, nem como haja de ganhar a vida: cumpra conscienciosamente os seus deveres e espere a Providência. Tenha confiança, Deus não esquece aqueles que O servem”. [1]

São Tomás de Aquino

Os grandes intelectuais sempre fizeram do estudo um elã da oração e assim vice-versa. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, ressalta o pensamento acima apontado pelo Dr. Plínio, uma vez que este é seguidor daquele, com uma frase breve: “Orationi uacare non desinas”: nunca deixes de orar. O grande Doutor da Igreja dizia que o homem nasce com uma dupla obscuridade: o pecado e a ignorância. Perdurar na ignorância, podendo conhecer a Verdade, é um grande pecado!

­­­­No esplendido livro A vida intelectual, do Pe. Antonin Gilbert Sertillanges, no seu primeiro capítulo, explana sobre o tema Vocação Intelectual. “Falar de vocação equivale a designar os que pretendem fazer do trabalho intelectual a sua vida, ou porque dispõem de vagar para se entregarem ao estudo […] Os atletas da inteligência, Como os atletas do desporto, têm de prever privações, longos treinos e tenacidade por vezes sobre-humana. Precisam de se dar de alma e coração à conquista da verdade, visto que a verdade só presta serviços a quem a serve. […] A vocação intelectual é como as demais vocações: está inscrita nos nossos instintos, nas nossas capacidades, em um não sei que entusiasmo interior sujeito ao exame da razão. […] O Estudo duma vocação intelectual comporta, além da vantagem incalculável de o homem se realizar plenamente a si próprio, um interesse geral a que ninguém pode renunciar.[2]

A vocação de dissipar a ignorância é árdua, custosa e longa. Para que possa ser exercida com frutuosidade, é necessário responder o vocare que todos racionais são chamados, ou seja, trilhar um caminho árduo.

Razão e ignorância, Verdade e subjetivismos, são opostos absolutos. E as pessoas temem tudo que pode ser absoluto, principalmente uma Verdade Absoluta. Eis que podemos ver aqui o maior déficit de Karl Marx ao dizer que “a religião é o ópio do povo”.

Declarar-se contra a religião é demonstrar fraqueza diante do que ela traz. “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida”. Logo, calar, ou tentar calar, a Igreja é calar a Verdade Absoluta que somente por meio dela recebemos. Verdade essa que afasta as trevas da ignorância, possibilitando, ao homem, regenerar-se das trevas passadas.

É fácil constatar a deturpação da intelectualidade, principalmente com a influência politico-doutrinaria do Marxismo. Ele, de certa forma, soube atacar um órgão vital para a sociedade, a sua formação intelectual e educacional. Vale ressaltar que, para essa corrente ideológica, a religião é ópio povo, logo aqueles que dela provem, representam um risco enorme para a estruturação doutrinaria-esquerdista.

Se a intelectualidade é uma vocação, em meio a esse despautério de intelectuais gramscistas, os autênticos vocacionados lutam e se manifestam contrários a essa avalanche da Ignorantia.

Arrematando este curto assunto, que proporciona uma verdadeira enciclopédia, pode-se ver que as palavras que como: ignorância, cegueira intelectual e Verdade, de forma providente, foram aqui elencadas para demonstrar o seu objetivo central: “a ignorância torna-nos cegos!”. A cegueira que impede o homem de fitar os olhos em sua vocação de ser racional: a vocação a uma verdadeira vida intelectual, que deve ser firmada na vida espiritual, uma busca árdua e constante em prol da Verdade Absoluta. Somos imagem e semelhança de um Deus que é a própria Verdade, logo devemos ensejar e buscá-la hodiernamente – buscar a verdade é encontrar Deus.  O mundo moderno conspira para o sufocamento desta vocação e somente quando formos capazes de dissipar obscuridade vindoura da ignorância, teremos forças contrarrevolucionarias para restaurar a verdadeira vida intelectual.

[1] Disponível em: .

[2] Disponível em: .

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