A epopeia da Caravana do IPCO no Rio Grande do Sul

Por: João Pedro Bissoli

De: um caravanista de São Paulo.

Para: todos os brasileiros interessados num relato atual da situação dos flagelados no Rio Grande do Sul e da primeira metade da Caravana Terra de Santa Cruz.

Introdução

No primeiro dia deste mês de julho, começamos uma epopeia que nos tirou do conforto de nossos lares em direção ao Rio Grande do Sul. Nosso objetivo: distribuir 50.000 medalhas milagrosas, principalmente nos abrigos e nas regiões mais afetadas pelas enchentes. Como um caravanista do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO), compartilho nossa experiência com vocês, brasileiros interessados em um relato não ideologizado da situação dos flagelados no Rio Grande do Sul.

A Partida e a Jornada

Parti de São Paulo, capital, para me encontrar com cerca de 35 caravanistas de diversas origens: Brasília, Curitiba, Minas Gerais, Tocantins, Bahia, Ceará, entre outros.

Nos primeiros 10 dias, atravessamos os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, enfrentamos sol e chuva, frio e calor, dormindo em temperaturas que variavam entre 30ºC a 4ºC!

Mesmo os caravanistas mais veteranos tiveram dificuldades com a brutal mudança de temperatura. O frio nos pegou de jeito, alguns tiveram que comprar para si e para outros o material básico, como cobertores, cachecóis e meias térmicas.

Durante as campanhas, diante de nossos olhos, revelava-se o Brasil profundo, com suas características únicas nos povos das mais variadas origens, mas todos eles interessados em ajudar o próximo.

A Realidade no Rio Grande do Sul

Estamos há uma semana no Rio Grande do Sul, testemunhando cenas e fatos que a mídia jamais mostrará. A distribuição das 50.000 medalhas milagrosas trouxe grande esperança e fé, especialmente em bairros que mais pareciam zonas devastadas por uma guerra terrível. Um dos voluntários, olhando ao redor, comentou que se imaginava na Ucrânia, tamanha era a destruição.

E a população? Quanto mais atingida pelos desastres, mais grata se mostrava com nossa presença. Encontramos pessoas que perderam muito, mas ainda insistiam em nos dar algum pequeno donativo para ajudar com a gasolina, oferta que obviamente negávamos. Travamos contato também com pessoas que passaram ilesas pela tragédia, mas nos receberam com grande compaixão também. No entanto, também encontramos indiferença em alguns bairros vizinhos ou próximos, onde as pessoas não se importavam ou tratavam com desdém o socorro que trazíamos, principalmente por ser de natureza espiritual.

A Importância da Missão

É nesses momentos que percebemos a urgência e a necessidade de continuar nossa missão. Essa tarefa só é possível graças ao auxílio de pessoas distantes, que aparecem como anjos no momento certo, garantindo-nos um almoço ou um tanque de gasolina.

Entre nós, caravanistas, é unânime a percepção de que dia após dia testemunhamos milagres. Como cerca de 30 jovens, sem dinheiro, sem lugar certo para dormir e sem grandes benfeitores, conseguimos permanecer mais de duas semanas em caravana, sem dormir ao relento e sempre com refeições. Temos certeza da ação da Divina Providência, que inspirou muitas pessoas a nos ajudarem a chegar aqui e que também nos socorrerá na difícil missão de retorno.

Conclusão

Poucas coisas fazem tão bem a nós mesmos quanto fazer o bem ao próximo. Essa primeira metade da caravana nos provou isso. Os sacrifícios e dificuldades nos fortaleceram a fé, a esperança e a caridade e possibilitaram que as transmitíssemos aos flagelados.

Em meio à destruição e ao sofrimento, encontramos a gratidão e a alegria no coração dos brasileiros que ajudamos e recebemos o mesmo das pessoas que estão doando para a nossa causa. A nossa missão tem se mostrado mais necessária do que nunca, e somos gratos a todos que nos apoiam de diversas maneiras, sobretudo, com suas orações e doações.

Continuaremos nossa missão com o mesmo fervor, certos de que, juntos, podemos continuar fazendo a diferença na vida de dezenas de milhares de brasileiros.

Que Nossa Senhora das Graças, a quem esta caravana é dedicada, retribua ao cêntuplo cada pessoa que nos auxiliou a chegar até aqui e que está nos ajudando a continuar em frente.

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