Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 2 anos — Atualizado em: 3/29/2023, 8:12:49 PM
A saudação de São Gabriel à Santíssima Virgem por ocasião da Anunciação, em Nazaré, é a mais antiga e sublime oração a Ela. É aquela que os homens mais rezam e rezarão até o fim do mundo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto de Vosso ventre, Jesus”.
Mas qual é a oração mais antiga composta pelos homens a Nossa Senhora?
De modo inesperado, ela apareceu inscrita num pequeno papiro milenar, de textura frágil, redigida em grego, desenterrado das areias de um deserto do Egito. O mais incrível é que o manuscrito, após quase dois mil anos, foi descoberto de modo legível. Agora é cuidadosamente guardado entre dois vidros para evitar a sua deterioração.
Seria como se anjos tivessem querido conservar o texto para o revelar nos presentes dias, em que tanto se blasfema contra os mais insignes atributos da Santa Mãe de Deus, a fim de despertar os nossos contemporâneos.
O papiro desaparecera no século III e foi encontrado num depósito de lixo das ruínas da extinta cidade de Oxirrinco, no norte do Egito, em 1897. Os arqueólogos ingleses Bernard Pyne Grenfell e Arthur Surridge [foto ao lado] recuperaram no local abundante coleção de manuscritos, agora conservados na Coleção John Rylands, da Universidade de Manchester (Inglaterra). Eles só foram dados a conhecer na década de 1930, porém ninguém os havia transcrito corretamente.
O filólogo espanhol Felipe Hernández Muñoz, do Departamento de Clássicos da Universidade Complutense, foi em dezembro de 2022 à Rylands Collection e efetuou uma transliteração correta do grego e a tradução para o inglês e o latim. Assim, ele nos forneceu uma conscienciosa primeira versão da oração, que tem algo da célebre “Salve Rainha”, mas muito simples. Ei-la:
“Sob vossas / misericordiosas entranhas / nos refugiamos, / Mãe de Deus. Não desprezeis os nossos / pedidos na pressa, / mas do perigo, / livrai-nos, / só vós, santa, / a bem-aventurada”.
Felipe Hernández explica que a “escrita está cuidada. Tudo em letras maiúsculas e em grego, a língua mais difundida na época. Há rasgões no papiro, mas as letras podem ser adivinhadas sem problemas”. O filólogo também destaca que as primeiras palavras são “sob vossas misericordiosas entranhas” que lembra a “Salve Rainha”. E as palavras “sob vossa proteção” indicam que Maria era invocada como Mãe de Misericórdia, como também na “Salve Rainha”, implorando seus “olhos misericordiosos”.
A oração pede à Virgem que nos liberte do perigo. E um deles era a perseguição contra os cristãos perpetrada pelo Império Romano.
Por que fomos encontrar nesse velho papiro do ano 250 d.C. a versão mais primitiva que nos recorda a “Salve Rainha”? Grandes santos mariais, como São Luís Maria Grignion de Montfort, ensinam que a devoção a Nossa Senhora começou já em sua vida com a veneração dos próprios Apóstolos que iam até sua casa de Nazaré visitá-la e rezar a Missa num altar, hoje conhecido como “Altar dos Apóstolos”, o qual se conserva na Santa Casa de Loreto (Itália) aos pés da imagem da Virgem.
Naqueles remotos tempos, devido aos vícios e às fraquezas dos neófitos oriundos do paganismo, a devoção à Mãe de Deus era revelada com discrição e prudência, porque, percebendo a sua excelsa virtude, os ex-pagãos poderiam achar que Ela fosse uma deusa. Com a posterior consolidação do apostolado, essa dificuldade desapareceu e o culto a Nossa Senhora generalizou-se livremente.
Culto que nos primeiros séculos da Igreja teve sua aprovação magisterial no Concílio Ecumênico de Éfeso, do ano 431. Nele, Ela foi proclamada “Mãe de Deus” (theotokos, em grego). O herói dessa proclamação foi São Cirilo, patriarca de Alexandria. Naquele Concílio, por defender Maria como Mãe de Deus, São Cirilo foi invectivado pelo heresiarca Nestório e seus bispos cúmplices como “monstro, nascido e educado para a destruição da Igreja”.
Com análogo ódio, os protestantes, estultamente, como de costume, contestaram a origem histórica da devoção a Nossa Senhora, arrancando da Bíblia páginas nas quais Ela é citada. Pior ainda, em nossos tempos, o progressismo dito católico, que tudo subverte, empenha-se em negar com maior furor os mais excelsos atributos da Santíssima Virgem, como o de Medianeira Universal de todas as Graças e seu correspondente título de Advogada nossa. Se Ela é Medianeira Universal, só a Igreja Católica é o único canal que nos leva a Deus por meio d’Ela, Advogada nossa por excelência, em quem podemos confiar com certeza plena.
Mas foi nestes nossos tempos de negação empedernida, protestante e/ou progressista, que a Providência Divina fez reaparecer o histórico papiro provando que os celestes atributos da Virgem não são invenção medieval, mas que vêm sendo cultuados há quase dois milênios.
“Por muitos anos, esse documento foi deixado de lado. Talvez um dos motivos seja o fato de ser controverso por conter uma oração à Virgem Maria. O texto tem intrigado vários teólogos porque aparece em meados do terceiro século, antes do que qualquer um poderia pensar” — diz o filólogo Felipe Hernández, que traduziu o papiro e confirmou o que tantos intuíam, alguns com amor redobrado, outros com ódio e revolta.
“Quando Jesus, do alto da Cruz, diz a São João: ‘Eis aí a tua mãe’, indicou que a Virgem não era só mãe espiritual do Apóstolo virgem, o primeiro devoto d´Ela, mas também a Mãe de toda a Igreja e de todos os cristãos — explicou Felipe Hernández, ecoando o ensinamento unânime da Igreja.
As representações artísticas e muito antigas nos apresentam Nossa Senhora em ícones. O mais antigo ícone representando Nossa Senhora se venera no mosteiro das dominicanas do Monte Mário, em Roma, e é conhecido como “Advocata”, cuja autoria é atribuída ao Apóstolo São Lucas. O culto da Virgem como sendo uma invenção medieval não tem o menor fundamento, pois as imagens anteriores também nos falam de um culto que remonta aos tempos apostólicos.
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