Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
Adolpho Lindenberg, falecido aos 99 anos, foi uma figura proeminente no movimento católico, colaborador do "Catolicismo" e fundador da TFP e do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.
10 min — há 5 meses — Atualizado em: 6/13/2024, 10:19:49 AM
Dr. Adolpho
A grande imprensa, bem como numerosos sites de informação, já divulgaram amplamente o falecimento em São Paulo, aos 99 anos, de Adolpho Lindenberg (★3-6-1924 – ✝ 2-5-2024).
Ao ensejo desse infausto acontecimento cabe-nos, como companheiros de ideal em Catolicismo, o indeclinável imperativo de gratidão de tentar distinguir algumas das cintilantes facetas da marcante personalidade do ilustre e pranteado falecido.
O Dr. Adolpho pertenceu com ativo protagonismo ao grupo que se formou, sob o impulso e orientação de Plinio Corrêa de Oliveira, em torno do semanário Legionário. Em seu livro Meu Primo Plinio Corrêa de Oliveira (Artpress, São Paulo, junho de 2016), ele assim apresenta esse tempo de militância nos meios católicos:
Alguns congregados marianos liderados por Dr. Plinio assumiram, em meados da década de 30, a redação do “Legionário”, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Ao longo das reuniões de redação não só foi se formando uma amizade entre eles, como todos sentiram um chamado muito forte da Providência para a consecução de ideais que ainda não tinham sido conscientizados. Esse primeiro grupo de amigos e companheiros de trabalho de Dr. Plinio, por nós denominados “o Grupo”, foi a célula mater de todo nosso movimento.
Tendo esse grupo sido alijado da direção do “Legionário” pelo tufão comuno-progressista que começava a soprar, Dr. Adolpho esteve entre os fundadores, em 1951, do mensário Catolicismo, do qual era um dos mais destacados colaboradores. Esse mensário tornou-se um autêntico porta-voz do novo movimento católico de raiz contra-revolucionária — o “Grupo de Catolicismo”.
Cerca de uma década depois, quando Plinio Corrêa de Oliveira decidiu fundar a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), Adolpho Lindenberg figurou entre seus fundadores eminentes. Mais tarde, em 2006, seu papel foi relevante na fundação do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, ativa e benemérita instituição que presidiu por vários anos e da qual, após sua renúncia por razão de idade, passou a ser Presidente honorário.
Reverentes, saudosos e agradecidos, a Diretoria e os colaboradores de Catolicismo se inclinam diante de sua memória. E, ao mesmo tempo, pedem a Deus que o receba em Sua glória, para que da eternidade Dr. Adolpho continue a inspirar e proteger toda a sua família — a esposa Da. Thereza Christina de Oliveira Lindenberg (in memoriam), a atual esposa Da. Analuísa Elena de Arruda Botelho Lindenberg, os filhos Teresa (in memoriam), Adolpho, Maria e Mônica, netos e bisnetos.
As raízes e o solo determinam a vida de uma árvore. O solo em que se formou e nutriu a personalidade de Dr. Adolpho explica largamente a sua trajetória. Nasceu em plena República Velha, numa metrópole de hábitos conservadores (700 mil habitantes na época, hoje a Grande São Paulo abriga mais de 22 milhões), com ecos do Império ainda vivos. Pujante, impulsionada por imigração valorosa, seus rumos ainda eram dados em boa medida por suas antigas famílias cujo modelo inspirador de conduta, elegância e formas de viver as fazia mirar sobretudo para as sociedades cultas das grandes nações europeias, e não para os Estados Unidos. Ali Adolpho Lindenberg fincou suas raízes.
Constituíam um meio educado, seguro de si, que julgava viver em época estável, cultivando no geral hábitos do Brasil antigo. As relações familiares e sociais, despretensiosas no dia a dia, apresentavam uma nota de suavidade acolhedora e difusiva, regulada por atavismo sensato.
Quando um ambiente é genuinamente bom, ele se difunde. “Bonum est diffusivum sui esse” — o bem de si é difusivo, ensinou Santo Tomas de Aquino. Dr. Adolpho inalou esse ambiente como o ar dos pulmões, assimilou-o, dele se nutriu, foi o oxigênio de sua formação.
Focalizando melhor, era ele um menino inteligente, observador, intensamente assimilativo, cuja modulagem feliz se deu em particular no ambiente materno da família Ribeiro dos Santos (Da. Eponina, em família Da. Iaiá, foi sua mãe); era filha do Dr. Antônio, advogado, e Da. Gabriela, casal conhecido e relacionado na sociedade paulistana de então — repita-se, marcada por costumes cristãos enraizados na vida rural do Brasil agrícola.
Foi neste clima de autêntico arejamento social que Adolpho Lindenberg se formou, moral e temperamentalmente. Foi ali que o filho de Da. Iaiá amadureceu, fez-se homem de enorme expressão pessoal, conduta irrepreensível, cordial com todos, refratário a extravagâncias e petulâncias; em uma palavra, fidalgo acabado em palavras e gestos — convém insistir —, difusivo e acolhedor em seus relacionamentos.
Dr. Adolpho nasceu em plena República Velha, numa metrópole de hábitos conservadores com ecos do Império ainda vivos. Pujante, impulsionada por imigração valorosa, seus rumos ainda eram dados em boa medida por suas antigas famílias cujo modelo inspirador de conduta, elegância e formas de viver as fazia mirar sobretudo para as sociedades cultas das grandes nações europeias.
Outra influência que o marcou fundo foi a de seu pai, o Prof. Dr. Adolpho Carlos Lindenberg (1872-1944), notável médico dermatologista, formado em 1896 pela Faculdade Nacional de Medicina, com longa e proveitosa especialização na Europa. Após fazer estudos sérios em Berlim, Viena e Paris, estabeleceu-se na capital paulista, onde por seu prestígio e esforço foi criada em 1907, na Santa Casa, a Clínica de Dermatologia. Em 1912 ele se tornou catedrático de Dermatologia da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, e em 1922 foi alçado a diretor. Intelectual de valor, é o patrono da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo.
No fundo do espírito de Dr. Adolpho pairou sempre a figura do pai, embora pouco a comentasse. Queria honrá-lo, estar à sua altura, ombreá-lo, não ser na vida familiar e profissional uma pessoa que de alguma maneira o deslustrasse. Não apenas tinha presente o vulto paterno (seu sistema e vigor intelectual, rumo, esforço, disciplina), mas se inspirava também na mãe (relações familiares e sociais afetuosas, apreço e consideração por todos, acolhimento, comiseração).
Cabe destacar o papel central que teve em sua formação o convívio com seu primo Plinio Corrêa de Oliveira. Em seu já citado livro de reminiscências, Dr. Adolpho insiste em mostrar quão primordial foi esse convívio:
“Convivi com Plinio Corrêa de Oliveira durante toda a minha vida, mas as lembranças que guardei dos bons tempos em que vivemos na casa de nossa avó, Gabriela Ribeiro dos Santos — lá pelos anos 1930, quando ele tinha vinte e poucos anos, e eu seis ou oito — são, a meu ver, as que podem fornecer os elementos para uma boa compreensão de quem ele foi na sua intimidade. […]
“Dono de uma voz forte e de um riso contagiante, loquaz, bem-humorado, a chegada de Plinio em casa de Vovó, nos fins das tardes, era aguardada por todos com avidez. Em poucos minutos a prosa adquiria vida, as discussões se acaloravam, firmavam-se posições a respeito dos mais variados assuntos.
“Foi lá também que, dos seis aos doze anos de idade, eu comecei a tomar conhecimento, aproximar-me e me dedicar de corpo e alma àquela figura tão próxima, mas também tão rica, diferenciada e superior, que foi meu primo.
“Digo, sem medo de errar: só conheceu de Plinio sua vitalidade, seu bom humor e irradiação pessoal, quem com ele conviveu nesses primeiros anos de maturidade. Era algo portentoso! Com a idade, os desgostos e as decepções, as enfermidades e o desastre de automóvel acrescentaram a isso um véu de sofrimento, que punha em realce a vulnerabilidade humana. Mas eu o conheci no auge, com sua figura imponente, suas certezas no que dizia, cerimonioso e afável no trato. Era um líder em toda a extensão do termo”.[…]
“[Com Plinio] uma nova força estava despontando no horizonte. E essa força compunha-se de jovens, milhares de jovens, dezenas de milhares de jovens que, como congregados marianos, queriam reformar o status quo vigente, de alto a baixo”.
Tudo isso estabeleceu em Dr. Adolpho os fundamentos de uma personalidade irradiante, aberta para o mundo.
Havia nele um aspecto caritativo pouco comentado. Ninguém nunca saberá exatamente o quanto e a quantos ele ajudou anonimamente ao longo da vida. Na verdade, não se tem a mais longínqua ideia do Dr. Adolpho esmoler, auxílio dos fracos, mecenas de iniciativas de grande valor. E isso até seus últimos dias. Ex nihilo nihil fit.
O falecimento de Dr. Adolpho, em 2 de maio de 2024, provocou na imprensa um sem-número de confetes faiscantes: ícone, excelência, referência, humanista, inovador, figura marcante. Em particular, destaco “ícone” e “excelência” — qualificação densa a primeira, cuja origem é a estátua nas igrejas orientais —, enquanto excelência lembra elevação, superioridade, eminência. Aqui há um aspecto inafastável na formação da personalidade dele e de sua atração contínua por tudo que elevava e aperfeiçoava. Durante toda a sua vida, nos ambientes que frequentava, foi impulsionador de ativo avanço civilizatório (cultura, educação, distinção, naturalidade), e inibidor de retrocessos e obscurantismo (grosserias, extravagâncias, petulâncias, arrogâncias, exibicionismos).
Em suma, sua nomeada refletia um dado inconteste: Dr. Adolpho chamou a atenção por variados aspectos de sua personalidade, mas sem dúvida, de forma excepcional, no âmbito do mercado imobiliário, com a fundação em 1954 da Construtora Adolpho Lindenberg, que depois se tornou griffe e referência no mercado. Ali tinha uma relação próxima com os empregados, indo aos batizados, casamentos, festas de aniversários, promovendo discretamente intensa mobilização social, estimulando com conselhos e iniciativas os que percebia mais dotados.
Ele foi, assim, empresário inovador de destaque. Mas também se notabilizou em outras esferas do convívio social e de atividades: salonné, conversador, criador, articulador e propulsor de iniciativas beneméritas sem contas, escora de jovens promissores necessitados.
Com o tempo, em especial por longas conversas e convívio intenso entre primos, Dr. Plinio introduziu Dr. Adolpho no mundo histórico que o atraía. De maneira preeminente, no Antigo Regime francês, sua educação, seu modo de ser, sua simplicidade e naturalidade aristocráticas, enfim mostrou, para seus olhos encantados, um esplendor de civilização que foi engolido pelo cataclisma da Revolução Francesa. Aprendeu em tais conversas, além do tom, das horas das pausas e das ocasiões dos silêncios, e, mais geralmente, no convívio diuturno, a analisar ambientes, a ver fundo nas psicologias, a ajuizar personalidades e fatos históricos. Mais ainda, a ser católico de piedade autêntica e convicções sólidas.
A amizade, a admiração e o respeito atravessaram décadas, deram frutos, fizeram dele um batalhador notável pela ordem temporal cristã, homem de ação destacado que marcou o movimento católico. Sem o verniz que lhe proporcionou a convivência com Dr. Plinio, Adolpho Lindenberg nunca teria sido o jacarandá que inspirou e encantou a tantos no Brasil anos afora.
Convém notar, o convívio não aperfeiçoou apenas o homem de ação, criador de uma das mais conceituadas construtoras do Brasil e iniciador de boas iniciativas sem conta. Lapidou nele outro diamante, o do intelectual militante que publicou vários artigos e livros, dentre os quais cabe enumerar aqui Visão cristã do Mercado, Utopia igualitária — aviltamento da dignidade humana, O mercado livre numa sociedade cristã; Meu primo Plinio Corrêa de Oliveira.
Perenizaram seu pensamento a defesa das mais autênticas liberdades, a aversão a qualquer forma de totalitarismo, o entusiasmo pelo princípio de subsidiariedade, pelo regionalismo, pela vida social e econômica fundada sobre o instituto da família, pela propriedade privada amplamente difundida e pela iniciativa particular, estimulada até seus extremos naturais. Neste ponto, e em muitos outros, foi discípulo entusiasmado da doutrina social dos Papas, ensinada fundamentalmente por Pio XI e Pio XII.
Nos últimos 20 anos, à medida que as forças físicas o abandonavam paulatinamente, acrisolava em Dr. Adolpho o zelo pela difusão de doutrina e de insights que pudessem marcar beneficamente algum dia círculos de decisão, em particular nos países cristãos. Assim, ele presidiu, com sua presença fidalga e acolhedora, ao redor de sua mesa, um almoço semanal para cerca de oito pessoas, quando conversavam sobre todos os assuntos, mas cujo foco inamovível, posto no fundo do quadro, eram os interesses da Igreja, a ordem social cristã, os perigos atuais por que passam mundo afora os restos de Cristandade ainda vivos, as perspectivas boas e aproveitáveis que se abriam no presente. Muitas iniciativas de valor ali nasceram, outras foram aperfeiçoadas, fortalecidas e ganharam luz nova.
Numa só palavra, da infância à mais recuada ancianidade, Dr. Adolpho sempre buscou os píncaros.
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Que Nossa Senhora o receba no Céu, proteja, perenize e fortaleça suas numerosas iniciativas na Terra, são os votos de todos os seus amigos e admiradores.
Revista Catolicismo
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Edgardo Saint Esteven
14 de junho de 202414/06/2024 às 02:45