Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
8 min — há 8 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:47:25 PM
Eram duas meninas, boas amigas, morando na mesma rua: Fabíola e Fernanda. Fabíola era de família rica, enquanto Fernanda se situava entre pobre e remediada. Ambas adoeceram. Doença grave. Fabíola foi levada a um bom hospital da capital e Fernanda ao posto de saúde do SUS, onde morreu dias depois. Fabíola deixou seu leito, ainda convalescente, mas em tempo de levar uma florzinha e suas lágrimas à sepultura da amiga. O caso é doloroso. Sobretudo porque — murmuravam no bairro — se houvesse igualdade social, ambas teriam o mesmo tratamento e Fernanda não teria morrido.
A realidade, no entanto, é outra: se houvesse igualdade social, ambas estariam muito provavelmente mortas. Como morrem neste instante na Venezuela e em Cuba. Fabíola e Fernanda estariam mortas como milhões de pessoas morreram na Rússia comunista e além da cortina de ferro durante 70 anos. Morreram vítimas da igualdade social sob a forma de coletivização induzida e de miséria, que é como a igualdade se apresenta nos países socialistas.
Há décadas ouvimos de todo lado louvores à igualdade. À esquerda e mesmo à direita. Se se quiser ser bem visto em círculos mundanos, basta dizer: “Oh, as diferenças sociais… é preciso certo nivelamento”. Aquele que disser isto passará por generoso e altruístico, sobretudo se tem na mão um copo de whisky e sob a grife de seus sapatos um espesso tapete. Assim fazem os próceres da igualdade, de Castro a Lula. Servem-se do poder servindo sua fortuna pessoal com desprezo pelo povo. Postos de saúde do SUS dificilmente se encontram em vizinhança de edifícios com tríplex no Guarujá…
São louvores hipócritas, pois todos sabem que a igualdade é uma utopia que contradiz a Criação divina. Na Terra todos os seres e no firmamento todas as estrelas diferem profundamente uns dos outros. “Stella differt stella” (1Cor 15, 41), diz o Apóstolo. A camarilha do PT, por exemplo, tanto falou em igualdade que, uma vez no poder, não fez senão elevar-se, em pouco tempo, muito acima do público… graças aos cofres públicos.
Mas os tempos estão mudando. O solo vem se movendo sob o engodo socialista. Foram-se os dias em que, ingênuas ou lerdas, maiorias acreditavam que a generosidade era o móvel ideológico do socialismo. Louvores se deem ao nosso Brasil que abalou o solo do Planalto. Uma clara determinação manifestada nas ruas fez a profilaxia do suborno político e empresarial erigido em método de governo. Um governo que propugnava a igualdade social. Um governo que empurrava à falência um País de imensas riquezas. Tudo se passa como se para os socialistas as transformações sociais se dão segundo o determinismo histórico de Marx, em evolução materialista: Tese — a igualdade; Antítese — a burguesia; Síntese — tríplex e fazendas à vontade.
Sim, em datas recentes, o Brasil foi o primeiro a exorcizar o mau-olhado comuno-elitista (perdoem-me o paradoxo, mas já disse acima que a esquerda é hipócrita). O povo saiu às ruas aos milhões, repetidas vezes, bradando “fora PT”. Neste momento de escuridão socialista aparecem na Europa críticas substanciosas e bem fundamentadas aos princípios igualitários. Eis uma delas.
Este é o título de um livro [foto abaixo] lançado em novembro último na Itália pelo jornalista Nicola Porro [foto ao lado], vice-diretor de “Il Giornale”. Seu livro é uma coletânea de artigos sobre escritores — cerca de 50 autores de nomeada — que mostram o absurdo do igualitarismo. Entre eles estão Alexis de Tocqueville, Milton Friedman, Raymond Aron, Luigi Einaudi.
O mito da igualdade foi criado pela repetição à saciedade em escolas, universidades, imprensa rádio e televisão — e até mesmo em púlpitos — durante décadas, de que o nivelamento traz o crescimento. Como é possível? Pergunta em uma de suas obras Plinio Corrêa de Oliveira: ao se nivelar não se elevam vales, mas corta-se o cimo de montanhas.
Não obstante a lógica elementar, em círculos tidos como bem informados, a igualdade era acatada como um dogma infalível. Não se podia refutar. Toda refutação arriscava cair no ridículo. Se é que a refutação seria ouvida. E, no entanto, o mito era sempre desmentido pelos fatos. A crença na igualdade tinha o caráter de uma religião laica. A mentira muito difundida adquire o caráter de verdade. Um de seus axiomas garantia que 1% da população mundial se enriquece continuamente à custa dos 99% restantes. Mas todas as evidências nos dizem, escreve Nicola Porro, que o desenvolvimento econômico nos últimos 30 anos pôs ao alcance de todas as classes sociais bens de consumo maiores do que o progresso obtido nos últimos cinco séculos.
Como provar? Basta olhar em torno: motos, supermercados, turismo de massa. Mas o mito persistia. E muitos, impenitentes, ainda o repetem. Ele penetrou a sociedade como uma droga intelectual, constituindo-se no verdadeiro ópio do povo. De tal modo essa espécie de toxicodependência penetrou nos espíritos, que mesmo os que não creem na redenção pela igualdade, ao criticá-la, falam em voz baixa, circunspectos, cheios de receios.
“A desigualdade faz bem”, cita ainda o político italiano Antonio Martino, duas vezes ministro entre 1994 e 2006: “Não é verdade que a riqueza dos ricos seja a causa da pobreza dos pobres”. O mais das vezes o contrário é verdadeiro: os pobres seriam menos pobres se o número dos ricos fosse maior. “O melhor modo de não ser pobre é não fazer parte deles”, dizem os norte-americanos, aliás, tão bem sucedidos em matéria de riquezas. Cita ainda Milton Friedman [foto abaixo], prêmio Nobel de Economia (1976) em seu livro Liberdade de escolha:
“O ponto chave não é apenas o fato de que a prática da igualdade contradiz a realidade. O ponto chave é sobretudo o fato de que existe uma contradição fundamental entre o ideal da distribuição igual a todos e o ideal da liberdade individual.” Esta é uma das razões pelas quais não houve e não pode haver liberdade nos países socialistas: a distribuição igual a todos prejudica os mais capazes e os mais aplicados. Estes, desestimulados por um salário igualmente dado a esforçados ou relaxados, cruzam os braços; cai a produção e a pobreza se estabelece.
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Escreve Harry G. Frankfurt [foto abaixo], filósofo e professor em grandes universidades norte-americanas: “Os pobres sofrem porque não têm o suficiente, e não porque os outros têm mais do que eles, nem mesmo porque alguns têm em demasia.”
Quando Obama, usando a grandiloquência dos hipócritas, discursou: “A desigualdade é o desafio de nossa época”, Harry Frankfurt revidou: “Pelo contrário, o desafio fundamental para nós não é constituído pelo fato de que a renda dos americanos é amplamente desigual, mas sim do fato de que muitas pessoas são pobres.” Nicola Porro pergunta se alguém deseja o aumento dos pobres. Ele diria que não. Alguém desejaria a diminuição do número dos ricos e dos milionários? Ele acha que sim. Mas reduzir o número dos ricos não resolve o problema dos pobres. Ao contrário, a existência dos ricos aumenta a possibilidade de assistência aos pobres. A igualdade seria obtida forçosamente com a diminuição do número dos ricos — e, portanto, da riqueza também. E assim todos se empobreceriam.
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Na medida em que as pessoas se preocupam com a igualdade econômica, elas passam a trabalhar não mais para satisfazer às suas necessidades ou aos legítimos interesses de sua família, mas para controlar a quantia de dinheiro que seus colegas recebem. Esse comportamento, diz Harry Frankfurt, essa igualdade escraviza o homem, separando-o de suas necessidades individuais e levando-o a concentrar sua atenção nos desejos e necessidades que já não são os seus. Nasce o regime da inveja, tão característico do mundo socialista. Exemplificava Plinio Corrêa de Oliveira: nesse regime, se alguém que possui um luxuoso Mercedes-Benz vê seu colega passar num Rolls-Royce, sentir-se-á diminuído e gritará: “Injustiça!”. Ele quer a igualdade, e não aquilo que por justiça lhe cabe. Mas a igualdade ostentada é para-vento para sua inveja.
O Papa Leão XIII [imagem ao lado], em sua Encíclica Rerum Novarum (1891), dá clara confirmação a esta questão: “Os socialistas vão contra a justiça natural e quebram os laços da família. Mas, além da injustiça do seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências: a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos; e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.”
E assim Fabíola não morreu. O Brasil havia rejeitado os rumos que levavam a “essa igualdade tão sonhada”. Justiça foi feita. Fernanda merece nossa oração.
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