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Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Mensagem do Cardeal Burke para a Semana mais santa do ano

Por Agência Boa Imprensa

12 minhá 5 anos — Atualizado em: 4/7/2020, 10:29:20 PM


Caros amigos,

Desde o início de meu ministério como bispo de uma diocese, parecia que todos os anos, à medida que as celebrações do Natal e da Páscoa se aproximavam, havia um evento profundamente triste na diocese ou uma crise difícil de enfrentar pelo bem da diocese. Assim,enquanto eu antecipava com alegria as celebrações dos grandes mistérios de nossa salvação, algo acontecia que, do ponto de vista humano, colocava uma nuvem negra sobre as celebrações e questionava a alegria que elas inspiravam. Certa vez, quando comentei com um irmão bispo sobre essa experiência terrivelmente angustiante, ele simplesmente respondeu: “É Satanás, tentando roubar sua alegria”.

Faz sentido que Satanás, a quem Nosso Senhor descreve como um “homicida desde o principio, […] mentiroso e o pai da mentira” (Jo 8, 44), queira esconder de nossos olhos as grandes realidades da Encarnação e da Redenção, queira distrair-nos dos ritos litúrgicos através dos quais não apenas celebramos essas verdades, mas também recebemos as graças imensuráveis ​​e incessantes que elas conquistaram para nós. Satanás quer nos convencer de que a perda de um ente querido e a morte, a tristeza e o medo que naturalmente as acompanham mostram que Cristo é falso, falsificam a sua Encarnação redentora e mostram nossa fé e a alegria que ela naturalmente inspira como mentirosas.

Quem é falso é Satanás. Ele é o mentiroso. Cristo, Deus Filho, de fato tornou-se homem, sofreu a mais cruel Paixão e Morte a fim de redimir nossa natureza humana, restaurar-nos a verdadeira vida, a vida divina que supera os piores sofrimentos e até a própria morte, e conduzir-nos com certeza e segurança para o nosso verdadeiro destino: a vida eterna com Ele.

São Paulo, diante de tantas provações profundamente desencorajadoras ao longo de seu ministério apostólico, culminando com seu martírio em Roma, escreveu aos cristãos de Colossos: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1, 24). Para ele, como deveria ser também para nós, sofrer com Cristo pela Igreja, pelo amor de Deus e ao próximo, é a fonte inatacável e infalível de nossa alegria. É a mais alta expressão de nossa comunhão com Cristo, Deus Filho Encarnado, compartilhando com Ele o mistério do amor divino de Deus — Pai, Filho e Espírito Santo. A vida de Cristo, a graça do Espírito Santo derramada do Coração de Cristo para habitar em nossos corações, inspira e fortalece-nos a abraçar a perda de alguém e a morte com o seu amor que os conquista e os transforma em ganho eterno e vida sem fim. Nossa alegria, então, não é um prazer ou emoção superficial, mas o fruto do amor que é ‘forte como a morte’, que “as torrentes não poderiam extinguir […] nem os rios o poderiam submergir” (Ct 8, 6-7).

Nossa alegria não tira o aguilhão agudo da perda e da morte, mas, com confiança e coragem, as enfrenta como parte do combate ao longo da vida do amor que somos chamados a travar durante esta vida — afinal, pela graça de Deus, somos verdadeiros soldados de Cristo (2 Tm 2, 3) — na certeza da vitória da vida eterna. Assim, no fim de sua vida, São Paulo poderia escrever a seu filho espiritual e companheiro no pastoreio do rebanho, São Timóteo: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2 Tm 4, 6-8 ).

Amamos Nosso Senhor, amamos a Encarnação redentora pela qual Ele está vivo por nós na Igreja, e, portanto, estamos felizes por lutar o bom combate com Ele, em continuar a corrida, não importando as provações que enfrentamos, e em manter a fé quando o Pai da Mentira nos tenta a duvidar de Cristo e até a negá-Lo.

Talvez Satanás nunca tenha tido uma ferramenta melhor do que o coronavírus para roubar nossa alegria de celebrar os dias mais sagrados do ano, os dias em que Cristo ganhou para nós a vida eterna. Como ele gostaria de extirpar a santidade da única semana do ano que é conhecida simplesmente como Semana Santa! A atual crise sanitária internacional causada pelo coronavírus (COVID-19) continua sua trágica colheita de mortes, gerando profunda tristeza e medo no coração humano. Certamente, Satanás está usando o sofrimento que assolou tantos lares, bairros, cidades e nações a fim de nos fazer duvidar de Nosso Senhor e da Fé, da Esperança e da Caridade, que são seus grandes presentes para nós em nossa vida diária. O efeito da intenção assassina de Satanás e de suas mentiras aumenta quando estamos mais distantes do Senhor, quando consideramos sua vida dentro de nós como assegurada, quando até O abandonamos ao buscar prazeres, interesses ou sucessos mundanos.

Na própria Igreja, temos sido testemunhas da omissão em ensinar, sobretudo, a Cristo como Senhor. Quantos hoje sofrem profundamente de um medo inútil porque esqueceram ou até rejeitaram o Reinado do Coração de Jesus em seus corações e lares. Lembrem-se das palavras de Nosso Senhor a Jairo, que procurou a ajuda de sua filha moribunda: “Não temas; crê somente” (Mc 5, 36). Quantos hoje estão sem esperança, porque acham que a vitória sobre o mal do coronavírus (COVID-19) depende totalmente de nós, porque se esqueceram de que, embora devamos fazer tudo o que podemos humanamente para combater um grande mal, somente Deus pode abençoar nossos esforços e nos dar a vitória sobre as privações de todo tipo e a morte. É tão triste ler documentos — mesmo documentos da Igreja — que pretendem tratar das dificuldades mais importantes que enfrentamos e não encontrar neles nenhum reconhecimento do Senhorio de Cristo, da verdade que dependemos completamente de Deus para nosso ser, por tudo o que somos e tudo o que temos, e que, portanto, a oração e o culto divino constituem o nosso primeiro e mais importante meio de combater qualquer mal.

Alguns dias atrás, um jovem católico me disse, como se fosse uma evidência, que este ano ele não celebraria a Páscoa por causa do coronavírus. Se as alegrias da celebração da Páscoa fossem simplesmente uma questão de sentir-se bem, entenderia o sentimento dele. Mas a alegria da Páscoa está enraizada na verdade eterna, na vitória de Cristo sobre o que claramente se parecia com a Sua aniquilação, a vitória conquistada em sua natureza humana para obter a mesma vitória em nossa natureza humana, quaisquer que sejam as dificuldades que possamos estar sofrendo. Se crermos em Cristo, se confiarmos em suas promessas, devemos celebrar com alegria sua grande obra da Redenção. Celebrar os mistérios de Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo não é uma falta de respeito ao sofrimento de tantos hoje, mas reconhecer que Cristo está conosco para superar nossos sofrimentos com seu amor. Nossa celebração é um farol de esperança para aqueles cujas vidas são severamente provadas e os convida a depositar sua confiança em Nosso Senhor.

Sim, a Semana Santa deste ano é muito diferente para nós. O sofrimento associado ao coronavírus levou a uma situação em que muitos católicos, durante a Semana Santa, não terão acesso aos Sacramentos da Penitência e à Sagrada Eucaristia, que são os nossos extraordinários, mas também ordinários encontros com Cristo ressuscitado, de maneira que Ele possa nos renovar e fortalecer com sua vida. Mas continua sendo a Semana mais santa do ano, pois comemora os eventos pelos quais vivemos em Cristo, pelos quais a vida eterna nos pertence, mesmo diante de uma pandemia, de uma crise sanitária mundial. Peço-lhes, portanto, que não cedam à mentira de Satanás, que deseja nos convencer de que este ano não temos nada para comemorar durante a Semana Santa. Não, temos tudo para celebrar, pois Cristo nos precedeu em todos os sofrimentos e agora nos acompanha em nossos sofrimentos, para que permaneçamos fortes em seu amor, o amor que vence todo mal.

Hoje celebramos o Domingo de Ramos, quando Cristo entrou em Jerusalém, conhecendo plenamente a Paixão e Morte que O esperava. Jesus sabia quão efêmera era a sua acolhida, uma acolhida apropriada ao Rei do Céu e da Terra, mas superficial, porque aqueles que a estenderam tinham apenas uma compreensão mundana da salvação que Ele veio trazer para nós. Eles não estavam prontos para ser um com Cristo no estabelecimento de seu Reino eterno através dos eventos de sua Paixão e Morte. Após o Domingo de Ramos, cada dia da Semana Santa é justamente chamado de santo porque é um episódio da firmeza de Cristo ao abraçar a sua missão salvadora rumo ao seu ponto culminante.

Consigam um tempo para meditar sobre a acolhida verdadeiramente régia que ofereceram a Cristo em seu coração e em seu lar. Leiam novamente o relato da entrada d’Ele em Jerusalém e de como, depois de sua entrada triunfante, Ele chorou sobre Jerusalém com estas palavras: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus fi­lhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas… e tu não quiseste!” (Mt 23, 37).

Se vocês ou seus lares estiverem longe de Nosso Senhor, recordem-se de como Ele deseja estar perto de vocês, ser o hóspede constante de seu coração e de seu lar.

Permaneçam com Cristo durante toda a Semana Santa. De maneira particular, façam da Quinta-feira Santa um dia de profunda gratidão pelos sacramentos da Sagrada Eucaristia e pelo Santo Sacerdócio instituído por Nosso Senhor na Última Ceia. Façam da Sexta-feira Santa um dia de silencio, durante o qual sejam praticados atos penitenciais para entrar mais profundamente no mistério do sofrimento e da morte de Cristo. Na Sexta-feira Santa, encham-se de gratidão pelos sacramentos da penitência e pela unção dos enfermos. No Sábado Santo, façam vigília com Nosso Senhor, louvando-O e agradecendo-Lhe pelo dom de sua graça em nossas almas através da infusão do Espírito Santo a partir de seu glorioso Coração trespassado. Meditem especialmente como sua graça está dentro de suas almas pelos Sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Sagrada Eucaristia. Durante todos esses dias, reflitam e agradeçam a Deus pelo dom do Sacramento do Santo Matrimônio e seus frutos, a família — a “Igreja doméstica” ou pequena igreja do lar —, o primeiro lugar em que aprendemos a conhecer a Deus, a oferecer-Lhe a oração e o culto e a disciplinar nossas vidas de acordo com sua Lei.

Se não puderem participar dos ritos litúrgicos nesses dias mais sagrados, o que é realmente uma grande privação, pois nada pode substituir o encontro com Cristo através dos sacramentos durante esses dias, esforcem-se em seus lares para participar na Liturgia Sagrada através do desejo de estar na companhia de Nosso Senhor, especialmente no mistério de sua obra salvadora. Nosso Senhor não espera de nós o impossível, mas que façamos o melhor que pudermos para estar com Ele durante esses dias de sua graça eficaz.

Existem muitas maravilhosas ajudas para nutrir esse santo desejo. Antes de tudo, há um rico tesouro de oração na Igreja. Por exemplo, a leitura das Escrituras Sagradas, os Salmos Penitenciais, especialmente o Salmo 51 [50] e o relato da Paixão de Nosso Senhor nos quatro Evangelhos, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a meditação sobre os mistérios da nossa fé através da recitação do Santo Rosário, especialmente dos Mistérios dolorosos, as Ladainhas do Sagrado Coração de Jesus, da Santíssima Virgem (de Loreto), de São José e dos santos, a Via Sacra — que também pode ser feita em casa usando as imagens das catorze estações estampadas em um livro de orações ou sobre um objeto sagrado —, o Terço da Divina Misericórdia, visitas a santuários, grutas e outros lugares consagrados a Nosso Senhor e aos mistérios da Encarnação Redentora, e a devoção aos santos que foram poderosos para nos ajudar, especialmente São Roque, protetor contra as pestilências.

Em nossa época, temos o privilégio de ter acesso, através dos meios de comunicação, aos ritos sagrados e aos atos públicos de devoção, enquanto são celebrados em certas igrejas, especialmente nas igrejas de mosteiros e conventos nos quais toda a comunidade religiosa está participando. Observar um rito sagrado que é transmitido não é evidentemente o mesmo que participar diretamente dele, mas se é tudo o que nos é possível fazer, certamente é agradável a Nosso Senhor, que nunca deixará de nos encher com sua graça em resposta ao nosso humilde ato de devoção e amor.

Em qualquer caso, a Semana Santa não pode ser para nós como outra semana qualquer, mas deve ser marcada pelos sentimentos mais profundos de fé em Cristo, que é a nossa única salvação. Os sentimentos de fé durante os dias mais sagrados são igualmente sentimentos de profunda gratidão e amor. Se a gratidão e o amor não puderem ter sua expressão mais alta através da participação na Sagrada Liturgia, que eles a encontrem na devoção de seus corações e de seus lares. Comemorando com Cristo, com sua Mãe Santíssima e com todos os santos os eventos do Tríduo Sagrado, contemplamos o mistério de sua vida dentro de cada um de nós. Todo o tempo gasto em oração e devoção diárias, meditando sobre a Paixão de Nosso Senhor, nos ajudará a estar unidos da melhor forma possível a Ele durante esses dias mais sagrados. Quanto o sofrimento do tempo presente deve nos ensinar sobre o dom incomparável que é a Sagrada Liturgia e os Sacramentos!

Para encerrar, quero assegurar-lhes que suas intenções estão hoje em minhas orações e permanecerão nelas durante toda a Semana Santa, de modo especial durante o Tríduo Sagrado da Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado Santos. Que todos nós possamos fazer companhia a Cristo com a mais profunda fé, esperança e caridade, ao celebrarmos os dias mais sagrados nos quais Ele sofreu, morreu e ressuscitou dentre os mortos para nos libertar do pecado e de todo mal e obter para nós a vida eterna. Que nossa observância da Semana Santa este ano seja nossa arma poderosa no contínuo combate ao coronavírus (COVID-19). Em Cristo, a vitória será nossa. “Não temas; crê somente” (Mc 5, 36).

Raymond Leo Cardeal BURKE

5 de abril de 2020, Domingo de Ramos

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(Tradução do inglês por Hélio Dias Viana).

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