Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 6 anos
Até meados do século passado as festividades religiosas tinham no Brasil importância análoga à das celebrações nacionais. A população católica saía em peso às ruas para comemorá-las condignamente.
As procissões eram imponentes, concorridíssimas, com cunho oficial, acompanhadas por todo o povo, sendo os andores e pálios carregados pelas mais altas autoridades civis e militares.
As de maior importância eram as realizadas durante a Semana Santa e a procissão de Corpus Christi.
As cidades e vilas eram enfeitadas, as ruas varridas e os trechos por onde passaria o cortejo cobertos com flores perfumadas, pétalas de rosas, ramos de alecrim, begônias e magnólias em homenagem a Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas casas havia iluminação do lado de fora, enfeites nas janelas e portas, e os moradores que nelas permaneciam se apresentavam vestidos a rigor nas escadarias.
Acompanhando as procissões, bandas de músicas, irmandades em seus trajes de gala, cavalarianos, autoridades civis, militares e eclesiásticas, estandartes e bandeiras diversas que davam colorido especial ao conjunto. Tudo isso ao som das solenes badaladas dos sinos das diversas igrejas.
Pelo ambiente, um discreto perfume de manjerona e de incenso, e por toda a parte um inefável enlevo religioso dominando e afervorando as almas.
As procissões de Corpus Christi eram as mais festivas e esplendorosas, próprias à ocasião em que a sociedade presta homenagem solene e um culto de adoração ao Rei dos reis e Senhor dos senhores, Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente na Eucaristia.
As datas dos padroeiros das cidades grandes e pequenas eram também muito comemoradas.
Às vezes os festejos começavam dias antes, com tríduos ou novenas. As ruas eram ornamentadas com bandeiras, flores de papel de seda, arcos de bambu e ramos de palmeira. Junto à Igreja realizava-se uma quermesse com barraquinhas de comidas e bebidas típicas da região, além de jogos e diversões variadas.
No dia do Padroeiro, em geral feriado, havia uma alvorada com foguetes e repicar de sinos, lançamento de balões e desfiles folclóricos, culminando com uma grande procissão do padroeiro ou da padroeira da localidade.
E pelas igrejas do Brasil inteiro havia ainda, em outras épocas, Missas diárias muito frequentadas, novenas, terços, coroações de imagens de Nossa Senhora e adorações do Santíssimo Sacramento.
Hoje em dia, infelizmente, com as igrejas semi-desertas e o povo cada vez mais paganizado, o que ainda existe dessas cerimônias não é senão uma sombra do que houve no passado, quando o Brasil era autenticamente católico.
Em quaisquer circunstâncias e sem dificuldade, a Igreja conseguia reunir enormes multidões.
Um exemplo disso foi o IV Congresso Eucarístico Nacional, realizado em São Paulo. Na sessão solene de seu encerramento, no dia 6 de setembro de 1942,mais de 500 mil pessoas — numa cidade então com 1.400.000 habitantes — congregaram-se no Vale do Anhangabaú.
Naquela noite memorável, o então jovem líder católico Plinio Corrêa de Oliveira, que fundaria anos mais tarde a TFP, pronunciou inspirado discurso, cheio de fé e esperança, perante a multidão presente no centro de São Paulo.
Destacamos alguns trechos desse discurso, que poderiam ser perfeitamente adaptados aos dias de hoje, em que o Brasil passa por uma de suas maiores crises política, socioeconômica, religiosa e moral.
Em determinado momento de sua saudação às autoridades civis e militares, ele disse:
“Talvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem viajando pelo nosso Brasil, experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatros e grandes feitos esse Pais cujas montanhas trágicas e misteriosas parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra.
“Quando nosso poeta cantava que ‘nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá’, percebeu, talvez confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de um porvir igual aos dos maiores povos da Terra.
“E hoje, quando o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos da velha Europa o cetro da cultura cristã, que o totalitarismo queria destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização o terreno fecundo onde poderão reflorir com brilho maior do que nunca as plantas que a barbárie devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil não são uma figura de magnitude de seu papel providencial.
“Tempo houve em que a história do mundo se pôde intitular Gesta Dei per francos. Dia virá em que se escreverá Gesta Dei per brasilienses. [Agesta de Deus pelos brasileiros].
“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente Católica, Apostólica Romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz que será verdadeiramente o lumen Christi que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inserem na vida nacional, e mais do que as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para o bem do mundo inteiro.
“‘Sejam entre Vós os que governam como os que obedecem’, diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade.
“Realmente, se soubermos ser fiéis a Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro.”
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Bibliografia:
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