Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 7 anos
Os quatro cardeais [fotos acima] autores dos “dubia” sobre a Exortação Amoris laetitia tornaram público, através do blog do vaticanista Sandro Magister, um pedido de audiência apresentado pelo cardeal Carlo Caffarra ao Papa em 25 de abril passado, uma vez que os “dubia” não obtiveram resposta. O silêncio deliberado do Papa Francisco — que, no entanto, recebe personalidades muito menos relevantes em Santa Marta para discutir questões muito menos importantes para a vida da Igreja — é a razão da publicação do documento.
No pedido filial de audiência, os quatro cardeais (Brandmüller, Burke, Caffara e Meisner) fazem saber que gostariam de explicar ao Pontífice as razões dos “dubia” e expor a situação de grave confusão e perplexidade em que se encontra a Igreja, especialmente no que diz respeito a pastores de almas, em particular os párocos.
Na verdade, no ano que transcorreu a partir da publicação da Amoris laetitia, “foram dadas em público interpretações de alguns passos objetivamente ambíguos da Exortação pós-sinodal, não divergentes, mas contrárias ao permanente Magistério da Igreja. Conquanto o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé tenha declarado mais de uma vez que a doutrina da Igreja não mudou, apareceram numerosas declarações de bispos, cardeais e até mesmo de conferências episcopais, que aprovam o que o Magistério da Igreja jamais aprovou. Não apenas o acesso à Santa Eucaristia daqueles que objetiva e publicamente vivem numa situação de pecado grave, e pretendem nela continuar, mas também uma concepção da consciência moral contrária à Tradição da Igreja. Sucede assim — oh, e quão doloroso é vê-lo! — que o que é pecado na Polônia é bom na Alemanha, o que é proibido na Arquidiocese de Filadélfia é lícito em Malta, e assim por diante. Vem-nos à mente a amarga constatação de B. Pascal: ‘Justiça do lado de cá dos Pireneus, injustiça do lado de lá; justiça na margem esquerda do rio, injustiça na margem direita’ ”.
Não há escândalo nem transgressão no fato de os colaboradores do Papa pedirem uma audiência privada, e que no pedido descrevam objetivamente, a divisão que a cada dia cresce na Igreja. O escândalo consiste na recusa do Sucessor de Pedro em ouvir aqueles que pedem para ser recebidos. Tanto mais quanto o Papa Francisco quis fazer do “acolhimento” a marca registrada de seu pontificado, afirmando em um de seus primeiros sermões em Santa Marta (25 de maio de 2013) que “os cristãos que pedem nunca devem encontrar portas fechadas”. Por que recusar audiência a quatro cardeais que não fazem senão cumprir o seu dever de conselheiros do Papa?
As palavras dos cardeais são filiais e respeitosas. Pode-se supor que a intenção deles seja de procurar “discernir” melhor, em uma audiência privada, as intenções e os planos de Papa Francisco, e eventualmente de fazer ao Pontífice uma correção filial in camera caritatis. O silêncio do Papa Francisco em relação a eles é obstinado e descortês, mas expressa em sua teimosia a conduta daqueles que vão adiante em seu caminho com determinação. Dada a impossibilidade de uma correção privada, pela inexplicável recusa de uma audiência, também os cardeais deverão prosseguir com decisão em seu caminho, se quiserem evitar que na Igreja o silêncio seja mais forte que suas palavras.
(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 21-6-2017. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.
Roberto De Mattei
73 artigosEscritor italiano, autor de numerosos livros, traduzidos em diversas línguas. Em 2008, foi agraciado pelo Papa com a comenda da Ordem de São Gregório Magno, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Igreja. Professor de História Moderna e História do Cristianismo na Universidade Europeia de Roma, conferencista, escritor e jornalista, Roberto de Mattei é presidente da Fondazione Lepanto. Entre 2004-2011 foi vice-presidente do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália. Autor da primeira biografia de Plinio Corrêa de Oliveira, intitulada “O Cruzado do Século XX”. É também autor do best-seller “Concílio Vaticano II, uma história nunca escrita”.
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