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9 min — há 4 anos — Atualizado em: 8/15/2020, 5:09:18 AM
As dores da Santíssima Virgem são representadas por espadas cravadas em seu Coração, e o dogma da Assunção evoca seu triunfo sobre tantos sofrimentos. Na festa da Assunção, em 15 de agosto, uma renovação desse triunfo foi a vitória da Polônia católica sobre os exércitos soviéticos, milagre cujo centenário comemoramos neste ano.
A Assunção de Nossa Senhora foi confirmada como dogma de Fé pelo Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, no dia 1° de novembro de 1950.[1] Essa verdade era professada desde os tempos dos Apóstolos, suas testemunhas oculares, que a narraram a seus sucessores. O dogma coloca a Santa Mãe de Deus acima de qualquer criatura, mesmo as canonizadas, justificando o culto de hiperdulia que a Igreja lhe tributa.
Após uma morte suavíssima, qualificada de “dormição de Nossa Senhora”, a Santíssima Virgem se ergueu como quem sai de um sono, numa transição efetuada pelo poder de Deus, e subiu aos céus na presença dos Apóstolos e fiéis reunidos em torno d’Ela. A glorificação e a alegria por este privilégio, sem equivalentes até o fim do mundo, só foram inferiores às da Ascensão triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como figurar o esplendor da Assunção
Maria Santíssima foi elevada ao Céu, rodeada pelo respeito e recolhimento dos presentes, diante dos quais se acentuava assim, cada vez mais, sua semelhança com seu Filho Divino. O esplendor de Nosso Senhor transfigurado se comunicava a Ela, fazendo-a refulgir cada vez mais como rainha e mãe, até desaparecer dos olhos humanos. Ao mesmo tempo o Céu se transformava, porque sua Rainha nele ingressava em triunfo.
Pouco depois, na Terra tudo voltava à sua rotina, mas os primeiros católicos retornavam para suas casas com uma sensação parecida com a que tiveram na Ascensão de Nosso Senhor. Maravilhados, com enorme saudade, levando na retina algo que nem podiam ter imaginado a respeito de Nossa Senhora.
No momento da Assunção transpareceu a alegria e a vitória sobre as dores inenarráveis que Ela padeceu em vida, segundo lhe anunciara o profeta Simeão: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 35). O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira se alegrava com essa arquitetonia da dor transformada em alegria eterna: “Nossa Senhora é representada com o coração circundado de gládios espirituais, que representam a alma d’Ela ferida pela espada da dor, de que falou o profeta Simeão. Eu gostaria de ser pintor para representar Nossa Senhora subindo ao Céu, com o coração ferido à mostra, mas saindo dessa espada as mais belas luzes que se possa imaginar. Porque a sua grande alegria era ter suportado os tormentos e ter vencido todas as batalhas.[2]
Glorificação no Céu e novos triunfos na Terra
Depois de ter passado por toda espécie de sofrimentos, angústias, dilacerações e humilhações, a Santa Mãe de Deus foi honrada por seu Divino Filho com a Assunção, um privilégio único na história do mundo. A glorificação de Maria deixa eclipsada a dos Césares vitoriosos aclamados na Via Triunfal de Roma, a dos exércitos aliados desfilando sob o Arco do Triunfo de Paris, e a de qualquer outra exaltação humana. Por isso sua glória na ordem do universo é o mais alto reflexo criado do resplendor supremo de Deus.
Em atenção a essa vitória, o católico deve levar ao último extremo sua combatividade pela glorificação da Corredentora do gênero humano, e lutar como um cruzado pelo seu reinado na Terra. São ainda de Plinio Corrêa de Oliveira estes comentários: “Algo da luminosa magnificência da Assunção se repetirá quando começar o Reino de Maria. Veremos então o mundo todo transformado, e Nossa Senhora brilhando sobre a Terra; pois seu reinado estará se efetivando, e estarão começando também dias maravilhosos de graças como nunca houve antes”.[3]
Após a Assunção, a Santíssima Virgem nunca mais estaria estavelmente na Terra, mas começava do Céu sua grande missão. Estabeleceu uma misteriosa comunicação com os seus devotos, sobretudo os que se consagraram a Ela com amor, coragem, constância e fé, virtudes recomendadas por São Luís Maria Grignion de Montfort. São estas virtudes necessárias sobretudo diante do neopaganismo moderno, monstro apocalíptico que tenta tiranizar os fiéis, privando-os de apoios terrenos para arrastar consigo grande número de tíbios e interesseiros.
O milagre do Vístula: vitória sobre o comunismo
Neste ano de 2020 a Igreja comemora o centenário de um exemplo característico da ação de Nossa Senhora da Assunção em favor dos fiéis: o “milagre do Vístula”, ocorrido em agosto de 1920 (trinta anos antes da proclamação do dogma).
Quatro corpos de exército da URSS comunista avançavam contra a capital da católica Polônia. Numa ordem dada a seus soldados em 4 de julho de 1920, o general bolchevista Mikhail Tukhachevsky foi lapidarmente claro: “No caminho para a conflagração mundial comunista, tem-se que passar sobre o cadáver da Polônia”.[4] Em Moscou, Lenin exigia ferozmente a “revolução mundial” e a aniquilação do “obstáculo polonês”. E os soldados comunistas cantavam: “Esta é nossa batalha última e decisiva. Surgirá a nova raça humana”.
Revoluções marxistas explodiam na Europa ocidental arruinada pela Primeira Guerra Mundial; a grande mídia anunciava falsamente que os russos já eram donos de Varsóvia; os embaixadores ocidentais fugiram da capital (com exceção do Núncio, que era o futuro Papa Pio XI); os especialistas militares ocidentais davam a situação por perdida; e a confluência das hostes russas com as massas subversivas europeias parecia um fato incontornável.
O Papa Bento XV enviou um apelo ao mundo católico, pedindo orações a Nossa Senhora de Czestochowa (Padroeira da Polônia) e à Mãe do Bom Conselho, por essa nação ameaçada de naufragar no próprio sangue, perseguida pelo exército vermelho. E o jornal socialista italiano Avanti debochava do Papa, espalhando sarcasticamente: “Fiquem tranquilos! O Pontífice Romano acredita na eficácia da Virgem!”.[5]
Na Polônia, anciãos, mulheres, adolescentes e feridos, prosternados em igrejas, ruas e praças, multiplicavam seus apelos ao Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora. A desproporção das forças era evidente, e só um milagre evitaria a catástrofe. Contudo, corria de boca em boca uma intuição, sem se saber sua origem: no dia 15 de agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora, Ela faria o milagre.
Apesar das tendências socialistas do marechal Józef Piłsudski (1867–1935) [foto ao lado], coube a ele conduzir a guerra contra os soviéticos. Percebendo que na linha de ofensiva dos inimigos se abrira uma brecha, empreendeu uma manobra desesperada e muito ousada: retirou de Varsóvia as tropas habilitadas ao combate, que a defendiam, e preencheu as vagas das trincheiras convocando todos os que podiam segurar uma arma, ainda que não soubessem usá-la. Além de mulheres, velhos e feridos, destacaram-se nesse palco da batalha os escoteiros, que ali morreram em grande número na luta corpo a corpo contra soldados experimentados e cruéis.
Com o destacamento que conseguira em Varsóvia, o marechal Pilsudski atravessou a brecha sem ser percebido. Talvez sem se lembrar do significado daquele grande dia 15 de agosto, festa da Assunção, deu o golpe decisivo contra os exércitos soviéticos. Após um giro perigoso, atacou-os de surpresa, em manobra envolvente. A coincidência de datas empolgou os poloneses, que infligiram aos comunistas uma derrota da qual jamais se recuperariam, e foi completada por sucessivas batalhas posteriores. Narra-se que alguns soldados soviéticos teriam visto Nossa Senhora de Czestochowa aparecer sobre as nuvens.
A batalha é considerada uma das mais importantes da história universal. Lenin, o tirânico pai da URSS, lamentou em Moscou a “enorme derrota”, que reduziu a supremacia da revolução bolchevista a um único país, a Rússia. O sonho da “revolução mundial” ficou espatifado, pois o próprio Lenin considerava que, para a “experiência socialista” dar certo, deveria ser universal. Em 24 de agosto o embaixador britânico SirHorace Rumbold (1869–1941) chegou a Poznan, Alemanha, procedente de Varsóvia. Espantado com a inversão da sorte das armas, comentou: “É uma repetição da derrota dos turcos sob os muros de Viena, em 1683”.[6]
No enterro do marechal Pilsudski, em 12 de maio de 1935, o Cardeal Primaz da Polônia August Hlond afirmou: “A vitória do heroico exército polonês, chamada de ‘milagre do Vístula’, teve a importância de Lepanto e Viena”.[7] O Papa Pio XI, falando sobre a Mãe de Deus, referiu-se ao “milagre sobre o Vístula”, resumindo-o com estas palavras: “O anjo das trevas empreendeu uma gigantesca batalha contra o anjo da luz”.[8] As forças armadas polonesas adotaram Nossa Senhora da Assunção como Padroeira principal.
Assunção e a glorificação da Igreja
Finalizamos com mais um oportuno e valioso comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira aos seus amigos e discípulos:
“Depois da Ascensão de Nosso Senhor, o fato mais esplendorosamente glorioso da História humana foi quando Nossa Senhora subiu ao Céu ante os olhos humanos. Por seu caráter ordenativo, ele é comparável apenas ao dia do Juízo Final. A implantação do Reino de Maria — por assim dizer, a assunção da Igreja Católica —é o que devemos desejar na festa da Assunção. E desejar também que a tristeza e o gládio de dor que traspassou o Imaculado Coração de Maria nos preparem para compreender a alegria imensa dessa vitória, refulgindo com a maior formosura desde os tempos apostólicos.
“Na festa da Assunção devemos pedir a Ela que olhe para nossas falhas e nos conceda o perdão, para atravessarmos a nossa época com a certeza de que, quanto mais profunda for a tristeza, maior ainda será a alegria que teremos depois, na aurora do Reino de Maria Assunta aos Céus”.[9]
[1]http://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html.
[2] Palestra de 15 de agosto de 1966. As palestras citadas neste artigo não foram revistas pelo autor.
[3] Palestra de 14 de agosto de 1965.
[4] “Devocionário e novena a Nossa Senhora da Defesa”, Edições Loyola, SP, 2003, pág. 67 na edição Google, https://books.google.com.br/books?id=roS2x71wX1sC&pg=PA64&lpg=PA64&dq=milagre+do+vistula&source=bl&ots=rIflf1DmkA&sig=ACfU3U2WGFmJT4D8ANAfgszJv6_YZwkFXw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjh2sXHwozqAhU0GbkGHVIGBAAQ6AEwF3oECGoQAQ)
[5] http://casaggi.blogspot.com/2011/09/cosi-leuropa-fu-salvata-dallarmata.html.
[6] “Devocionário…”. pág. 68.
[7] id. ibid.
[8] http://sunday.niedziela.pl/artykul.php?dz=z_historii&id_art=00072.
[9] Palestra de 14 de agosto de 1963.
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