Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 7 anos
Influência ou poder? Já vi, quer juntar os dois. Um ou outro, dependendo das circunstâncias. Se fosse necessário escolher, qual deles? Rumine sem pressa, nem precisa optar agora. E, praticamente, o mais importante é saber agir para ter os dois ao mesmo tempo.
Influência, indica a palavra, fluir para dentro, mexer com o interior, modificá-lo. Poder é imposição, coerção. Nas famílias, tantas vezes o pai tem o poder, pouca ou nenhuma influência. E a mãe, às vezes, sem poder efetivo, exerce influência. O mesmo sucede em famílias estendidas, pais, mães, avós, primos, empresas, grupos de amigos; enfim, em ajuntamentos humanos de todo tipo. Com uns, o poder; com outros, sobretudo a influência. Existem países de gigantesco poder. Há nações de ampla influência e, relativamente, pouco poder. E é sobre isso que pretendo discorrer hoje. Importa especialmente ao Brasil, País vocacionado para a influência, tem valor para qualquer país.
Joseph S. Nye [foto ao lado], professor em Harvard, criou a expressão soft power (poder suave, brando). Está mais ligado à influência que ao poder. Uma das definições do autor: “Soft power á a capacidade de conseguir o que você deseja mediante atração e não coerção ou compra. Brota da atração das políticas, ideais políticos e cultura de um país. Quando nossas políticas são vistas como legítimas aos olhos dos outros, aumenta nosso soft power”. Continua o professor: “A sedução é sempre mais efetiva que a coerção”. Soft power, percepção subjetiva, é simbolismo, irradiação, capacidade de atrair, encantar e ser imitado, até determinar em certa medida a direção da vida.
A ela se opõe a expressão hard power (poder duro). No meio está sharp power (poder cortante). Hard power é poder militar, força econômica. Disse acima, imposição e coerção. Sharp power é a região cinzenta entre os dois extremos, mistura influência e imposição, “confiança na subversão, bullying, e pressão, na promoção da autocensura”, lembra o professor Joseph Nye. Arma de “regimes autoritários, impõe condutas internamente e manipula opiniões externamente”, acrescenta.
O mais conhecido exemplo de sobrevalorização do hard power, acho, vem de Stalin. Em 1935, depois de assinar o pacto de assistência mútua com a Rússia soviética, Pierre Laval, ministro do Exterior francês, queria aliança mais ampla, englobando Mussolini, Inglaterra e até a Igreja Católica. Em conversa com o ditador soviético, para tornar mais fáceis as tratativas, sugeriu a ele que diminuísse a perseguição contra os católicos, duríssima em especial na Ucrânia. Resposta do tirano: “Quantas divisões tem o Papa?” Como o Papa não tinha força militar, nem iria considerar a sugestão. A manifestação boçal do chefe comunista, enorme tolice, negava que o soft power pudesse ser determinante.
Seu maior exemplo de eficácia de que agora me recorde foi a oratória galvanizadora de Winston Churchill durante a 2ª Guerra Mundial, fator decisivo da resistência e vitória da velha Albion. “Winston Churchill mobilizou a língua inglesa e a lançou na batalha”, dito real e que ficou célebre.
Saiu o relatório The Soft Power 30 — a global ranking of soft power — 2017 [Os 30 primeiros Estados em soft power — lista global de 2017, em tradução bem livre], confeccionado sob a coordenação de Jonathan McClory, lido com grande atenção mundo afora por gente influente nos governos, empresas e universidades que contam. Para a elaboração da lista, além de opinião de grandes especialistas, foram ponderados itens como cultura, governo, capacidade de relacionamento, importância e atratividade das universidades, pesquisa, nível da informática; até culinária entra.
A França não lidera apenas em culinária. Em 2017, é a nação mais influente do mundo para tais estudiosos. Em segundo lugar está a Inglaterra. Apenas em terceiro vêm os Estados Unidos. Quarto lugar, Alemanha. A China aparece em 25º, Rússia em 26º, o que mostra a reserva, até mesmo a oposição generalizada a seus intuitos expansionistas, bom sinal.
O Brasil detém a posição 29ª. Mau sinal. Para o empurrão costa abaixo contam vários fatores, dos quais um é o governo lotado de corruptos que vem desde os dois períodos de Lula e, na percepção mundial, continua até hoje. À frente do Brasil estão países como Cingapura (20º lugar), prestigiada pelo ótimo ambiente de negócios, Suíça (7º posto), simpatizada pelo governo eficaz e limpo. Outros países que nos deixam na rabeira: Japão (6º), Dinamarca (11º), Portugal (22ª). O Brasil é o único latino-americano na relação dos 30. Já fora dela, aparecem Chile (32º), Argentina (33º) e México (34º).
Em área, o Brasil é o 5º país do mundo (e não tem desertos nem geleiras), em população é o 6º. Estar jogado na 29º posição mostra desleixo, desperdício de talentos, falta de norte. Sei bem, a avaliação é subjetiva, cada um pode fazer sua própria lista, com base em critérios diferentes dos usados pelos estudiosos. Contudo, grosso modo, é aceitável a classificação, tem a favor argumentos ponderáveis.
Empurrando para fora do quadro ufanismos nacionalisteiros, sentimos que mereceríamos mais. Mereceríamos, condicional, se fizéssemos por onde. Fizéssemos nossa parte. Estamos fazendo? Ninguém vai garantir. A gente colhe o que planta.
O listão estrala como bofetada no rosto (o pior da bofetada é o som, dizia Nelson Rodrigues). Falta criar vergonha e disparar no rumo certo. O começo de qualquer caminhada correta é a constatação humilde, estar fora do destino reto. Depois, propósito sério de pegar a estrada certa. Onde enxergamos isso?
Nas ruas, o que vemos são blocos de foliões, festeiros pelo menos resignados com a deliquescência generalizada. Daqui a pouco os sequelados das fuzarcas estarão lotando delegacias e hospitais onde equipes zelosas atenderão ferimentos, óbitos, bebedeiras, overdose, mães solteiras, sei lá mais o quê.
Por que lembrar agora problemas, tão na contramão do alegre e irrefletido clima carnavalesco que banha (ou suja) o País? Inconformidade. Quem não percebe, nada disso ajuda a encontrar o norte, evitar o desleixo, eliminar o desperdício de talentos humanos e recursos da natureza. Não me conformo — e, estou certo, tenho companhia — em ver meu país que tem tudo para dar certo por décadas teimando em dar errado. Sou dos muitos que anseiam por uma insurreição dos inconformados, incoercível, pacífica e vitoriosa.
Engraçado, fiquei na dúvida, estou achando, o melhor título para o artigo seria “A insurreição dos inconformados”. Vale mais ficar a inconformidade como tema de reflexão, à maneira de um gostinho na boca, do que escolher entre poder e influência. Estimularia a ação dos inconformados, a coorte dos que lançam mão do poder e da influência para levar o Brasil à condição natural disposta pela Providência.
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