Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:51:25 PM
A mídia noticiou, com desagrado evidente, as declarações do Papa Francisco em defesa das palmadas como recurso educativo e disciplinador. Também neste ponto, coloco-me frontalmente contra a mídia, pois considero altamente elogiáveis aquelas posições, ancoradas no mais elementar bom senso. Numa crônica sobre a Bienal de 2014, defendi a palmada como instrumento educativo. Transcrevo-a abaixo, com poucas alterações, como forma de solidarizar-me com o Papa.
Em matéria de arte, sempre estive de um lado só – o de apreciador – pois nunca consegui produzir qualquer imagem ou objeto com alguma qualidade artística, mesmo rudimentar. Não pretendo esconder que me dediquei bastante, e com relativo sucesso, a um tipo de arte muito comum no mundo infantil. Cheguei até a receber muitas vezes as recompensas sonoras e doloridas por esse meu trabalho artístico. Não sei se a expressão fazer arte é conhecida fora da zona onde nasci, pois não a tenho ouvido depois de adulto. Pensando bem, talvez seja resultado daquelas recompensas…
Consultei agora o dicionário, mas só encontrei a definição de arteiro: quem faz traquinices, traquinas, travesso. Quando criança, eu ouvia ambas muitas vezes por dia. Parece-me até um tanto exagerada a frequência com que me acusavam de estar fazendo arte, ou de ser arteiro, mas o fato concreto é que as consequências eram também frequentes, materializadas sob a forma de chineladas sonantes acompanhadas do meu contraponto vocal (conhecido como abriu o bué).
Lembro-me de uma arte dessas, aliás muito bem intencionada. Peguei um pedaço de tábua de meio metro, reuni uma centena de pregos de vários tamanhos, idades e formas, arranquei um tijolo que estava meio solto na parede de uma edícula, e com a ajuda de um martelo consegui firmar o tijolo sobre a tábua com um fio de cobre. Os pregos restantes foram martelados na tábua, ficando alguns na vertical ou inclinados, outros entortaram, poucos concordaram em mergulhar na madeira. Depois apliquei massa de cimento e areia sobre o tijolo.
Mas nesse ponto apareceu, pé ante pé, o par de chinelos em cima do qual caminhava uma pessoa muito querida, mas muito afeita ao uso punitivo do chinelo. Mais uma vez fui pego em flagrante, e ela nem sequer aguardou meu arrazoado sobre o empreendimento artístico. Não havia leis garantindo os direitos da criança, lei da palmada, campanha contra o bullying, tribunais de pequenas causas, tribunais de apelação, sursis, habeas corpus, advogados de defesa. E um castigo pode não ser agradável, mas faz a gente pensar duas vezes antes de repetir a infração.
Rememorando o assunto, não consigo lembrar qual objeto artístico eu queria criar com aquele projeto em andamento. Mas reconheço que havia alguma razão para meu órgão recebedor de chineladas ser torturado naquela ocasião, afinal eu inutilizara uma tábua e muitos pregos, e ainda deixara um buraco na parede.
Quando penso sobre a forma, os componentes, o conjunto daquele meu esboço de obra criativa, vejo que ele teria hoje todas as condições para figurar com destaque em qualquer exposição de arte contemporânea, e até imagino para ele um título muito adequado: Construção. Multidões interessadas disputariam minha obra a preço de ouro, e assim eu resolveria de uma vez por todas o aspecto financeiro e patrimonial. Além dessas vantagens, sem dúvida eu me classificaria como gênio precoce. Não é por acaso que algumas vezes me vem a impressão de ter nascido no tempo errado…
Se você já teve a infeliz ideia de visitar alguma Bienal, sabe bem que estou falando daquela tranqueira disforme, ilógica, malcheirosa, criminosa, deturpadora, que de dois em dois anos entulha amplos espaços construídos e pagos com nosso dinheiro de contribuintes. Nunca faltam nessas exposições os produtos abomináveis de mentes doentias como ateus, perseguidores da Religião, blasfemadores. Na última Bienal, ultrapassou todos os limites o número de produtos asquerosos dessa categoria, e a qualidade das peças de ateísmo e impiedade só fez piorar. Tudo aquilo merece ir para o fogo ou para o lixo. Será isso o que fazem seus compradores ou expositores?
Você deve estar estranhando que eu qualifique de modo intencionalmente agressivo as obras expostas, sem ter ido lá. De fato eu nunca fui e nunca irei, pode estar certo disso. Mas não preciso comparecer à Bienal para avaliar os itens expostos, cujas fotos emporcalham os espaços da mídia.
Pensando bem, acho que obras assim podem resultar da falta do chinelo, quando ele era necessário. Palmatórias, palmadas e chinelos estão sendo banidos dos recursos educativos atuais. Mas não sendo usados na idade oportuna, será necessário recorrer no futuro a instrumentos punitivos maiores, mais fortes e mais convincentes. Saiu dos nossos horizontes o pelourinho, por exemplo, mas seria ótimo que voltasse.
Manifesto minha total concordância com a posição do Papa Francisco a favor das palmadas educativas. Também neste ponto, considero que a mídia censura o que deve ser elogiado, e elogia o que deve ser censurado.
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