Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
17 min — há 5 anos — Atualizado em: 11/22/2019, 5:19:56 PM
No dia 4 de outubro de 2019, festa de São Francisco de Assis, napresença do Papa Francisco e de outros altos dignitários eclesiásticos, realizou-senos Jardins do Vaticano [foto acima]uma cerimônia de caráter claramente religioso, como declarado no comunicado deimprensa do Vaticano de 4 de outubro de 2019: “Durante a cerimônia de oração que encerrou a iniciativa ‘Tempo daCriação’, recentemente promovida pelo Papa Francisco, foi plantada uma árvorede Assis como símbolo da ecologia integral, para consagrar o Sínodo da Amazôniaa São Francisco, no próximo 40º aniversário da proclamação papal de Poverellode Assis como padroeiro dos amantes da ecologia. No final do ato, o Papa rezou oPai Nosso. Representantes dos povos indígenas da Amazônia, frades franciscanose vários representantes da Igreja participaram da cerimônia.”
O que essa declaração ocultou foi o fato de,durante essa cerimônia de oração, terem ocorrido ritos religiosos das religiõespagãs dos nativos sul-americanos. Houve gestos e palavras que expressavam umculto religioso a figuras mitológicas da religião aborígine; acima de tudo,atos de prosternação foram realizados diante de duas figuras femininas grávidasnuas, que deveriam representar a fertilidade. Também havia uma dança religiosaem torno dessas figuras, na qual uma mulher vestida de xamã usava chocalhos quesimbolizavam os deuses pagãos da fertilidade. O uso das “maracás” ou chocalhospelo xamã significa nos cultos indígenas da Amazônia a voz dos espíritos e elessão usados para reivindicar a ajuda do poder dos animais e dos espíritos. As“maracás” são um dos instrumentos mágicos mais poderosos para esses povos. Acabeça da “maracá” é uma cabaça (abóbora), com a cabeça do chocalho com a hasterepresentando a união fecundante do mundo masculino (haste) com o mundo feminino(cabaça). Exatamente essas “maracás” foram usadas na “Cerimônia de Oração” em 4de outubro.
As estátuas representando mulheres grávidasnuas foram então colocadas brevemente na Basílica de São Pedro, em frente dotúmulo de São Pedro, novamente na presença do Papa, e depois durante todo otempo do Sínodo Amazônico na igreja de Santa Maria Traspontina [foto ao lado], em Via dellaConciliazione, onde foram realizadas cerimônias regulares de oração, e issonuma igreja com o tabernáculo e a presença eucarística de Cristo. Além disso, aestátua da mulher grávida e nua foi levada no dia 19 de outubro em uma ViaSacra, organizada pelos participantes do Sínodo.
Nos primeiros dias após essas cerimônias, oVaticano evitou mencionar o significado exato das duas figuras femininasgrávidas nuas. Somente depois de tais figuras terem sido removidas em 21 deoutubro da igreja de Santa Maria em Traspontina e jogadas no Tibre [foto ao lado], foi que o próprio PapaFrancisco anunciou, em 25 de outubro, a identidade delas como devendosimbolizar a Pachamama: “Gostaria dedizer uma palavra sobre as estátuas de Pachamama que foram removidas da igrejana Traspontina e que estavam lá sem intenções idólatras e jogadas no Tibre.Isso foi feito pela primeira vez em Roma e, como bispo da diocese, peçodesculpas pelas pessoas ofendidas por esse gesto.”
O padre jesuíta Fernando López, um dosorganizadores da veneração das estátuas de Pachamama no Vaticano, disse que asmesmas foram compradas num mercado de artesanato em Manaus, na Amazôniabrasileira, acrescentando que a Pachamama faz sentido para todos nós, e quedevemos continuar “a dança da vida emhonra da Mãe Terra”.
Declarar que todos esses atos de culto aestátuas de Pachamama, ocorridos em igrejas durante uma cerimônia de oração,não tenham sido atos de culto nem de religião, mas apenas uma expressão dacultura e do folclore, algo inofensivo e trivial, é negar as evidências e fugirda realidade.
Em face do grave fato de tais atos dúbios deculto religioso — os quais são obviamente pelo menos próximos da superstição e daidolatria —, alguns cardeais, bispos, padres e muitos leigos protestarampublicamente, tendo alguns deles inclusive chamado o Papa Francisco a arrepender-see fazer atos de reparação. Infelizmente, essas vozes corajosas são criticadasaté por bons católicos, muitas vezes com o argumento de que isso significariaum ataque pessoal ao Papa Francisco. Tal raciocínio lembra muito a história dasnovas roupas do rei… Outros consideram o culto às estátuas de Pachamamainofensivo e comparam esta questão à disputa sobre os chamados ritos chineses(chamados de “disputa de acomodações”) nos séculos XVII e XVIII. Aqueles quefazem tais afirmações não têm conhecimento factual do significado da Pachamamapara os povos indígenas e na propaganda mundial da nova “religião Gaia ou MãeTerra” em nossos dias, nem tampouco um conhecimento mais detalhado do problemahistórico dos ritos chineses e da sua solução no século XX.
O fato de o fenômeno “Pachamama” ter umaconotação claramente religiosa já prova sua definição nas fontes de informaçõesgeralmente acessíveis e mais frequentemente consultadas como, por exemplo, naWikipédia, que afirma: “Pacha Mama ouPachamama (do quíchua Pacha, ‘universo’, ‘mundo’, ‘tempo’, ‘lugar’, e Mama,‘mãe’, ‘Mãe Terra’) é a deidade máxima dos povos indígenas dos Andes centrais.Vários autores consideram Pachamama como uma divindade relacionada com a terra,a fertilidade, a uma mãe, o feminino. Pacha-Mama, segundo o conceito que tementre os índios, poderia ser traduzido no sentido de ‘terra grande, diretora esustentadora da vida’. A terra, como geradora da vida, será então assumida comoum símbolo de fecundidade.”
Quem já lidou com o movimento ambiental global,ouviu sem dúvida o termo Gaia. Gaia é um renascimento do paganismo que rejeitao cristianismo, que vê o cristianismo como seu maior inimigo e a fé cristã comoo único obstáculo a uma religião global que se concentra no culto a Gaia e naunificação de todas as formas de vida concentradas em torno da deusa “MãeTerra” ou “Pachamama”. Uma sofisticada mistura de ciência, paganismo, misticismooriental e feminismo fez desse culto pagão uma ameaça crescente à Igreja cristã.O culto à “Mãe Terra”, ou “Gaia” ou “Pachamama” é o foco da política ambientalglobal de hoje.
A Assembleia Geral da ONU de 2009 proclamou 22de abril como o “Dia da Mãe Terra” internacional. Naquele dia, o presidenteboliviano Evo Morales [foto ao lado, noritual à Pachamama], um autoproclamado adorador de Pachamama, fez estadeclaração à Assembleia Geral das Nações Unidas: “Pachamama — a ‘Mãe Terra’ do Quéchua — é uma divindade fundamental davisão de mundo nativa, baseada sobre um total respeito pela natureza. A terranão nos pertence, mas nós pertencemos à terra.”
O fato de a expressão “Mãe Terra” ou“Pachamama” não ser um nome cultural inofensivo, mas de possuir traçosreligiosos, prova-o, por exemplo, também o Manual do Professor publicado em2002 pela UNESCO com o título significativo “Guia do Professor Pachamama”. Nessemanual se afirma, entre outras coisas: “Imagine,a Mãe Terra assume uma forma física e imagine como seria encontrá-la. Como elaficaria? Sobre o que você conversaria com ela? Quais seriam sua principalpreocupação e suas perguntas? Como você as responderia? Onde você poderiaencontrá-la [a Mãe Terra]? Pense em um lugar onde você poderia encontrá-la”.Um lugar, por exemplo, onde alguém poderia encontrar a “Mãe Terra” ou “Pachamama”na representação de mulheres grávidas nuas esculpidas em figuras de madeiraseria na cerimônia de oração nos Jardins do Vaticano, no mencionado dia 4 deoutubro de 2019; na Basílica de São Pedro, na Via Crucis de 19 de outubro, e naigreja de Santa Maria em Traspontina, em Roma.
Dom José Luíz Azcona [foto ao lado], bispo emérito da Prelazia Amazônica Marajó, rejeitoude maneira convincente a absurdidade e insustentabilidade da tese, de que oculto de Pachamama no Vaticano foi uma coisa insignificante. Ele é umconhecedor das religiões e costumes dos índios amazônicos, entre os quais viveupor mais de 30 anos e os evangelizou. Em uma carta aberta de 1º de novembro de2019, Dom Azcona salientou que eram especialmente os “pequeninos” da Igreja — e,sobretudo, os índios amazônicos que se converteram e que vivem intensamente afé católica —, que foram escandalizados pela veneração da Pachamama noVaticano. Eles estavam confusos e profundamente magoados em seu senso de fécatólico. A seguinte declaração de Dom Azcona é comovente: “Mas esse mesmo gesto [de veneração da Pachamama] constituiu umescândalo (e não farisaico) para milhões de católicos no mundo inteiro.Especialmente para os pobres, ‘os pequenos’, para os ignorantes, ‘os fracos’que evidentemente têm o ‘sensus fidei’ (sentido da fé) tão justa epermanentemente defendido pelo Papa Francisco e violentamente golpeados em suaconsciência inerme, indefesa por completo diante de tamanha violênciareligiosa. E de modo particular foram os pobres, os simples, ‘os fracos’, osdesprotegidos da Amazônia, os mais atingidos por esse impacto idolátrico. Elessentiram no mais íntimo, ao menos na Amazônia brasileira, este ataque contra afé cristã, contra a convicção eclesial de que a única Rainha da Amazônia éNossa Senhora de Nazaré, Mãe do Deus Criador e Redentor. Nenhuma outra mãe,nenhuma outra Pachamama andina ou de onde for, e tampouco nenhuma Iemanjá!”
Dom José Luíz Azcona também se referiu aoimpacto devastador que os atos públicos de culto a Pachamama no Vaticanotiveram sobre os protestantes fiéis: “Paraos irmãos Evangélicos e Pentecostais este escândalo tem tido um efeitodevastador. Horrorizados, têm sido testemunhas de cenas de verdadeira idolatriae, entre o espanto e o estupor, se confirmam agora mais e mais na convicçãoerrada de que católico é adorador de ídolos. Já não de santos, santas, José,Maria, senão de verdadeiros demônios. Desta maneira, o diálogoecumênico-inter-religioso ficou abalado com consequências humanamenteirreparáveis e com complicações ecumênicas pesadas para quem queira entender omistério da igreja como ‘Sacramento Universal de Salvação’ (Lumen Gentium)também para os Pentecostais.”
Dom Azcona afirmou de modo apropriado que a ideiae o simbolismo da “Mãe Terra”, da “Gaia”, e também da “Pachamama”, difundidos hoje,não podem ser destacadosmental e religiosamentedo fenômeno das muitasdivindades-mães pagãs históricas: “Lembremosas inúmeras Mãe-Terra que precederam e acompanharam a Pachamama como deusas dafecundidade, da fertilidade, em culturas e religiões de todos os tempos, duasdo âmbito bíblico. No Antigo Testamento, a Astarte (Asherà) é a deusa dafecundidade, do amor sensual e representada nua. […] No Novo Testamento, nolivro dos Atos dos Apóstolos 19, 23-40; 20,1 Ártemis de Éfeso ‘a Grande’, deusada fecundidade representada com a metade do corpo cheio de mamas, resumia o quese entende pela estatua da Mãe-Terra Pachamama”.
A comparação do culto à Pachamama no Vaticanocom a disputa histórica dos ritos chineses é factualmente insustentável. Osrituais chineses envolviam atos de veneração à imagem de Confúcio, uma pessoahistórica que era reverenciada como um grande herói nacional e pensador dacultura chinesa. Além disso, tratava-se de veneração a antepassadosfalecidos. Em ambos os casos, antes dos retratos dessas pessoas históricas, eramrealizados atos de veneração, como uma inclinação ou acender velas. Como essesritos nos séculos XVII e XVIII ainda estavam associados às crenças supersticiosasdo confucionismo como religião, a Igreja os proibiu rigorosamente, para evitarqualquer aparência de superstição e idolatria. No século XX, os atos deveneração a Confúcio eram de natureza puramente civil e ocorreram em lugaresnão sacros e não religiosos. Além disso, as efígies dos antepassados eramveneradas pelos católicos sem a inscrição usual “sede da alma”, como erahabitual entre os pagãos chineses. Assim, após cessar qualquer aparência desuperstição e idolatria, a Santa Sé permitiu os ritos chineses em 1939 por umaInstrução da Congregação da Propaganda Fide; contudo, sob as seguintescondições: é permitido fazer apenas uma inclinação de cabeça diante de umaimagem de Confúcio que for exibida nos locais civis, e se se temer umescândalo, a intenção correta dos católicos deve ser explicada publicamente.Além disso, a Instrução diz que os católicos só podem apresentar gestos deveneração de natureza puramente civil e, se necessário, explicar sua intençãopara eliminar qualquer interpretação incorreta desses atos. O mesmo se aplicaao ato de veneração aos retratos dos antepassados. Além disso, a IgrejaCatólica permitiu o uso de apenas do nome divino inequívoco, isto é, “Senhor doCéu”, e proibiu outros nomes divinos chineses ambíguos, como “Céu” ou “DeidadeSuprema” ou “Imperador Supremo”, proibição que não foi revogada pela Instruçãode 1939.
A diferença essencial entre os ritos de culto àPachamama e os chamados ritos chineses é o fato de a Pachamama ser uma construçãodas mitologias pagãs, isto é, adora-se um mito puro ou um conglomeradoinanimado e impessoal de matéria, como a terra.
Quem afirma que o culto à Pachamama erainofensivo e não se revestia de aspeto religioso, mas apenas cultural, seria ensinadomelhor por uma oração à Pachamama publicada no contexto do Sínodo Amazônicopela “Fondazione Missio”, órgão da Conferência Episcopal Italiana, onde é dito:“Pachamama, boa mãe, sê-nos propícia!Sê-nos propícia! Deixa a semente ter um bom sabor, que nada de ruim aconteça,que não a perturbea geada, que produza boa comida. Pedimos-te: dá-nos tudo!Sê-nos propícia! Sê-nos propícia!”.
O culto de Pachamama praticado no Vaticanodurante o Sínodo da Amazônia é uma forma de superstição idólatra por contergestos que em sua forma original implicam o culto à “Mãe Terra” enquanto umadivindade ou uma forma de superstição não idólatra. Pois esse culto dePachamama expressa a crença na terra como se ela fosse um ser vivo e pessoal;portanto, é um sincretismo que introduz elementos enganosos no culto cristão,que, afinal, sempre deve ser direcionado ao Deus verdadeiro.
Em um artigo publicado em 23 de outubro de 2019na página internet Infocatolica (www.infocatolica.com),Pe. Nelson Medina, OP [foto ao lado],missionário na Amazônia colombiana, desmascara a fraude do culto supostamenteinócuo de Pachamama com a seguinte declaração apropriada: “Devo dizer que a imagem que foi levada a Roma não é representativa daAmazônia colombiana, e acredito que de nenhum lugar da Amazônia. A figura nãorepresenta nada ‘ancestral’ da cultura da Amazônia. Levar tais imagens a esselocal sagrado só pode significar que elas são consideradas como tendo umsignificado religioso porque, caso contrário, seriam expostas em uma galeria dearte ou em um museu de história étnica ou amazônica. A gente pode dizer que aimagem representa fertilidade, mulher ou vida. Mas então a pergunta é: nossa féadora a fertilidade, a vida ou a mulher como tal? Se essa imagem não temcaráter de culto, por que colocá-la junto ao altar onde o sacrifício único esuficiente de Cristo está presente? Não é exatamente essa a violaçãoescandalosamente pública do Primeiro Mandamento da Lei de Deus?”.
Os representantes do Vaticano também usaram SãoJohn Henry Newman para com sua ajuda legitimar o culto de Pachamama. Contudo,esta comparação é exagerada e factualmente imprecisa, como o demonstrou deforma convincenteo Pe. Nelson Medina ao indicar que John Henry Newman estava sereferindo a algumas ações ou objetos relativamente neutros em si mesmos e quepodem ser transformados em seu significado e usados na Igreja. As imagensprojetadas para o Sínodo Amazônico não têm nada dessa neutralidade: “celebrar a ‘vida’ sem adorar a Deus, oúnico Criador, é simples paganismo. E com os ídolos pagãos, seja o bezerro deouro ou o dinheiro dos comerciantes no templo de Jerusalém, são necessáriasações firmes e claras […] que podem alcançar o Tibre”.
Em todos os tempos, e também através daInstrução de 1939 sobre os ritos chineses, a Igreja Católica, à imitação fieldo comportamento dos Apóstolos, esteve escrupulosamente engajada em suaspalavras e ações, para evitar qualquer sombra de idolatria (idolatria) e desuperstição (superstitio), bem comopara não dar a menor aparência disso (ver também São Tomás de Aquino, Summa theol., IIa IIae, q 93, a.1).
Ainda sobre o culto à Pachamama no Vaticano, oadvogado italiano pró-vida Gianfranco Amato (ver seu ensaio em “La Verità” de14 de novembro de 2019) o resume do seguinte modo:
“RetratarPachamama como um ícone da cultura indígena da Amazônia não significa apenasdistorcer a realidade, mas negar e humilhar a diversidade das verdadeirasculturas amazônicas a fim de impor uma visão teológica indígena para imporobjetivos puramente ideológicos e políticos.
“Opresidente mexicano López Obrador [fotoao lado] realizou um ritual em homenagem à divindade Pachamama parasolicitar permissão de construir a ferrovia Maya no sudeste do México. HugoChávez, Nicolas Maduro, Cristina Fernández de Kirchner, Andrés Manuel LopezObrador, Evo Morales e Daniel Ortega são apenas alguns chefes de Estado queparticiparam oficialmente de cultos em homenagem à Mãe Terra. Portanto, não éapenas um fato religioso puramente peruano, mas estamos diante de um fatopolítico real que está inserido em uma agenda política precisa que promove o pensamentopanteísta. Exclui a ideia cristã de um Deus transcendente em relação à criaçãoe coloca a dignidade da terra acima da dignidade da pessoa humana. Umarevolução cultural copernicana está sendo tentada: superar o antropocentrismoda modernidade com um ‘geocentrismo’ ecológico. A Terra, e não o ser humanodeveria estar agora no centro do cosmos, a tal ponto que já ouvimos discursosem que a limitação dos direitos humanos em favor dos ‘direitos’ da Terra éteorizada.
“A Pachamamaé um engano teológico para os cristãos. Como vimos, é uma divindade inca pagã.As imagens que a reproduzem do ponto de vista teológico são simplesmenteídolos. O fato de um teólogo, um padre, um bispo, um cardeal, um papa ou umsimples crente não conseguir reconhecer esse fato aparentemente indiscutívelparece realmente perturbador e completamente incompreensível. Poderíamos dizerque estamos diante de um novo eclipse de consciência, desta vez não na esferada lei da vida, mas na esfera do primeiro e mais importante mandamento: nosdireitos de Deus. A isso advém a circunstância agravante de que não apenas aconsciência de um povo, mas a consciência da própria Igreja é obscurecida poresse culto de Pachamama. À luz da revelação divina contida na Palavra de Deus,na Tradição da Igreja e no Magistério, a pergunta é muito simples: fazer ídolospara adoração é um pecado muito grave. Prostrar-se diante dos ídolos éidolatria. Oferecer-lhes dons e sacrifícios, carregando-os em triunfo,colocando-os em um trono, coroando-os e queimando-os incenso é uma idolatriamanifesta totalmente imoral. Colocá-los em altares ou em igrejas consagradaspara adorá-los é uma profanação verdadeira e clara.
“Oculto à Pachamama é uma decepção em termos de compreensão da tolerância. Asensibilidade dos fiéis parece ferida quando experimentam o sombrio espetáculode ídolos adorados nas igrejas católicas. É um fato profundamente desagradávelque requer uma condenação estrita. Isso não é falta de respeito ou tolerânciaem relação a pessoas que professam uma religião diferente. Respeitamos ascrenças religiosas de todos, mas trata-se de impor tolerância à idolatria nasIgrejas católicas e em locais profanados pela presença de ídolos. Isso não éaceitável. Tolerar tudo isso significa ser cúmplices da profanação. Por essemotivo, o gesto de ‘idoloclasmo’ (destruição de ídolos), corajosamenterealizado na Igreja romana de Santa Maria na Traspontina, é a expressão da maisnobre fé. Não é assunto de calúnia, mas merece um elogio.
“Oculto à Pachamama é um engano da inculturação. O princípio da inculturação é aproclamação do Evangelho, que pode ser acolhida por todos os povos de todas asculturas. O dinamismo da evangelização leva a um processo gradual detransformação da cultura que acolhe a Palavra de Deus e penetra no coração damesma cultura através da conservação do bem, da purificação do mal que estácontido nela, e traz uma evolução dinâmica da fé que sempre pode renovar tudo.Sem considerar o critério do contraste não podemos falar de inculturação. Éclaro que a evangelização é um contraste necessário com os graves aspectosimorais das culturas que ela busca alcançar e, obviamente, exige a renúncia àidolatria.”
A saga da Pachamama é um raio-x preciso doestado interior da Igreja neste momento dramático da História, lembrando daspalavras verdadeiramente proféticas do Prof. Joseph Ratzinger em seu ensaio Os novos pagãos e a Igreja, publicadopela primeira vez na revista “Hochland” (outubro de 1958). As seguintes palavraschocantes de Joseph Ratzinger podem certamente ser lidas como uma espécie decomentário atual sobre o acontecimento do culto à Pachamama ocorrido noVaticano e justificado pelo Papa Francisco: “Opaganismo hoje está na própria igreja, e é isso que caracteriza a Igreja denossos dias, bem como o novo paganismo, de que é um paganismo na Igreja e umaIgreja em cujo coração vive o paganismo”.
As seguintes palavras flamejantes do coração deDom José Luíz Azcona, um missionário amazônico e um digno sucessor dosapóstolos, continuam brilhando na história:“Um dos aspectos mais vergonhosos deste gesto idolátrico [no Vaticano] tem sidoo esmagamento da consciência dos ‘pequenos’ pelo escândalo.”
Em vista do fato inegável da gravidade objetivados atos de culto à Pachamama no Vaticano, com suas nítidas implicações pseudo-religiosase sua instrumentalização pela propaganda da religião mundial globalista da “MãeTerra”, pode-se ainda falar de inocuidade desses atos ou refugiar-se no álibidos “ritos chineses”? Isso significaria defender o indefensável.
Na época da grande confusão eclesial doutrinale pastoral da crise ariana no século IV, Santo Hilário de Poitiers [quadro ao lado], o Atanásio doOcidente, tinha a convicção de que esse estado não devia ser aceito comsilêncio ou por uma minimização da situação. Estas suas palavras, citadas aseguir, são extremamente oportunas e assaz aplicáveis ao escândalo acontecidono Vaticano pela veneração da Pachamama: “Apartir de agora, o silêncio não seria mais chamado de discrição, mas deinércia” (Contra Const. 1).
Todos na Igreja dos nossos dias que nãominimizaram nem aceitaram silenciosamente os atos de culto a Pachamama noVaticano, mas levantaram sua voz de advertência, devem ser objeto de gratidão eapreço, antes de tudo os leigos que, movidos por seu senso sobrenatural de fé eatravés de seus atos, expressaram seu verdadeiro amor e respeito pelo Papa epor sua Mãe, a Santa Igreja Católica.
18 de novembro de 2019
+ Athanasius Schneider,
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Mariaem Astana
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* Matéria publicada orignalmente em alemão no site Kath.net (19-11-19). Em inglês foi publicada por www.lifesitenews.com (20-11-19).
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