Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
Além de suas capacidades naturais, a graça divina e sua devoção contribuíram para a clareza e profundidade de seus escritos, fazendo dele o "Doutor Angélico".
7 min — há 1 ano — Atualizado em: 7/21/2023, 8:15:01 AM
Desde os dias de Aristóteles, provavelmente nenhum homem exerceu uma influência tão poderosa sobre o mundo do pensamento como São Tomás de Aquino. Sua autoridade foi tão grande que os papas, as universidades, o estudo de sua Ordem estavam ansiosos para lucrar com seu aprendizado e prudência […]. Sua suprema importância e influência podem ser explicadas por considerá-lo como o Aristóteles cristão, combinando em sua pessoa o melhor que o mundo conheceu na filosofia e na teologia. Seus princípios, divulgados por seus escritos, continuaram a influenciar os homens até hoje.
Veja explicação no link:
https://www.abim.inf.br/tres-grandes-centenarios/
São Pio V proclamou São Tomás de Aquino Doutor da Igreja Universal no ano de 1567. Na encíclica Aeterni Patris, de 4 de agosto de 1879, sobre a restauração da filosofia cristã, Leão XIII declarou-o “príncipe e mestre da todos os doutores escolásticos”. O mesmo pontífice, por Breve datado de 4 de agosto de 1880, constituiu-o “patrono de todas as universidades, academias, colégios e escolas católicas do mundo”.
São Tomás viveu no século XIII, a idade de ouro da educação, e estudou em Monte Cassino, Nápoles, Paris e Colônia, tendo por professor Santo Alberto Magno.
Embora tenha morrido com menos de 50 anos, ele compôs mais de 70 obras, algumas delas auxiliado por secretários, pois seus biógrafos asseguram que ele podia ditar a vários escribas ao mesmo tempo.
Os livros que mais influenciaram sua mente foram a Bíblia, os Decretos dos concílios e dos papas, as obras dos Padres gregos e latinos, especialmente de Santo Agostinho, as Sentenças de Pedro Lombardo, e os escritos dos filósofos, especialmente de Platão, Aristóteles e Boécio.
Escreve o Pe. Kennedy: “Várias de suas obras importantes foram escritas a pedido de outros, e sua opinião foi procurada por todas as classes. Em várias ocasiões, os Doutores universitários de Paris encaminharam suas disputas a ele, e acataram com gratidão sua decisão. A obra de sua vida pode ser resumida em duas proposições: estabeleceu as verdadeiras relações entre fé e razão, e sistematizou a teologia.”
Prossegue o Pe. Kennedy: “Não é possível caracterizar o método de São Tomás por uma palavra, a menos que ele possa ser chamado de eclético. É aristotélico, platônico e socrático; é indutivo e dedutivo; é analítico e sintético. Ele escolheu o melhor que pôde encontrar naqueles que o precederam, cuidadosamente separando o joio do trigo, aprovando o que era verdadeiro, rejeitando o falso. Seus poderes de síntese eram extraordinários. Com Santo Agostinho ele sustentou que tudo o que havia de verdade nos escritos de filósofos pagãos deveria ser tirado deles, como de ‘possuidores injustos’, e adaptado para o ensinamento da verdadeira religião (Summa I:84:5).”
São Tomás dizia que, em filosofia, os argumentos de autoridade são de importância secundária; a filosofia não consiste em saber o que os homens disseram, mas em conhecer a verdade. Ele atribui seu devido lugar à razão usada na teologia, mas a mantém dentro de sua própria esfera. Seus princípios sobre as relações entre fé e razão foram proclamados solenemente no I Concílio Vaticano, principalmente na Constituição Dei Filius.
Nenhum escritor teve, como São Tomás, a faculdade de expressar em poucas palavras bem escolhidas a verdade recolhida de uma multidão de opiniões variadas e conflitantes. De Aristóteles ele aprendeu aquele amor pela ordem e precisão de expressão que são características de suas próprias obras.
“Deve-se ter em mente que São Tomás foi abençoado com uma memória retentiva e grandes poderes de penetração” — continua o Pe. Kennedy. “O padre Daniel d’Agusta uma vez o pressionou para que dissesse o que considerava a maior graça que já havia recebido, excetuando a graça santificante. ‘Acho que de ter entendido tudo o que li’, foi a resposta. Santo Antonino declarou que São Tomás ‘se lembrava de tudo o que havia lido, de modo que sua mente era como uma enorme biblioteca’. A simples enumeração dos textos das Escrituras citados na Summa Teológica preenche oitenta colunas de letras pequenas na edição de Migne, e por muitos é razoável supor que ele aprendeu os Livros Sagrados de cor enquanto estava preso no Castelo de São João. Como São Domingos, ele tinha um amor especial pelas Epístolas de São Paulo, sobre as quais escreveu comentários (edição recente em 2 vols., Turim, 1891)”.
A clareza e a profundidade que o Doutor Angélico mostra em seus escritos, dificilmente se deve a causas meramente naturais ou de formação científica. É necessário ir bem mais além para tentar explicá-las.
É bem verdade que sua educação era tal que grandes coisas poderiam ser esperadas dele. Seu treinamento em Monte Cassino, em Nápoles, Paris e Colônia foi o melhor que o século XIII — a idade de ouro da educação — poderia oferecer.
Entretanto, por mais que ele fosse superlativamente dotado de dons naturais, isso só não explica a profundidade e amplidão de seus escritos sem se considerar o papel da graça em todos os seus empreendimentos.
Mesmo que não consideremos como literalmente verdadeira a declaração de João XXII quando o canonizou, de que São Tomás realizou tantos milagres quantos são os artigos da Summa, devemos, no entanto, ir além das causas meramente naturais na tentativa de explicar sua extraordinária carreira e maravilhosos escritos.
O teólogo que seguimos apresenta três considerações que se devem tomar em conta para isso.
A primeira é que a pureza da mente e do corpo contribui em grande parte para a clareza da visão, como o próprio São Tomás afirma. Pelo dom da pureza a ele milagrosamente concedido na época do místico cinturão [vencendo grave tentação contra a pureza, ele foi cingido por dois anjos com um cordão místico que o protegeu contra os pecados de impureza], Deus tornou angelical a vida de Tomás; a perspicácia e a profundidade de seu intelecto, auxiliada pela graça divina, fizeram dele o “Doutor Angélico”.
Ademais, o espírito de oração, sua grande piedade e devoção, atraíram bênçãos para seus estudos. Explicando por que lia todos os dias partes das Conferências de Cassiano, ele disse: “Nessa leitura encontro devoção, de onde subo prontamente à contemplação.” Nas lições do Breviário lidas em seu dia de festa, afirma-se explicitamente que ele nunca começou a estudar sem antes invocar a ajuda de Deus na oração; e quando ele lutou com passagens obscuras das Escrituras, à oração ele acrescentou o jejum.
Por outro lado, “fatos narrados por pessoas que o conheceram em vida ou escreveram na época de sua canonização, provam que ele recebeu assistência do Céu. Ao padre Reginaldo ele declarou que havia aprendido mais em oração e contemplação do que havia adquirido com homens ou livros. Esses mesmos autores falam de visitantes misteriosos que vieram encorajá-lo e esclarecê-lo. A Santíssima Virgem apareceu para assegurar-lhe que sua vida e seus escritos eram aceitáveis a Deus, e que ele perseveraria em sua santa vocação”.
“São Pedro e São Paulo vieram ajudá-lo a interpretar uma passagem obscura de Isaías. Quando a humildade o levou a considerar-se indigno do doutorado, um venerável religioso de sua Ordem (supostamente São Domingos) apareceu para encorajá-lo e sugeriu o texto para seu discurso de abertura. Seus êxtases foram mencionados. Suas abstrações na presença de Luís IX (São Luís, Rei da França) e de visitantes ilustres são relatadas por todos os biógrafos”.
Para terminar, um pequeno fato que diz muito: o quase contemporâneo de São Tomás e um de seus primeiros biógrafos, Pedro Calo (1300), afirma que seus traços físicos correspondiam à grandeza de sua alma. Ele era de alta estatura e de maciça construção, mas ereto e bem proporcionado. Sua tez era “como a cor do trigo novo”: sua cabeça era grande e bem torneada, e ele era ligeiramente calvo. Todos os retratos o representam como nobre, meditativo, gentil, mas forte.
Essa descrição completa muito bem o quadro sobrenatural e moral que temos desse grande santo, um verdadeiro “Doutor Angélico”.
____________
Nota:
* Rev. D. J. Kennedy, sábio Dominicano, Teólogo, Dies (N. C. W. C. News Service.), Washington, 17 de abril. — Pe. Daniel J. Kennedy, 0.P., foi Professor de Teologia na Universidade Católica da América e conhecido autor de obras teológicas, era considerado uma autoridade na Filosofia de São Tomás de Aquino e escreveu vários livros sobre o assunto.
Seja o primeiro a comentar!