Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 11 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:25:47 PM
O fato se passou na sala de espera de um consultório médico. Várias pessoas aguardavam sua vez de serem atendidas, entre elas eu.
Chamou-me a atenção uma senhora, ainda jovem, com seu filhinho. Ela se portava com muita dignidade e distinção. Vestido caindo abaixo dos joelhos, bem composta, olhar recatado. O menino estava nessa fase da existência em que se descobre a alegria de viver, de falar, de andar. Serelepe, ele corria de um lado para outro dentro da sala, mas sempre voltando a um ponto fixo, a mãe.
Ela o vigiava com o olhar, parecia comprazida com a movimentação do pimpolho, mas não lhe dizia nada. Em certo momento, porém, ele começou a mexer no abajur da sala. Temerosa talvez de que ele provocasse um pequeno desastre, o que não era de se excluir, ela o chamou.
— Luizinho, vem cá. Meu filho, não mexa no abajur. Diz um velho ditado que um menino prevenido vale por dois. É arriscado o abajur cair e o médico ficará zangado com você.
— Sim senhora, mamãe, disse ele, continuando suas andanças pela sala, sem mexer mais no abajur.
Em certo momento, voltando para onde estava sua mãe e pondo as pequenas mãos sobre os joelhos dela, perguntou, numa atitude inocente de intimidade e confiança:
— Mamãe, o que é mesmo que disse o velho deitado?
Todos na sala esboçaram um sorriso. Menos a mãe, que com toda a seriedade respondeu.
— Não, meu filho, não é o velho deitado, é um velho ditado.
— E qual a diferença, mamãe?
Foi aí que, junto com todos os presentes, pude apreciar uma cena delicada e admirável a uma só vez. A senhora se inclinou ligeiramente para o menino e, acariciando-o, explicou-lhe detalhadamente, em linguagem acessível àquela mente infantil, com numerosas imagens e comparações, a diferença existente entre um velho deitado e um velho ditado.
Entretanto não eram apenas as palavras. Enquanto falava, ela fazia sentir ao menino tanto afeto, tanta proteção, tanto carinho, tanto esmero no que dizia, sem dar a entender em nada o quanto sua pergunta era cômica e até extravagante, que o garoto olhava para ela encantado e embevecido. Ao mesmo tempo, ela falava com autoridade, seu tom de voz era o de quem ensina e quer ser compreendida, mas sem qualquer aspereza nem acidez.
O menino sentia bem, embora de modo incipiente, tanto quanto a uma criança é dado sentir, que se andasse no bom caminho, teria sempre a seu lado a proteção materna a ampará-lo nas dificuldades e agruras da vida. Sentia também, por contraste, que caso viesse a rolar por descaminhos, causaria uma dor incomensurável à sua mãe e não teria seu apoio nem seu beneplácito.
Na sala, o silêncio se fez. Ninguém sequer se mexia. Todos estavam emocionados diante daquela cena tão singela, mas que tocava ao sublime.
Lembrei-me então de outra senhora que tive a dita de conhecer – eu ainda jovem, e ela já na extrema velhice. Era a mãe do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, a tradicional dama paulista Da. Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira. Era aquela bondade, aquela afabilidade, aquela firmeza de princípios morais e religiosos, transmitidos com inabalável certeza e incomparável suavidade!
Chegara a vez de o menino ser atendido no consultório. Sua mãe o tomou com delicadeza pela mão — “Vamos meu filho” — e passou pela porta divisória. Pensei: “Qual! Esta senhora só pode ser católica!” Só o espírito católico é capaz de, com tanta certeza e determinação, transmitir uma seriedade tão afável, de modo tão aprazível e com tanta ternura. Lembrei-me da Virgem Maria e do Menino Jesus.
Gregorio Vivanco Lopes
173 artigosAdvogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".
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