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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Santa Casa de Loreto — a trasladação angélica

Por Revista Catolicismo

8 minhá 4 anos — Atualizado em: 9/8/2020, 2:39:30 AM


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Afresco “Nascimento da Virgem” (entre 1486 e 1490), na Capela Tornabuoni da Igreja Santa Maria Novella (Florença). Obra o artista florentino Domenico Ghirlandaio (1449 – 1494).

Neste dia 8 de setembro celebramos o aniversário de Nossa Senhora — Sua Natividade na Santa Casa de Nazaré, que foi transladada milagrosamente para Loreto na Itália, no século XIII. Naquele sacrossanto recinto, Ela foi educada por seus veneráveis pais, Sant´Ana e São Joaquim, e ali também recebeu a Visitação do arcanjo São Gabriel, quando Lhe anunciou de que Ela fora escolhida para ser a Mãe de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Fonte: Revista Catolicismo, Nº 837, Setembro/2020.

Há 100 anos, em 24 de março de 1920, o Papa Bento XV proclamou Nossa Senhora de Loreto Padroeira dos Aeronautas. Para comemorar esse centenário, iniciou-se em 8 de dezembro de 2019 um Jubileu Lauretano para os viajantes de avião, militares e civis, bem como para fiéis do mundo inteiro que visitarem a Santa Casa de Loreto (Itália). O Ano Santo, durante o qual se pode receber a indulgência plenária, se encerrará em 10 de dezembro de 2021.

O bispo de Loreto, Dom Fabio Dal Cin, lembrou que “a indulgência plenária de ano jubilar incentivará os fiéis que atravessarão a Porta Santa a pedir o dom da conversão a Deus e a reviver sua devoção filial Àquele que nos protege nas viagens aéreas”.

Quase concomitantemente com o anúncio do Jubileu, a Congregação para o Culto Divino introduziu em 7 de outubro de 2019 a Memória facultativa de Nossa Senhora de Loreto no Calendário Romano Geral, a ser celebrada em 10 de dezembro. Mas omitiu-se totalmente qualquer referência à trasladação milagrosa da Santa Casa; e também não se enfatizou que, ao longo dos séculos, precisamente esse fato miraculoso está no cerne da veneração dos fiéis. Formulações assim, insuficientes, ambíguas ou contraditórias, infelizmente tornaram-se típicas em muitos membros da Hierarquia católica nas últimas décadas.

Note-se também que Nossa Senhora de Loreto foi declarada Padroeira dos Aeronautas, mas esta é uma profissão que nem sequer existia quando se deu a trasladação da Santa Casa de Loreto (de 1291 a 1296, em várias etapas – Ver adiante). Vincula-se a escolha desse título de padroeira a um reconhecimento tácito da trasladação aérea miraculosa por meio dos anjos, pois não se justificaria se ela tivesse sido trasladada por via marítima, graças à perícia de homens do mar. Além disso, a liturgia secular sempre celebrou a trasladação das paredes, e não da imagem de Nossa Senhora venerada em Loreto. Os textos escolhidos para a missa e o decreto do culto divino ignoram todos esses aspectos milagrosos.

Trasladação da casa de Maria para Loreto – Anônimo, primeira metade do séc. XVI.

Histórico comprovado das trasladações

Basílica da Anunciação, em Nazaré, lugar onde originalmente se encontrava a casa da Sagrada Família.

            Entre 9 e 10 de maio de 1291, quando se aproximava o fim da presença dos cruzados na Terra Santa, um acontecimento extraordinário ocorreu em Nazaré, na Palestina. Naquela noite desapareceu da Basílica da Anunciação uma preciosa relíquia, guardada ali durante séculos: a Santa Casa onde residira Nossa Senhora. Nela a Virgem Santíssima recebera o anúncio do arcanjo Gabriel e dera o seu consentimento (Fiat). O Verbo então se fez carne, iniciando-se assim a Redenção da humanidade.

            Quem fosse àquele vilarejo da Galiléia a partir de 10 de maio de 1291 não encontraria mais as três paredes que compunham o lar da Sagrada Família, ali presentes até o dia anterior. Eram apenas três paredes, porque a quarta correspondia ao fundo representado por uma pedreira, num tipo de construção comum na Palestina. As paredes reapareceram na manhã do mesmo dia na floresta de Tersatto (hoje um distrito da cidade de Rijeka, na Croácia).

            A partir de então, durante exatamente três anos, a famosa relíquia se tornou um destino de peregrinações e devoção. Na noite entre 9 e 10 de dezembro de 1294, a Santa Casa desapareceu milagrosamente de Tersatto, do mesmo modo como ali chegara. As três paredes, marcadas pela presença da Sagrada Família, chegaram depois à Itália na região das Marcas, território pertencente aos Estados Pontifícios.

            Historicamente, antes de chegar aonde é hoje venerada, sua presença foi confirmada em três lugares: em Ancona (na localidade de Posatora) e em Loreto, primeiro na planície (atual local de Banderuola); depois no campo de propriedade de dois irmãos (em frente ao atual santuário); e finalmente, em dezembro de 1296, instalou-se onde se encontra hoje. Segundo a tradição, imortalizada em inúmeras pinturas e esculturas, todas as trasladações mencionadas ocorreram milagrosamente pela ação de anjos.

            Ninguém no mundo católico duvida de que se encontra em Loreto a Santa Casa de Nazaré. No entanto, há algumas décadas sua trasladação angélica foi infelizmente reduzida a uma mera lenda, difundida assim por eclesiásticos que se obstinam em seguir os passos maliciosos de protestantes, iluministas e modernistas.

            Seria crível o transporte das paredes sagradas ter ocorrido por meio de homens? Como explicar tanta troca de lugares? Muito estranho também seria operações assim, de si complexíssimas, não terem sido planejadas, executadas nem documentadas de nenhuma forma por ninguém. Teria sido tecnicamente possível enviar por navio, tantas vezes, pedras que depois se reorganizariam de modo perfeito? Por que colocar a Santa Casa numa via pública, sendo que a lei local proibia ali qualquer construção, sob pena de prisão?

            O arquiteto Federico Mannucci, em um documento de 1923, afirmou: “É absurdo pensar que a casa poderia ter sido transportada por meios mecânicos […]. O que é surpreendente e extraordinário é o edifício da Santa Casa permanecer inalterado, sem a menor sustentação e sem o menor dano às paredes; pois não possui fundação e está localizado em terreno sem consistência, dissolvido e sobrecarregado, ainda que parcialmente, com o peso da abóbada construída no lugar do telhado”. O arquiteto Giuseppe Sacconi afirmou que “a Casa Santa é parcialmente apoiada no final de uma estrada antiga e parcialmente suspensa acima da vala adjacente”, razão pela qual não pode ter sido construída ou reconstruída como está, no local onde se encontra.

Interior da Santa Casa de Loreto [Foto: Michael Gorre].

A tradição sustentada pela construção

            Outro elemento comprobatório provém da técnica de construção. A argamassa com a qual as pedras em Loreto são ligadas vem da Palestina na época de Jesus. Como compatibilizar esta evidência com uma reconstrução posterior a um eventual transporte por navio? Como seria possível também, após muitas mudanças e várias reconstruções, não ser alterada a geometria perfeita da Santa Casa, que combina inteiramente com as dimensões das fundações deixadas em Nazaré?

            O transporte humano da Santa Casa é uma mera hipótese, sem nenhuma prova, e serve apenas para minar a fé do peregrino, contradizendo séculos de estudos e demonstrações, além de numerosos pronunciamentos pontifícios e testemunhos de santos. Como geralmente acontece, a tradição da Igreja é muito mais confiável e “científica” do que a suposta modernidade dos progressistas católicos.

Baluarte na luta contra o islã e lugar de milagres

Nossa Senhora e o Menino na Santa Casa de Loreto, anônimo, séc. XVII

            Para conhecer com mais profundidade sobre a “questão lauretana”, recomendamos a leitura do livro O milagre da Santa Casa de Loreto, escrito pelo jornalista italiano Federico Catani(lançado recentemente em português pela Ambientes & Costumes Editora, São Paulo). A obra se destaca por seu rigor histórico sólido e convincente, tanto quanto pela riqueza do material iconográfico. É um excelente guia para quem, neste ano do Jubileu Lauretano, deseje conhecer melhor aquelas paredes onde a Virgem Mãe de Deus foi concebida imaculada e recebeu o anúncio do arcanjo Gabriel.

            O livro não apenas comprova a veracidade histórica das trasladações milagrosas da Santa Casa, como trata de toda a história do Santuário de Loreto e de seu papel essencial na história do cristianismo universal e na defesa da Europa; por exemplo, dos papas e dos generais que se voltaram para Nossa Senhora de Loreto antes de travar as batalhas mais decisivas da Cristandade contra o Islã: a de Lepanto (1571) e a de Viena (1683).

            Centenas de homens ilustres — reis, rainhas, santos, homens de letras, filósofos e músicos — foram como peregrinos a Loreto, onde milagres extraordinários de cura e conversão ocorreram e ainda ocorrem.

            Foi entre aquelas paredes que São Luís Maria Grignion de Montfort teve a inspiração para escrever seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. De fato, que lugar haveria mais adequado para fazer a escolha de viver o cativeiro de amor por Nossa Senhora? Assim como Nosso Senhor, encarnado no ventre de Maria Santíssima, se tornou completamente dependente dela, também os católicos que fazem a consagração pregada por esse santo vandeano se entregam totalmente à Mãe de Deus.

Santuário da Santa Casa de Loreto, Itália.

Princípios não negociáveis         

Nas páginas finais do livro, o autor afirma que a Santa Casa pode e deve ser vista pelos fiéis do terceiro milênio como o Santuário dos princípios não negociáveis, e também como ponto de referência para os desafios que nos aguardam no futuro próximo. Em Loreto, portanto, é possível encontrar a energia espiritual para combater, com especial vigor nestes tempos calamitosos, o bom combate em defesa de princípios inegociáveis: a sacralidade da vida inocente desde a concepção até a morte natural; a verdade antropológica do homem e da família; a intangibilidade do casamento como uma união fecunda sacramental e indissolúvel entre o homem e a mulher; e o direito prioritário dos pais de educar seus filhos.

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