Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
Santa Isabel de Portugal: Rainha virtuosa e pacificadora, exerceu grande influência na reconstrução e prosperidade de Portugal. Sofreu com a infidelidade do marido, mas praticou a virtude da paciência e operou milagres.
9 min — há 1 ano — Atualizado em: 7/4/2023, 8:41:39 AM
Jaime I de Aragão, a História o registra com os epítetos de Conquistador, por suas glórias militares, e de Santo, por sua admirável piedade. Havia rompido relações com seu filho e herdeiro Pedro (a quem foi atribuído o cognome de Grande) devido a seu casamento sem o consentimento paterno com a Princesa Constança, filha do Rei da Sicília.
Essa situação anômala terminaria do modo mais inesperado: Jaime I considerou o primeiro fruto dessa união, Isabel, um sinal de predileção de sua tia-avó, Santa Isabel da Hungria. O grande guerreiro foi tão conquistado pela recém-nascida, que perdoou o filho e desejou exercer a guarda da menina a fim de guiá-la em seus primeiros anos. Assim começou, desde o berço, a ação da futura santa.
Pode-se dizer que nela a piedade nasceu com o despertar para a vida; quando chorava como qualquer outro bebê, bastava alguém mostrar-lhe um Crucifixo ou uma imagem da Virgem para que silenciasse. Daquele pequeno ser emanava tanta unção e suavidade, que as damas do palácio consideravam uma graça o poder contemplá-la.
Aos cinco anos de idade Isabel perdeu seu virtuoso avô e voltou para o lar paterno, onde cresceu em graça e santidade. Aos oito anos já recitava diariamente o ofício divino.
Isabel pensava em consagrar a Deus sua virgindade, mas por iluminação divina e recomendação do confessor compreendeu que, como princesa, deveria aceitar um esposo e fazer brilhar no trono as virtudes evangélicas. Por isso, aos 12 anos contraiu matrimônio com Dom Dinis, rei de Portugal.
Na corte portuguesa ela continuou a ser um modelo de virtude, como fora na de Aragão. Seu bom exemplo levou muitas damas da nobreza a viver tão cristãmente como a rainha. A fama desse bom exemplo chegou rapidamente a todos os rincões de Portugal, excitando em toda parte uma santa emulação.
Quando Isabel chegou, Portugal já havia varrido de seu território o jugo maometano e ampliado suas fronteiras até os limites atuais, entrando numa nova era de paz e prosperidade. Dom Dinis reconstruiu cidades devastadas pela guerra, fundou hospitais e escolas, entre elas a célebre Universidade de Coimbra. Restaurou e construiu igrejas, orfanatos para os filhos dos mortos na guerra, e sobretudo dedicou-se à agricultura com tal afinco, que recebeu da posteridade os títulos de Rei Lavrador e Pai da Pátria. Evidentemente, Santa Isabel exerceu grande papel em tudo isso, o que lhe valeu na época o epíteto de Rainha dos Agricultores.
Isabel foi um exemplo de respeito, amor e obediência ao marido. Este, embora dotado de muitas qualidades que o tornavam amigo da justiça e da verdade, deixou-se levar, quando jovem, por maus exemplos, mantendo muitas ligações ilícitas das quais nasceram vários filhos bastardos. Pesando-lhe mais a ofensa feita a Deus que a si própria e o escândalo público que representava tal procedimento, a rainha sofria e praticava a virtude da paciência para com as misérias morais do marido, rezando e sacrificando-se por ele, e procurando atraí-lo para uma vida virtuosa. A bem da verdade, é necessário dizer que D. Dinis soube compreender a grandeza de alma da esposa, concedendo-lhe inteira liberdade tanto para suas devoções quanto para a prática da caridade. Tal paciência levou-o finalmente a reconhecer seus erros, emendar-se de sua depravação e fazer penitência por seus pecados.
Quem não sofria com a mesma resignação os pecados do rei era o Infante Afonso, seu filho, que desejava nobremente fazer cessar o ultraje feito à sua mãe. Certo dia, declarou-se em aberta revolta contra o pai. Este resolveu aprisionar de surpresa o filho e encerrá-lo numa torre até o fim de seus dias. A rainha descobriu o plano do marido e mandou alertar o filho do perigo que corria. Alguns cortesãos mal-intencionados acusaram-na perante o rei de ser partidária do filho rebelde e auxiliá-lo até com armas. Demasiado crédulo, o monarca expulsou Isabel do palácio, privou-a de todas as rendas e desterrou-a para a cidade de Alenquer.
Afonso solicitou o auxílio de Aragão e de Castela contra o pai. A guerra civil era inevitável. Tendo conhecimento do perigo desse conflito, Isabel abandonou Alenquer contra a ordem do marido e dirigiu-se a Coimbra, onde estava o rei. Lançando-se a seus pés, suplicou que perdoasse o filho. Dom Dinis recebeu-a com bondade e autorizou-a a tentar estabelecer a paz com o filho. A rainha foi a Pombal, onde o Príncipe se encontrava à frente de suas tropas, e assegurando-lhe o perdão do rei, conseguiu restabelecer a paz.
A rainha tinha um pajem muito virtuoso e prudente, digno de toda confiança, a quem incumbia de conceder aos pobres grande parte de suas esmolas. Outro pajem, invejando-o, foi dizer ao monarca que a confiança da rainha por aquele pajem era fruto de uma inclinação pecaminosa. O rei, que naquele tempo estava entregue a uma vida irregular, acreditou na calúnia, e planejou matar secretamente o referido pajem. Certo dia, passando pelo local onde havia uma usina de cal, chamou os operários e ordenou-lhes que, quando alguém viesse, de sua parte, perguntar se eles haviam feito o que o rei ordenara, que o pegassem e o lançassem ao grande forno para aí perecer.
No dia seguinte, D. Dinis mandou o pajem da rainha ir à usina perguntar se o que ele havia ordenado havia sido feito. Entretanto, a Providência velava pelo virtuoso jovem. Passando no caminho por uma igreja, o pajem entrou para rezar. E vendo que ia começar uma Missa, permaneceu algum tempo para assisti-la. Terminada a primeira missa, começou uma segunda, depois uma terceira, e o piedoso pajem ficou também na igreja para rezar no transcorrer delas.
Enquanto isso o rei, levado pela impaciência, chamou outro pajem —providencialmente, o mesmo caluniador — e enviou-o à usina, a fim de se inteirar se sua ordem havia sido cumprida. Imediatamente os operários apoderaram-se do infeliz e lançaram-no ao forno.
O primeiro pajem chegou depois àquele local e perguntou se o que o rei ordenara fora executado, recebendo a resposta afirmativa. De volta ao palácio, foi dar conta de sua missão ao soberano, que ficou muito surpreso de vê-lo vivo e quis saber o que acontecera. O pajem contou-lhe então que, quando ia a caminho da usina, passou pela igreja para uma rápida oração. E que seu pai, ao morrer, havia lhe recomendado assistir a todas as missas que visse em andamento. Por isso ele assistira a três missas sucessivas, e só depois fora executar o que o rei ordenara.
O monarca reconheceu no fato um julgamento de Deus, testificando a inocência da rainha, a virtude de seu pajem e a malícia do caluniador.
A Rainha Isabel operou vários milagres ainda em vida. Certa vez em que ela por devoção lavava os pés de pobres, havia uma mulher com uma úlcera que exalava insuportável mau odor. Lavou e tratou da ferida, e para vencer sua repugnância, osculou-a. Ao contato com os lábios da rainha, a ferida desapareceu.
Numa noite, durante o sono, Isabel teve uma inspiração do Divino Espírito Santo para edificar uma igreja em seu louvor. Mandou alguns arquitetos ao local que lhe parecia mais conveniente, para estudarem a edificação. Eles voltaram dizendo que os fundamentos já haviam sido lançados, e que se podia, portanto, dar início à construção. Todos se espantaram com esse fato surpreendente, pois até a véspera não havia vestígio desses fundamentos. O rei, tendo em vista constar para a posteridade tal prodígio, mandou que se lavrasse uma ata do sucedido. Tendo a rainha ido ao local para ver o milagre, entrou em êxtase à vista de muitas testemunhas.
É dos mais conhecidos o milagre das rosas. Quando levava no avental dinheiro para socorrer os pobres, encontrou-se com o marido, que perguntou-lhe o que guardava ali. Isabel respondeu-lhe que eram rosas. Ora, estava-se no inverno europeu, quando toda a natureza parece morta, e portanto não vicejam flores. O rei quis então ver o que ela realmente levava no avental. A rainha abriu-o, e surgiram belas e odoríferas rosas.
Estando o rei enfermo, desejou ir de Lisboa a Santarém, para mudar de clima. Na viagem, aumentou-lhe muito a febre. Isabel apressou-se em mandar avisar o filho. Ao chegar com o rei em Santarém, não o abandonou mais dia e noite, dele cuidando com suas próprias mãos. Estudava os momentos favoráveis para falar-lhe de Deus, do rigor do julgamento divino, do horror aos pecados, da compunção com que se deve detestá-los e da pureza de consciência com que se deve apresentar diante de Deus. Ao mesmo tempo, distribuía muitas esmolas na intenção do soberano e mandava rezar orações especiais em todo o reino por ele.
Após a morte de D. Dinis, a 6 de janeiro de 1325, a rainha depôs as vestes reais, cortou o cabelo e vestiu um simples hábito da Ordem Terceira de São Francisco. Depois de procurar por todos os meios o sufrágio da alma do falecido rei, entregou-se de corpo e alma ao cuidado dos pobres e enfermos nos hospitais e demais obras de misericórdia. Sendo ela rainha, fazia-o com particular elevação de alma e eficácia.
Nesse mesmo ano, fez uma peregrinação a Santiago de Compostela pelo eterno repouso do marido, e lá deixou sua coroa, jóias, vestes reais e muitos outros dons de grande valor.
A santa rainha faleceu no dia 4 de julho de 1336, aos 65 anos. Junto a seu túmulo multiplicaram-se os milagres. Entretanto Isabel só seria beatificada em 1516 e canonizada em 1625. Nessa ocasião, quando abriram o túmulo, encontraram seu corpo incorrupto, apesar de já terem transcorrido quase trezentos anos de sua morte.
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Obras consultadas:
Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo 8o., pp. 33 e ss.
Pe. Ribadaneira, Flos Sanctorum, in Dr. Eduardo Maria Villarasa, La Leyenda de Oro, L. González & Compañía, 1897, Barcelona, tomo 3º., pp. 47 e ss.
Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S. A., Saragoça, 1948, tomo IV, pp. 81 e ss.
Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo III, pp. 66 e ss.
Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1998, tomo II, pp. 375 e ss.
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