Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
8 min — há 3 anos — Atualizado em: 11/6/2021, 3:07:21 PM
Neste dia 6 celebra-se esse grande santo Condestável de Portugal. A ele o rei D. João I deveu seu trono e o país a sua independência, pela vitória em Aljubarrota. Em memória desta data reproduzimos aqui uma entrevista com o Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Luiz de Orleans e Bragança, descendente direto de Nuno Álvares. Tal entrevista foi publicada na revista Catolicismo de junho de 2009.
No dia 26 de abril de 2009 foi canonizado em Roma, pelo Papa Bento XVI, o invicto guerreiro Nuno Álvares Pereira (1360 – 1431), elevado à honra dos altares 578 anos após seu falecimento.
Catolicismo, que em suas duas edições anteriores publicou matérias a respeito, obteve por meio de seu colaborador José Carlos Sepúlveda da Fonseca uma entrevista com Dom Luiz de Orleans e Bragança, descendente direto do santo. Um dos filhos de Dom João I, Rei de Portugal, casando-se com a filha de São Nuno Álvares, deu origem à Casa de Bragança, e desse casal descendem os membros da Família Imperial do Brasil, da qual Dom Luiz é o chefe (Vide Catolicismo, abril/2009).
Sua Alteza aborda aspectos pouco divulgados da missão providencial de seu ilustre antepassado. E também indica o Condestável do Reino (chefe supremo dos exércitos portugueses) como um modelo, mesmo para os presentes dias, do perfeito varão católico.
O santo — que, segundo o escritor português Antero de Figueiredo, era “Furacão de aço e de fogo, piedade feita energia, oração feita espada” — tem muita vinculação com a História do Brasil, pois foi o articulador, no século XIV, da manutenção da soberania e do renascimento de Portugal, que empreenderia mais tarde as grandes navegações para descobrir novas terras e conquistar novas almas para a fé católica.
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Catolicismo — Causou compreensível júbilo, especialmente em Portugal e no Brasil, a canonização de Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal. Sabemos que para Vossa Alteza enquanto Chefe da Casa Imperial do Brasil, como para os membros da Casa de Bragança, é especialmente honrosa essa elevação aos altares. Poderia falar-nos inicialmente dos laços de sangue que o unem ao Santo Condestável?
Dom Luiz — Como se tem conhecimento, Nuno Álvares Pereira nasceu em 1360, filho do Prior da Ordem do Hospital, Álvaro Gonçalves Pereira. Por seu elevado espírito cavalheiresco, almejava a perfeição cristã e acalentava o desejo de permanecer virgem. Entretanto, obedecendo a seu pai, que desejava adquirisse bens para manter sua posição na corte, casou-se com uma nobre e rica viúva, Dª. Leonor de Alvim, da qual teve dois filhos, que morreram ao nascer, e uma filha, Dª. Beatriz, de cujo parto faleceu a mãe.
Uma vez no trono o Mestre de Aviz, D. João I, em prol de quem Nuno Álvares empenhara todo o seu devotamento na grave crise política e religiosa que Portugal atravessara, quis casar seu filho natural, o Infante D. Afonso, com a filha do Santo Condestável. Desse enlace nasceu a Casa dos Duques de Bragança, da qual descendem os imperadores do Brasil.
Catolicismo — Qual o traço de personalidade que mais admira em Nuno Álvares Pereira?
Dom Luiz — Se eu pudesse resumir em poucas palavras a figura desse grande santo, diria que ele foi a derradeira e acabada personificação da Idade Média portuguesa. Há uma definição que gosto de citar, feita pelo Infante D. Pedro, que com ele conviveu muito tempo: “Norma dos príncipes, exemplo dos senhores, espelho de anacoretas”.
Realmente, toda a sua vida nos Conselhos do Rei, nos campos de batalha ou sob o hábito de irmão leigo carmelita foi norteada pelo ideal do “Serviço de Deus”.
Catolicismo — E qual a importância dele para a História?
Dom Luiz — Uma importância incalculável. Não hesito em dizer que ele fez renascer Portugal e revivescer o senso da missão histórica que cabia a esse povo e a essa nação, da qual o Brasil se orgulha de descender. Bem jovem, apenas com 13 anos, D. Nuno Álvares Pereira foi armado cavaleiro. Segundo os relatos do tempo, sempre se mostrou muito valente e ao mesmo tempo afável, sábio, bom conselheiro e agindo sem rancor ou ódio.
Juntamente com essas qualidades, marcava seu espírito um afinado senso histórico e providencial. Portugal, depois da morte do rei D. Fernando I, encontrava-se numa encruzilhada no que diz respeito à sucessão ao Trono. O Rei D. Fernando I, o Formoso, casara-se em segredo com Leonor Telles, que tivera seu casamento anterior anulado. Após a morte do rei, Leonor Telles tornou-se regente e levou para viver no palácio seu amante, o galego João Fernandes Andeiro, o que causou grande indignação entre muita gente e levou os portugueses a cognominá-la Aleivosa. A filha de D. Fernando I e de Leonor Telles, Dª. Beatriz, estava prometida a D. João de Castela. Portugal encontrava-se dividido nessa crise, particularmente a nobreza. Parte dela, por comodismo ou por interesses diversos, preferia aceitar como soberanos Dª. Beatriz e D. João de Castela, o que acarretaria uma absorção do reino.
Outros simplesmente aguardavam o desenlace dos acontecimentos para tomarem posição. Além disso, Castela era partidária do anti-papa Clemente VII. Esse conjunto de circunstâncias fez com que Nuno Álvares pusesse toda a sua dedicação e todo o seu entusiasmo a serviço da causa de D. João, Mestre de Aviz.
Catolicismo — Pode-se dizer, então, que ele galvanizou todo Portugal e sua empreitada foi triunfal?
Dom Luiz — Não diria isso. Como todas as obras providenciais, a missão de Nuno Álvares não foi fácil, tendo ele sofrido reveses. Sobretudo, teve que enfrentar o ambiente em boa parte acomodado, e também marcado pela decadência moral. É bom recordar que ele fez frente, até no campo de batalha, a vários de seus irmãos.
Foi a custo que o futuro Condestável de Portugal se tornou recrutador e formador de outros jovens guerreiros e tornou vencedora sua causa. Com a nova dinastia de Aviz, virtuosa e idealista, com uma nobreza regenerada e revigorada, Portugal se lançou a “dilatar a Fé e o Império” até os confins do mundo. E isso não teria sido possível sem a atuação providencial de D. Nuno Álvares Pereira no momento em que Portugal estava para perder a alma e a independência.
Catolicismo — É compreensível que a figura do Santo Condestável desperte admiração e entusiasmo, por seu papel histórico na consolidação da missão providencial de Portugal da qual Vossa Alteza acaba de nos falar. Mas será que essa figura tem algo de específico para nossos dias?
Dom Luiz — Como um homem que ascendeu à honra dos altares, é evidente que suas virtudes são para nós um exemplo excelso. Mas creio que sua figura de cavaleiro cristão, de que falei, é mais atual do que pode parecer. Embora as circunstâncias da vida contemporânea sejam em grande medida diversas das que havia na época de Nuno Álvares Pereira, esse espírito de “serviço de Deus”, essa dedicação à causa da Igreja e da civilização cristã são mais necessários do que nunca. Infelizmente, todo o Ocidente, para falar só dele, é hoje assolado por um laicismo contraditoriamente moderado e agressivo. Modas, costumes, leis, idéias vão cada vez mais deteriorando as mentalidades e afastando-as do verdadeiro ideal cristão, com reflexos perniciosos para as sociedades. Ergue-se todo um mundo contrário a Jesus Cristo. Basta lembrar as legislações que por toda parte consagram como práticas habituais o terrível crime do aborto ou o mal chamado casamento homossexual, gravemente ofensivo a Deus. Diante dessa deterioração, é necessário que muitos sigam o exemplo do Santo Condestável e consagrem suas vidas à luta pelos ideais da civilização cristã, para alcançarem uma profunda regeneração da sociedade.
Catolicismo — A canonização de Nuno Álvares Pereira traz também algum ensinamento para a nobreza de nossos dias?
Dom Luiz — Sem dúvida. Em seu livro Nobreza e Elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, que tive a honra de prefaciar, Plinio Corrêa de Oliveira ressalta bem que — sobretudo numa sociedade em que imperam a confusão das idéias, o desregramento dos costumes, o abandono da Religião — à nobreza e às elites tradicionais cabe desempenhar a função de guias, pelo exemplo de uma fé viva e operante, pela observância exímia do dever, pela fidelidade à tradição, que as tornam conhecedoras profundas e subtis dos problemas do presente. Infelizmente, nos dias que correm, nobres e até príncipes, apesar de seu sangue ilustre e de sua formação moral, aderiram à vulgaridade de maneiras, de formas de vida, de modos de ser ditos “modernos”. Nuno Álvares Pereira é para eles um exemplo e um intercessor insigne.
Devemos rogar ao Santo Condestável dar-nos a coragem de enfrentar os ambientes ditos modernos, de permanecer fiéis aos ideais perenes da Igreja e da civilização cristã, de saber viver como ele no auge do prestígio, nos píncaros da sociedade, mas voltados para o serviço de Deus; de ser, enfim, fiéis ao que o Papa Bento XV qualificou de “sacerdócio da nobreza”.
Revista Catolicismo
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