Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
7 min — há 3 anos — Atualizado em: 10/20/2021, 5:04:30 AM
Trechos de comentários do Prof. Plinio, sobre São Pedro de Alcântara, em reunião para sócios e cooperadores da TFP.
Hoje é festa de São Pedro de Alcântara (1499-1562), Padroeiro principal do Brasil, Padroeiro também da nossa Família Imperial, franciscano, século XVI.
A respeito de São Pedro de Alcântara, Dom Guéranger (em L’Année Liturgique”) comenta:
“Se todos os santos são admiráveis, nem todos são imitáveis. De bom grado, nós repetiremos com os companheiros de Santa Tereza que o mundo não é mais capaz de uma tal perfeição. E que as saúdes estão por demais abaladas para pretender a ela. Entretanto, o Evangelho, que é eterno, contém conselhos que são sempre oportunos e nos rediz: “se vós não fizerdes penitência, vós perecereis todos”. Fazendo eco ao Seu Divino Filho, Nossa Senhora, em suas mensagens na Terra, sobretudo depois de um século, se comprove em dizer as mesmas palavras: “Penitência, penitência, penitência”.
“Bernadette em Lourdes e, depois, os felizes videntes de Fátima transmitiram a mensagem celeste e esses últimos o explicaram muito recentemente. Não será sem interesse saber exatamente o que o Senhor espera de nós para nos perdoar e para desviar do mundo os castigos por demais merecidos por pecados tão numerosos e graves. Deus deseja grandemente a volta à paz. Mas Ele está penalizado de ver um tão pequeno número de almas em estado de graça e dispostas a renunciar a tudo que Ele pede para aderir à Sua Lei. E precisamente a penitência que Deus exige agora é o sacrifício que cada qual se impõe para viver uma vida justa, em conformidade com Sua Lei”.
Essas considerações sobre a penitência vêm exatamente porque São Pedro de Alcântara é um santo extraordinariamente penitente. E, então, Dom Guéranger julgou oportuno fazer algumas considerações a respeito.
Tais considerações sobre a penitência são muito verdadeiras e deitam seu ponto de incisão no seguinte aspecto fundamental e que consiste na definição do homem impenitente, a qual comporta dois graus: 1) quem considera que está nesta vida só para gozar. Não se preocupa com mais nada. Então, para ele, a virtude e todas as dificuldades que sua prática traz consigo, não quer aceitar. Portanto, recusa toda e qualquer forma de penitência. Isto é uma primeira modalidade de impenitente.
2) Mas há uma segunda modalidade de impenitência, que é igualmente contrária à vocação contra-revolucionária e que vem disfarçada com aspecto de virtude, e assim mais facilmente nos ilude. Consiste na seguinte ideia: “Os sofrimentos necessários para não pecar, eu quero; porém nenhum outro. Quanto ao mais, quero gozar inteiramente a minha vida porque tenho direito de fazê-lo pois ela me foi dada para ser gozada. De maneira que o apostolado eu faço na medida em que não achar muito desagradável, enquanto eu queira, porque não é obrigatório para mim porque sou leigo. E esforços de qualquer natureza desagradável, eu não faço porque não são necessários para mim. Eu me limito a não cometer pecado. Quanto ao mais, eu vivo completamente folgado…”
Quem vive assim – na maior parte dos casos ou na grande maioria dos casos – não se mantém fora do pecado. E acaba, por sua vez, caindo no pecado. Porque há um desvio completo da concepção da finalidade desta vida. Pois esta não consiste em que apenas gozemos dentro dos limites da virtude. A vida nos foi dada para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo. Entre os serviços que podemos prestar a Deus, um dos mais insignes – sobretudo em nossa época – é lutar por Ele, servir, amar em toda a medida do possível. Para isso é que existimos e sobretudo para isso recebemos a admirável vocação para fazer a Contra-Revolução. Quer dizer, a vida não foi dada para o prazer, mas para o heroísmo, para a luta segundo a Lei de Deus e dos homens.
Devemos considerar um ou outro prazer que nos proporcionemos apenas como algo transitório, para descansar e para recomeçar a luta. E a prova que temos de que o prazer é bom ou mau consiste exatamente julgando de acordo com este critério: se tenho um prazer, terminado o qual estou mais disposto à luta, à seriedade, à mortificação, esse prazer é bom. Se, pelo contrário, terminado o prazer estou mais mole ou menos desejoso de seriedade, de coisas elevadas, então ele é ruim. Porque todo o prazer não é senão um interstício para servirmos melhor a Nossa Senhora. Todo descanso não é senão um interstício para servirmos melhor a Nossa Senhora.
Mas, como filhos da Igreja militante, nossa finalidade é de lutarmos a vida inteira e de aguentarmos todas as aridezes e todas as dificuldades da vida militante.
Os senhores imaginem um soldado que esteja sentado na trincheira, num momento de intervalo da luta, por exemplo, num armistício de Natal, olhando para o campo e que divaga com coisas do gênero: “Que bonito esse campo… que lugar pitoresco onde foi aberta essa trincheira…” Chega alguém e lhe diz: “Fulano, vem cá. Você tem que se preparar para a luta amanhã”. – “Ah, eu não. Eu estou aqui por piquenique. Tudo quanto não for desertar ou trair em favor do inimigo, eu faço. Mas esse negócio de andar para a frente, de passar o dia inteiro lutando, não! Eu cumpro o meu dever mínimo de soldado. Eu não entrego um palmo de território nacional”. Com um homem desse se perdem todas as guerras…!
Somos soldados da Igreja militante e somos soldados de Nossa Senhora nas fileiras da Contra-Revolução. Devemos ter em mente que a vida não nos foi dada para o prazer, mas para o dever.
Os senhores me creiam: os que querem ter uma vida dada para o prazer acabam levando uma vida desagradabilíssima! Não há coisa pior do que a vida empregada para o prazer. E sobretudo quando é um prazer imoral, não passa de uma mentira. Nos primeiros períodos, dá uma satisfação pseudo-inebriante, e depois, acabou-se. Não resta mais nada. Pelo contrário, a vida vivida no dever dá alegria de alma que, já nesta Terra, constitui o cêntuplo que se deve procurar.
A respeito de todos os prazeres ruins, li outro dia um dito de uma senhora francesa. Eu adapto um pouco o dito a respeito das grandes cidades modernas. Perguntaram-lhe se as grandes cidades modernas não dão prazer. Diz ela: “De nenhum modo. O único efeito das grandes cidades modernas é: a gente se sente infeliz na grande cidade moderna e as grandes cidades modernas nos fazem sentir infelizes nas pequenas cidades…” É bem isso e não passa disso. Está dito nesta concisão francesa e não sobra mais nada! Está descascado o caso. Tudo quanto é vício é assim…
Lembro-me que quando eu era mocinho – não pertencia ainda ao Movimento Católico – infelizmente, pelos 25 anos mais ou menos, eu fumava. Uma das coisas que me dava mais ódio é que, no fim, eu não encontrava mais prazer em fumar. O prazer de fumar para mim era fazer cessar o desprazer que eu tinha em não fumar. De maneira que olhava os outros em torno de mim, e pensava: “estes podem ficar satisfeitos, e olha a cara deles como estão satisfeitos sem estar chupando tabaco continuamente. Eu, miserável, não. Para me sentir bem, é preciso estar tubulando tabaco continuamente”. Meus caros fumadores, não me levem a mal, mas tenham a certeza de que o que estou dizendo é a pura verdade. Tudo quanto é coisa que não está bem é desse gênero.
Cinema: os senhores conversem com gente que está habituada a ir constantemente ao cinema. Sabe o que acontece? O cinema não os diverte, mas eles não podem divertir-se sem ir ao cinema, de maneira que ficam “cinemando” e não podem fazer outra coisa…
O Professor Furquim me contou de uma pessoa vagamente colega dele na Universidade Católica e cujo programa de Domingo é: vai ao cinema, sai; vai noutro, sai… até à noite; e assim o Domingo está acabado.
Os senhores pensam que é porque o pessoal acha agradável o cinema? Não, mas é porque acha desagradável não estar “cinemando”.
Estas são considerações que devemos ter, pedindo a São Pedro de Alcântara que nos dê aquele senso de mortificação sem o qual não se pode ter o desejo nem das coisas espirituais nesta terra, nem das coisas celestes que são prefiguradas nesta terra pelas coisas espirituais e religiosas.
Plinio Corrêa de Oliveira
557 artigosHomem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".
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