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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Um Papa santo (São Pio V) vence os otomanos e preserva a Cristandade


O Prof. Plinio responde uma pergunta sobre São Pio V e a Batalha de Lepanto.

Áudio e texto: https://pliniocorreadeoliveira.info/Mult_751007_Sao_Pio_V_Lepanto.htm

“Vamos dizer então uma palavra a respeito da Batalha de Lepanto e de Nossa Senhora do Rosário. Tantos foram os comentários que eu fiz a respeito da batalha de Lepanto, em vários anos sucessivos, que quase não sei o que comentar a respeito disso. Mas eu vou destacar aqui um herói da batalha de Lepanto a respeito do qual pouco se fala. E esse herói foi o Papa São Pio V.

Batallha de Lepanto – Andrea Vicentino (1542 -1617) – Palazzo Ducale – Veneza

Em que sentido São Pio V foi herói, e em que sentido importa reconhecermos o heroísmo dele?

São Pio V via bem o poder otomano crescer cada vez mais, e o perigo que havia de os otomanos se jogarem sobre a Itália, por exemplo, ou sobre qualquer outra parte da Europa, e operarem uma invasão que poderia ter efeitos tão ou talvez mais ruinosos do que teve a invasão árabe na Espanha, no começo da Idade Média.

E por que razão isto? É que no tempo de São Pio V, século XVI, já a Europa estava dividida, os cristãos da Europa estavam divididos entre católicos e protestantes. E já a partir do século XIII tinha havido uma primeira divisão dos católicos da Europa entre cismáticos e católicos.

Havia portanto já instalada entre os cristãos essa lamentável divisão que nós desejamos remediar pela conversão de todos — e que o ecumenismo quer remediar pelo interconfessionalismo —, essa lamentável divisão que enfraquece tanto as forças católicas.

No século XVI, de São Pio V, da batalha de Lepanto, havia outra coisa. É que o protestantismo tinha naquele tempo um vigor incomparavelmente maior do que hoje, estava ainda na sua fase de expansão, na sua fase de luta. E era muito de se temer que os protestantes aproveitassem a agressão feita pelos maometanos a um país católico, para invadirem, eles os protestantes, outros países católicos. Tanto mais que já havia disso uma experiência.

A casa D’Áustria que, como os senhores sabem, governava a Áustria, Hungria, e à qual tocava já habitualmente o título, e por eleição, de imperador do Sacro Império Romano Alemão, a casa D’Áustria várias vezes se viu em dificuldades seriíssimas por causa de combinações —ou ao menos de convergência, esforços —, claras, entre protestantes dentro do Sacro Império e otomano de fora do Sacro Império, para forçarem a capitulação da Casa D’Áustria, e liquidarem o catolicismo, de imediato pelo menos nos povos de língua alemã.

De maneira que para a Santa Sé a ameaça otomana era uma ameaça muito mais forte do que foi a ameaça árabe, tão terrível, entretanto. Porque ao menos os católicos do tempo dos árabes, formavam um bloco, enquanto dos católicos do tempo de São Pio V estavam divididos. Alguns já não eram mais católicos, havia os protestantes alemães. É verdade que no tempo da invasão árabe havia os arianos, mas os que resistiram não eram arianos, esses eram católicos de fato e lutaram.

Nessa situação São Pio V tinha que apelar naturalmente para o varão que era o apoio temporal da Igreja naquele tempo, e que era Felipe II, rei da Espanha. Precisamente porque o imperador do Sacro Império não tinha condições, por causa da divisão religiosa no império, de lutar eficazmente contra os mouros, os turcos. Precisamente porque a França estava corroída por uma crise religiosa muito grande, guerra de religião, etc., e os católicos mal davam conta para vencer os protestantes; porque a França já não tinha o fervor religioso que a Espanha ainda conservava.

Por todas essas razões o Papa não podia contar também com a França. Ele só podia contar, portanto, dentre as grandes potências católicas, com Felipe II de um lado, e depois com Veneza, que era uma grande cidade marítima, uma república aristocrática, com largo desenvolvimento em todo Mediterrâneo, e com muitos bons navegadores, boas frotas, etc.

Mas, se bem que o poderio de Veneza fosse ponderável o grande poder decisivo era o de Felipe II.

Agora, acontece que, os historiadores reconhecem — mesmo os historiadores que admiram Felipe II, e tem muitas razões para admirá-lo, eu sou um admirador dele — os historiadores entretanto reconhecem que Felipe II era um homem de uma indecisão do outro mundo. Quando tinha que resolver qualquer coisa, tinha vais-e-vens, concordava, depois discordava; e era preciso mandar embaixadores, e era preciso falar, e ele pedia prazo, deixava passar o prazo… Era uma coisa tremenda vencer a indecisão de Felipe II.

E São Pio V estava vendo o perigo crescer e todo o assunto ser resolvido numa sala do palácio real de Madrid ou do Escorial, por Felipe II com seus auxiliares ou sozinho, e no momento em que, em última análise, Felipe II se retraísse de repente, a horda maometana se desatava sobre a Itália, e depois atingia toda a cristandade. Era o fim da Civilização Cristã no Ocidente. E não seria o fim da Igreja porque a Igreja é imortal, mas a que a Igreja poderia ficar reduzida, ninguém sabe.

Pastor [1], que historia esses fatos, conta as tratativas de São Pio V com Felipe II, e ele mesmo diz que constituíram um verdadeiro martírio, [pelo] tanto [que] São Pio V teve que pedir. Felipe II fazia exigências, ele não podia atender. Pedia apoio para uns e para outros, para depois poder atender às exigências financeiras e outras de Felipe II. Afinal conseguia. Felipe II queria mais. Depois Felipe II queria que o Papa mandasse navios e o Papa não tinha os navios. O Papa acabava arranjando os navios. Mandava falar, Felipe II já não queria mandar a esquadra dele. Só os navios da Santa Sé não adiantavam…

Tanto foi a coisa que é certo que se não fosse a pressão de São Pio V, não se teria realizado a batalha de Lepanto, porque a Espanha não teria mandado a esquadra que era o grande contingente decisivo dentro das esquadras aliadas que lutaram e venceram em Lepanto. De tal maneira que os historiadores de São Pio V reconhecem que para ele foi mesmo, ao pé da letra, naquele momento de aflição, um martírio ele lutar naquelas condições, e que ele foi um verdadeiro herói em agüentar a angústia que a situação lhe trazia, e ao mesmo tempo lutar, lutar, lutar até o último momento, para conseguir afinal de contas que a batalha se desse, que as tropas saíssem.

Aí os senhores compreendem melhor porque razão é que houve a famosa aparição a São Pio V.

A visão da vitória em Lepanto

Todos os senhores conhecem o caso: São Pio V estava numa reunião de cardeais, em Roma, tratando de qualquer assunto. E em certo momento, enquanto a reunião se desenvolvia, ele se levantou e rezou um terço, e rezou pela vitória dos católicos sobre os maometanos, porque ele tinha a noção de que mais cedo mais tarde deveria realizar-se uma grande batalha, e que seria decisiva para a Cristandade.

Enquanto ele rezava o terço, ou terminado o terço, apareceu-lhe Nossa Senhora Auxiliadora e comunicou a ele que a batalha de Lepanto tinha sido ganha. Ele então foi para o ponto da sala onde estavam reunidos os cardeais e comunicou isso: “Nós podemos nos tranqüilizar. A batalha foi ganha. Há uma vitória. Eu tive uma revelação neste sentido, etc.”

Naquele tempo não se podia discutir que isso era milagre, porque não havia rádio, telégrafo, televisão, não havia nada, e uma notícia dessas levaria um tempo enorme para chegar de Lepanto até Roma. E ele teve no próprio dia, — eu tenho quase certeza disso, —a revelação da batalha. O que quer dizer que foi uma revelação sobrenatural, feita por Nossa Senhora a ele.

Agora, por que a ele? A ele porque ele era o chefe da Cristandade, não tem dúvida. A ele também porque ele tinha sido um verdadeiro herói, e tinha lutado a propósito dessa guerra, e tinha desenvolvido um esforço igual ou maior que o dos batalhadores de LepantoEle tinha sido um herói, verdadeiro herói, como foi Dom João D’Áustria e como foram os outros grandes guerreiros que venceram em Lepanto. 

* A verdadeira noção de heroísmo – Os dois maiores exemplos da História, Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora

Agora, alguém me dirá: “Isso, Dr. Plinio, eu não compreendo, porque ele não arriscou a vida, ele ficou comodamente em Roma à espera de que viesse uma noticia. Se ele não arriscou a vida e não combateu não pode ser herói”.

Este é o ponto, o prisma falso que nós devemos tirar de nossa cabeça. Por certo quem luta com as armas na mão é um herói. Mas a doutrina católica jamais admitiu a tese de que esta é a única forma de heroísmo.

O que é o heroísmo? O heroísmo não é apenas o ato pelo qual o homem enfrenta o risco da perda da vida, ou o risco da perda da integridade física. O heroísmo é o ato pelo qual o homem enfrenta qualquer grande dor, ou qualquer grande infortúnio. Isso caracteriza o herói. E há dores morais, como há dores físicas. E às vezes as dores morais atormentam incomparavelmente mais do que as dores físicas. E enfrentar uma dor moral é, muitas vezes, incomparavelmente mais do que enfrentar a dor física.”

Fonte: https://pliniocorreadeoliveira.info/Mult_751007_Sao_Pio_V_Lepanto.htm#.Ym0lX9rMKMo

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Plinio Corrêa de Oliveira

Plinio Corrêa de Oliveira

551 artigos

Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

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