Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 7 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:43:56 PM
Há 50 anos, deu-se início a uma revolução que começou com a ocupação da Universidade de Nanterre, na periferia de Paris, por estudantes, seguida mais tarde pela ocupação da Universidade de Sorbonne, culminando numa contestação geral ao governo, à sociedade, à cultura: a emblemática “Revolução de Maio de 68”.
Por seu caráter profundamente expressivo, “Maio de 68” fascinou, entusiasmou e pôs em movimento um cerne duro revolucionário que fixou no horizonte uma meta atemporal a ser almejada. Ela foi um bastão lançado à frente para indicar um caminho a seguir, um exemplo a ser imitado.
Agora, o que levou uma geração de estudantes a erguer barricadas, a gritar slogans como “É proibido proibir,” repetidos nas ruas de Paris em meio a uma forte repressão policial?
Qual foi o processo para se chegar a isso?
Para entendermos de modo sintético a questão, recuemos um pouco na História e analisemos um processo que culminou na explosão de duas mentalidades diversas, que ao longo dos anos foi sendo trabalhada pela Revolução.[1]
Os jovens da geração correspondente à parte terminal da Belle Époque – portanto, do fim do século XIX e começo do século XX – se caracterizavam por uma espécie de obrigação social de se mostrarem sempre alegres, sempre satisfeitos com a vida.
Desta característica, que era um estado de espirito, se deu livre passagem para a democratização das formalidades, dos costumes, tudo se tornando cada vez mais entregue à imaginação, à fantasia e ao laissez-faire.
Por outro lado, surge a ideia de que certas qualidades das gerações anteriores se tornam incompatíveis com essa visualização do novo modelo de homem que se apresentava. Portanto, muita cultura, muita educação, boas maneiras, tudo quanto fosse pompa ou requinte que a geração anterior ainda apreciava, começa a ser evitado como sendo coisas do passado, velharias para museu.
Ao contrário, ter quadra de tênis, piscina, salão de danças, ter maneiras cada vez menos europeizadas e mais americanizadas, rir sempre, estar sempre otimista, contar piadas engraçadas – nunca piadas muito inteligentes, nunca piadas que dessem um grande sopro de qualquer coisa, mas piadas populares, ao alcance dos espíritos medíocres daquela roda, e que nunca elevassem o padrão humano em nenhum sentido para cima – eram coisas que, ao contrário do mundo velho, davam a alegria de viver.
Com passar do tempo, as gerações posteriores – já não mais a geração da Belle Époque – colocavam em uso novas formas de alegria, agora menos ponderada e mais tumultuada, acentuada e marcada, por onde a alegria das antigas gerações parecia, aos olhos dessas novas gerações, antiquada.
As músicas mudam, o jazz-band substitui a orquestra. Depois, começam a surgir danças que ainda não caíam na imoralidade, mas caminhavam para o sex appeal.
Nos anos 40, no pós-guerra, o American way of life se torna o polo de atração de toda uma parcela da sociedade e a imoralidade começa a entrar na vida cotidiana de forma declarada. O hábito do adultério, do divórcio, da canção imoral, tudo passa a ser permitido.
Cada vez mais, a busca dos prazeres se confunde com a alegria. Uma alegria mais tempestuosa e impulsionada pelos tufões das paixões humanas.
Embalada pelo mito de que se poderia chegar, algum dia, a uma vida sem dor, sem sofrimento, cheia de deleites e de extravagancias, confiante em um progresso constante e independente da moral, no início dos anos 50 surge o rock’n’roll.
Com o Rock, a nova juventude busca, na excitação dos sentidos, o prazer que já não mais sente na vida ordenada de família. Em sua forma mais representativa, expressa em músicas como as tocadas pelos Beatles, o Rock inspira todas as formas de amor livre e de contracultura, tão desejados pela revolução hippie dos anos 60. Esta, por sua vez, expande o gozo da vida para a não sujeitação do homem a regras.
Desse lento processo de decadência, surge esse novo homem, infenso à ordem, espontâneo, igualitário e anárquico, contrário aos antigos tempos da Belle Époque.
Amor livre, nudismo e impulsos que não aceitam barreiras deram livre caminho aos vícios de toda a ordem. Mas o vício, pela sua própria dinâmica, continua a produzir efeitos. Já se ouvem vozes a defender até mesmo o incesto, a pedofilia e todas as formas desbragadas que esse novo homem, emancipado de toda regra e de toda autoridade, acha normal.
E, se sou livre, por que não o aborto?
A homossexualidade não encontraria tamanha facilidade de ser ensinada, até mesmo às crianças através da Ideologia de Gênero, sem a Sorbonne.
Em Maio de 1968, esse novo tipo humano entrou em choque com o mundo anterior. Um mundo que ainda mantinha uma casca de temperança e de moralidade, que ainda conservava restos de tradição.
Na Sorbonne surgiu, como em uma avant-première, um novo homem, que poderíamos chamar de neobárbaro do século XXI.
O que vemos hoje não é senão o desejo de realizar, por meio de leis e decretos inócuos, a aceitação desse novo homem, cuja primeira aparição se deu há 50 anos.
[1] O termo “Revolução” empregado aqui é o que se encontra no livro Revolução e Contra-Revolução, de Plinio Corrêa de Oliveira, pág. 55, edição de 1998.
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