A agricultura brasileira ocupa somente 8% do território nacional, enquanto as pastagens ocupam 19,7%. Estudo do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa aponta que a vegetação nativa preservada ocupa 61% de todo o nosso território.
Os números foram apresentados pelo coordenador do grupo, Evaristo Miranda, em palestra na abertura oficial da colheita da soja, promovida na fazenda Jotabasso, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul.
Miranda explicou que dos 850.280.588 hectares que compõem o território brasileiro, 11% são de áreas de vegetação nativa em propriedades rurais, como as de reserva legal e de proteção permanente; 17% são de vegetação nativa em unidades de conservação; 13% são de vegetação nativa em terras indígenas, e 20% são de vegetação nativa em terras devolutas, relevos, águas interiores etc., o que totaliza os 61%.
Esses dados, conforme o coordenador, foram atualizados no fim do ano passado pela Embrapa, com base em informações da própria instituição e de outros órgãos do Poder Público e entidades da iniciativa privada, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente, a Fundação Nacional do Índio, a Agência Nacional das Águas e o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Os outros 39% do território nacional estão distribuídos entre as áreas ocupadas pelas lavouras e florestas plantadas (8%), pastagens (19,7%), e cidades, macrologística, infraestrutura, energética, mineradoras e outras (11,3%).
“Nestes 8% de áreas cultivadas está toda a cana-de-açúcar, todo o reflorestamento, os grãos, a citricultura, enfim, tudo o que plantamos.
“Essa agricultura deste tamanho, que preocupa o mundo e que faz um monte de coisa utiliza somente 8% do território brasileiro. Imagine se utilizasse 20%, o que também não seria nada, comparando com outros países, imagine o tamanho que poderia ser esse setor”, ressaltou o pesquisador.
Miranda comentou que a área da agricultura e da pecuária somada às áreas de vegetação nativa preservada dentro dos imóveis rurais e às das propriedades rurais, representam um total de 38,7% do território nacional.
“Os dados acima sendo apresentados pelo ministro Blairo Maggi [Agricultura, Pecuária e Abastecimento] nos eventos em que ele comparece no exterior como o ‘Green Card’ [referência ao cartão que garante a residência permanente de estrangeiros nos Estados Unidos] da agricultura brasileira.
“Quando se vai discutir sobre agricultura e preservação ambiental em outros países, questionamos a situação daquela nação em relação a tais aspectos. Eles têm os dados. É só apresentarem para compararmos”, desafiou.
Miranda lembrou ainda que o produtor rural brasileiro trabalha com base em uma das mais rigorosas e restritivas leis ambientais do mundo, e citou como exemplo a questão das margens de rios, onde o cultivo é proibido pela legislação brasileira.
“Esse é um trabalho que a Embrapa fez quando ainda estava se discutindo o Código Florestal. Em El Salvador, as áreas de margens de rios são totalmente ocupadas por pequenos e grandes produtores. Na Costa Rica tudo é ocupado com culturas e banana.
“No México, nas margens do rio Papaloapan as áreas são totalmente cultivadas. São depósitos aluviais. O lado do rio é o melhor lugar que tem para plantar. A civilização se desenvolveu cultivando ao lado dos rios.
“Assim é no Chile, na Argentina, na China, no Senegal e nos países desenvolvidos também, como ao longo do rio Ródano, na França; no rio Reno, na Alemanha; o Vale do Pó, na Itália; o rio Guadalquivir, na Espanha; o Tejo, em Portugal; o Danúbio, na Áustria e o baixo Reno, na Holanda, entre outros.
“Já o Brasil preserva, e por lei obrigatória, se tem de preservar as margens do rio. Não estou falando contra ou defendendo a legislação brasileira, só estou mostrando como é a lei brasileira e a comparação com outros países”, ressaltou.
Miranda destacou ainda que, com o novo Código Florestal, o produtor terá de recompor muitas áreas. Suas estimativas são de que os 8% do território brasileiro, utilizados atualmente para a agricultura – entre 35 milhões e 95 milhões de hectares –, serão utilizados para a recomposição de Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais.