Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
13 min — há 6 anos — Atualizado em: 8/26/2018, 7:02:50 PM
Noite Sandinista – Foi este o título de importante reportagem publicada por Catolicismo na edição de julho-agosto de 1980. Seguia-se ao título uma explicitação do conteúdo: O incitamento à guerrilha, que sandinistas “cristãos” dirigiram à esquerda católica no Brasil e na América espanhola.1 Bem documentada e ilustrada, continha comentários incisivos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre a Revolução Sandinista na Nicarágua, dentre os quais podemos ressaltar esta conclusão:
“No caso de emitir um juízo sobre o ‘cristianismo sandinista’ ou ‘sandinismo cristão’, pode-se afirmar com segurança que constitui pelo menos uma possante corrente de ‘companheiros de viagem’ adeptos do comunismo. Ou uma mal velada seção do comunismo internacional, especializada em confundir e iludir os meios religiosos, neles infiltrar-se, e por fim utilizá-los como estribo para alcançar o poder.”2
Analisando retrospectivamente o passado recente, pode-se entender claramente a importância da atuação da “esquerda católica” e de “teólogos da libertação” na Nicarágua. Essa era a infiltração ideológica de agentes religiosos a serviço do comunismo, diagnosticada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Inoculada nos últimos anos da década de 70, ela incentivou a guerrilha marxista-sandinista, que culminou no domínio comunista. Assim se arruinou a saúde daquele país centro-americano, levando-o à UTI na qual se encontra nos presentes dias. Esta é a origem profunda dos males atuais, cujo conhecimento evidencia também a medicação necessária.
Na capa da referida edição de Catolicismo [foto ao lado], um guerrilheiro sandinista com sua metralhadora, no alto da torre de uma igreja, controla a população da cidade colonial de León, a segunda maior da Nicarágua. Na contracapa, a foto de uma freira com um fuzil, ao lado de uma guerrilheira [foto abaixo], é mais um flagrante de atuação da “Teologia da Libertação”. Cenas eloquentes, que vinculam o clero progressista à nefasta Revolução Sandinista. E não foram raros os depósitos de armas e munições dos guerrilheiros descobertos em igrejas nicaraguenses.
Recomendamos a leitura da referida reportagem [o link para a sua íntegra está no final deste artigo3], pois revela claramente que sem o apoio da igreja progressista a Nicarágua não estaria imersa na caótica situação atual.
A reportagem foi baseada em gravações de conferências de líderes e simpatizantes da Revolução Sandinista durante um congresso realizado em São Paulo. Em fins de fevereiro de 1980, mentores da “Teologia da Libertação” oriundos de vários países se reuniram no Instituto Paulo VI (Centro de Treinamento de Líderes da Arquidiocese de São Paulo), localizado em Taboão da Serra (SP), para a 4ª edição do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia. O tema geral foi “Eclesiologia das comunidades eclesiais de base”.
O Instituto se localiza em área de 700 mil metros quadrados, que esteve cercada do maior sigilo, com forte esquema de segurança. Podiam entrar apenas pessoas previamente cadastradas: mais de 160 bispos, padres, freiras, sociólogos, economistas, agentes de pastoral, membros das Comunidades de Base e pastores protestantes de 42 nações.
As reuniões transcorriam ali durante o dia, e à noite havia no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) encontros para clérigos, leigos das Comunidades Eclesiais de Base e alguns outros “engajados” dos movimentos ditos “sociais”. Na noite de 28 de fevereiro de 1980, especialmente dedicada à Revolução Sandinista da Nicarágua, os sandinistas e seus apoiadores pronunciaram discursos com fortes incitamentos à luta guerrilheira no Brasil e em toda a América Latina.
A tônica dos conferencistas nas sessões noturnas da PUC indicava que a revolução nicaraguense deveria constituir um modelo para o Brasil e os demais países da América Latina, uma “nova experiência” a ser aplicada em outras nações. E a manchete de capa de “O São Paulo”, semanário da Arquidiocese (7 a 13 de março de 1980), era reveladora de todo um programa: “Nicarágua é apenas um começo” [foto ao lado].
É bom lembrar que o atual presidiário Lula esteve na Nicarágua juntamente com Fidel Castro e outros próceres marxistas, para comemorarem o êxito da Revolução Sandinista. Na ocasião, ele afirmou que a única alternativa para os trabalhadores era “a luta contra a burguesia nacional e multinacional”. E Fidel Castro, reunido na capital nicaraguense com religiosos progressistas, declarou: “O perfeito comunista deve ser antes de tudo marxista e cristão”. Para obter a infiltração comunista na Igreja, o ditador barbudo embaralhava cristianismo com sandinismo. E José Dirceu declarou ter ouvido desse mesmo ditador que, caso ele tivesse conhecido antes a “teologia da libertação”, teria evitado vários erros…
Naquela noite sandinista de 28-2-80, após homenagens a revolucionários sandinistas e ao regime comunista cubano, discursou o próprio Daniel Ortega, então membro da Junta de Governo da Nicarágua, exaltando “a revolução cubana heroica e magnífica com Fidel Castro à frente”.4 Na mesma linha discursaram: Frei Betto, secretário-executivo do Congresso (o mesmo que morou dois anos na casa de Lula, para doutriná-lo); Frei Uriel Molina, O.F.M., pároco em Manágua, conhecido como “capelão dos sandinistas”; e o Padre Miguel D´Escoto, então Ministro das Relações Exteriores da Nicarágua [todos na foto acima]. Esses clérigos insistiram na ideia de que o ensaio que fizeram naquele país poderia servir para o Brasil e nações vizinhas. Ou seja, deveriam rumar para um novo tipo de marxismo gestado nas sacristias da “esquerda católica”.
No dia 1º de março daquele ano, o então Cardeal-Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, na qualidade de presidente-honorário do IV Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, fez o encerramento do ciclo de conferências no teatro da PUC. Afirmou que os planos traçados no congresso estavam apenas começando: “Chega de teologia e vamos à prática: onde estão os grupos que vão para a Nicarágua, para aprender? Eu respondo: sei que, em São Paulo, há grupos se preparando e de malas prontas para partir. Até com a permissão do Arcebispo de São Paulo […] Não é noite. Estamos na aurora… Vamos agradecer aos mártires aqui na América Latina e no Brasil. Eu recordaria aqui os mártires posseiros e os mártires índios. […] Não se trata de uma libertação romântica, mas uma libertação da fome, do mau salário, da favela. Que esta semana seja um compromisso no sangue de Cristo. Importa agora traduzir a palavra num testemunho real”.5
Nesse mesmo evento noturno aconteceu algo realmente sombrio: D. Pedro Casaldáliga, então Bispo de São Félix do Araguaia (MT-GO), vestiu um uniforme de guerrilheiro sandinista trazido da Nicarágua [foto abaixo]. Entre os muitos aplausos, ele declarou em “portunhol”:
“Eu vou procurar agradecer com os feitos, voy a procurar agradecer este sacramento de liberación que acabo de recibir, com los hechos [feitos]. Este color verde é verde da cor como as nossas matas sacrificadas da Amazônia. Às vezes significou a repressão, a tortura. Tem significado também, na Nicarágua, a libertação, a vida, uma pátria nova […].
“Digo que vou procurar agradecer com os feitos e, se preciso, com o sangue. Juntaremos nossa esperança comum, que é fé em Deus e fé no povo dos pobres; vontade de termos uma América nova, livre; vontade de conquistarmos a liberdade, que não se dá, se conquista. Unidos dentro de cada pátria, os diferentes povos — indígenas, negros — unidos pátria com pátria. […] Este dia de hoje, para mim, para todos nós, é um dia verdadeiramente histórico […].
“Eu me sinto, vestido de guerrilheiro, como me poderia sentir paramentado de padre. É a mesma celebração que nos empurra à mesma esperança. Apenas para terminar, gostaria de pedir para todos vocês, que sejamos consequentes. O que estamos celebrando, o que estamos aplaudindo nos compromete até o fim. Nicarágua nos deu o exemplo: todos nós, todos os povos da América Latina, todos os povos do Terceiro Mundo, vamos atrás!” (palmas prolongadas).6
Depois dos livros com literatura marxista, o que mais se vendia no final dessa conferência eram pôsteres do sanguinário guerrilheiro Che Guevara…
A publicação de Catolicismo, que estamos comentando, adquiriu hoje maior atualidade com a catastrófica situação em que se encontra a infeliz Nicarágua, desde 1979 governada intermitentemente pelo ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega. No comando da Frente Sandinista de Liberación Nacional(FSLN), e sempre subserviente a Fidel Castro, Ortega derrubou após sangrenta guerra civil o governo de Anastasio Somoza, assassinado em 17 de setembro de 1980. Após tomar o poder, assumiu temporariamente o papel de amigo dos Estados Unidos e defensor do direito de propriedade e livre-mercado, mas estabeleceu uma ditadura pior e mais opressora, dentro de um regime radicalmente igualitário e inimigo da propriedade privada.
Em 2009, agindo de modo análogo ao dos ditadores bolivarianos para se perpetuarem no poder, Ortega pediu à Suprema Corte de Justiça da Nicarágua que declarasse sem efeito o Artigo 147 da Carta Constitucional. Recebendo o pedido como uma ordem, a corte “aparelhada” eliminou o artigo que vedava a reeleição do presidente. Com essa manobra, vai estendendo o seu mandato, o qual ele só pretende transferir em 2021 à sua mulher Rosario Murillo [foto abaixo], grande admiradora de Hugo Chávez, hoje ocupando o cargo de vice-presidente e porta-voz do governo. Com esse modus operandi o país entrou, juntamente com Cuba, Venezuela e Bolívia, para a lista de nações ibero-americanas de “presidentes perpétuos”. Muito contra a vontade do povo, é claro.
Também é claro que, depois do mandato da excêntrica e esotérica primeira dama nicaraguense — também chamada de “la Chayo” (a bruxa) e de “Senhora dos Anéis” (pelos mais de 30 anéis que ostenta nos dedos) —, Ortega se interessará em ocupar novamente a presidência, em “reeleições” infindáveis.
Hoje o noticiário do mundo inteiro está registrando o descalabro a que chegou o país. Apenas nestes últimos três meses, mais de 400 nicaraguenses foram brutalmente mortos em manifestações contra a ditadura Ortega/Murillo, inclusive uma universitária brasileira, Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos. Quase três mil foram feridos e centenas estão desaparecidos, sem falar de jovens que foram arbitrariamente sequestrados e torturados, bem como de exilados políticos. Tudo seguindo a mesma cartilha bolivariana de Chávez/Maduro na infeliz Venezuela.
Petistas brasileiros — inclusive a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-presidente Dilma Vana Rousseff — estiveram reunidos entre 15 e 17 de julho último com outras forças revolucionárias na capital cubana (que eles “adoram”, desde que por poucos dias…), para mais um encontro do “Foro de São Paulo”, uma reunião de partidos e organizações esquerdistas cujo objetivo é conduzir a América Latina ao comunismo. Nesse esdrúxulo evento, solidarizaram-se com o tirânico governo sandinista e não emitiram uma palavra sequer de conforto para com o sofrido povo da Nicarágua.
No final desse encontro, a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, declarou: “Depois de tantos sucessos, sofremos [a esquerda] uma contraofensiva neoliberal, imperialista, multifacetada, com guerra econômica, midiática, golpes judiciais e parlamentares, como ocorre na Nicarágua hoje e ocorreu na Venezuela”.
Na mesma ocasião, a companheira-de-viagem do PT e presidente do PCdoB, Luciana Santos, afirmou: “Vemos uma tentativa de setores inconformados com a vitória do Ortega, de desestabilizar o governo popular e nacional. É um vale-tudo, como aconteceu no Brasil e em vários países da América Latina.”7
Mas os nicaraguenses estão finalmente acordando. Resistem bravamente nas ruas e denunciam ao mundo inteiro o tirânico governo sandinista que os oprime. Afirmam que não permitirão a transformação da Nicarágua em outra Venezuela, e exigem a renúncia de Ortega/Murillo e a convocação de novas eleições.
Percebe-se pelo noticiário que está em curso uma autêntica insurreição contra o governo sandinista. Se este não ceder, poderá precipitar o país numa guerra civil. Coragem não tem faltado às populações nicaraguenses. Elas enfrentam valentemente grupos armados pelo governo, que atiram a sangue frio contra manifestantes, torturam pessoas, massacram estudantes, saqueiam igrejas, profanam sacrários. Sem dúvida, os sandinistas estão promovendo uma verdadeira perseguição religiosa, mas em nome de uma “guerra santa”, para implantarem o comunismo materialista e ateu.
Frente a esse quadro tenebroso de comunistização da Nicarágua, operada graças à colaboração de uma igreja-nova adepta de uma moral-nova, seria uma prova de honestidade intelectual um mea culpados expoentes da “teologia da libertação” e outros adeptos da “esquerda católica” que incentivaram a Revolução Sandinista. Salta aos olhos a responsabilidade que tiveram na ruína desse pobre país, mas seria muita ingenuidade imaginar da parte deles esse mea culpa. Fazendo-a ou não, o delito deles continua de pé diante de Deus e dos homens.
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Notas:
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