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6 min — há 9 anos — Atualizado em: 5/1/2017, 9:28:22 PM
Sem gosto, sem cor e sem sabor, ou, como dizia Camões, de uma “apagada e vil tristeza”, assim é o cinza e o nosso tempo.
Como gostos e cores não se discutem, se alguém preferir o cinza, só nos resta dizer-lhe: meus pêsames!
Em reunião de 13-9-74, o pensador e líder católico, Plinio Corrêa de Oliveira afirmou: “No mundo de hoje tudo gira em torno de um ponto principal, assim como as pétalas em torno do eixo central da flor: a confusão”. Do cinza, portanto.
E o vermelho do comunismo? Não é uma cor viva? Engano! Era, mas com a presença de Putin, o próprio comunismo, tão sanguinolento, procura se vestir de moderado e, acredite quem quiser, até de direitista. Acinzentou-se ou faz força para assim parecer.
Nem o verde do Islã, nem mesmo o verde ecologista, nem as cores alucinadas psicodélicas que a mídia promove sem cessar! Mesmo quando agredidos pelo aberrante, pelo bizarro, pelo estapafúrdio, hoje estamos no enfadonho e sem vida, próprio do cinza.
E a Roma Eterna, dos mártires e dos santos? Prepare-se para um choque. Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana, diz: “Os que em nossos dias defendem persistentemente a santidade dos Sacramentos do Matrimônio e da Eucaristia são etiquetados como fariseus. Mas, no momento em que o princípio lógico de não contradição é válido e o senso comum funciona ainda, o verdadeiro é o contrário. […] Aqueles que por dois mil anos falaram incessantemente e com a máxima clareza da imutabilidade da Verdade divina, frequentemente ao custo de sua própria vida, hoje seriam etiquetados como fariseus […]. Pode-se afirmar que o Sínodo [ocorrido em outubro último no Vaticano] em certo sentido se tenha revelado aos olhos da opinião pública como o Sínodo do adultério, e não da Família”.
No site de “Radici Cristiane” em seu editorial Non Possumus de dezembro/2015, lê-se a frase: “É portanto uma verdadeira vergonha que os Bispos católicos, sucessores dos Apóstolos, tenham utilizado as assembleias sinodais para atentar contra o constante e imutável ensinamento da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio e a não admissão aos Sacramentos dos divorciados que vivam uma união adulterina” (http://www.radicicristiane.it/2015/12/editoriali/non-possumus).
Não é de uma cor aberrante? Entretanto, parte considerável dos católicos, salvo algumas exceções, encara essa barbaridade com o espírito de tibieza do ambiente moderno. E a tibieza é cinza.
Isto em nível macro. Mas em nível micro, com relação ao cotidiano, informa Luís Dufaur no site em seu blog:
“A digna igrejinha de Santa Bárbara, na localidade de Llaneras, região das Astúrias, na Espanha, foi cair nas mãos de um ‘artista urbano’, um grafiteiro de nome Okuda San Miguel, informou o jornal ‘El Mundo’, de Madri. O grafiteiro Okuda degradou ao extremo o nobre templo pintando-o por dentro com cores e imagens aberrantes, que incluem insinuações obscenas e esotéricas num estilo que poderia ser qualificado de surrealismo pop. Okuda aceitou desfigurar a igreja quando viu uma foto na Internet de praticantes de skate dentro dela.”[foto ao lado]
Seria apenas uma extravagância, ou um sintoma da situação imperante nos meios católicos? Mas o bizarro que se repete muito acaba se tornando monótono e, portanto, cinza.
Na marcha cadenciada rumo ao cinza, sinaliza o seguinte pensamento de Fabio Porchat, o qual recentemente, em volumoso diário paulista, lançou abundante água no triste moinho cinza de nossos dias:
“Cada um tem a sua razão de achar aquilo. Estando certo ou errado. E é claro que você vai concordar com algumas coisas e discordar de outras. Vivemos num mundo plural, mas ainda pensamos com uma cabeça bilateral. Certo ou errado. Bom ou mau. É ou não é. A questão é que tudo está certo e errado, é bom e mau, é e não é, ao mesmo tempo” (Tem razão, “O Estado de S. Paulo”, 27-1-2005, C4).
Mas voltemos aos nossos dias. Alguém dizia com propriedade:“Quem não está confuso é porque está mal informado.”
Entretanto, outrem poderá levantar a objeção: e a confusão reinante na Idade Média?
A Idade Média não era cinza. [representação no quadro ao lado] Pelo contrário, era harmoniosa, cheia de vida, de colorido, sob as bênçãos da Igreja católica.
Por exemplo, uma feira medieval não era assim. Era um caldeirão onde se concentravam, se fundiam, tomavam sabor ou desandavam as aspirações da sociedade. Nela se destilavam os caldos culturais da vida em comum. Ela era a concha acústica onde se misturavam todos os sons: as conversas informais, as calorosas discussões, as maldades das comadres, as bondades das velhas matronas, os ditos sentenciosos de idosos, os balbucios das crianças, os brados dos camelôs, o tinir dos sinos, o ruído do martelo nas bigornas ou nas ferraduras dos cavalos, o latir dos cães e mesmo o som de um bandolim. De vez em quando, ouvia-se o repique de um tambor anunciando a leitura de uma ordenança do rei ou das autoridades da cidade. E, em meio de toda essa confusão, também crianças gritavam. Nada tinha de triste de enfadonho, de tristonho, de infeliz ou de cinza. Era, como dizia Madame de Sévigné a outro propósito, “uma agradável confusão sem confusão”.
O problema é que a confusão em que estamos é uma “confusão confusa”, tíbia, relativista e sem vida: moralmente má, teremos que prestar contas por ela. É preciso imperiosamente tentar sair dessa situação.
E a cacofonia do mundo moderno? A estridências, o som agudo do show punk, as desafinações do mundo contemporâneo, tudo isto é cinza? Não seria melhor escolher outra cor mais vivaz? Mas essas estrambóticas, estúrdias e mirabolantes excentricidades também cansam. Elas se tornam cinza…
Concluo com uma pergunta. O cinza é a cor da transição e se o mundo moderno é cinza, convém indagar se é a transição entre o quê e o quê? Deixo a resposta ao juízo do leitor.
Já que vamos nos aproximando do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, convém recordar que há algum tempo, no discurso de encerramento de uma sessão solene da TFP, o Prof. Plinio lembrou a famosa promessa da Virgem Santíssima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”. E ele acrescentou: e triunfará mesmo!”
Com esses termos encerrava ele sua alocução e termino eu este artigo, lembrando as palavras da Sagrada Escritura a respeito do morno — e o cinza é o morno — em se tratando de cores: “Oxalá fosse tu frio ou quente; mas como és morno, começarei a vomitar-te de minha boca” (Ap. 3, 14-22).
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