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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

A entrega do Afeganistão e o castigo providencial

Por Luis Dufaur

7 minhá 3 anos — Atualizado em: 10/10/2021, 6:51:32 AM


  • Luis Dufaur

Adesonrosa saída dos Estados Unidos do Afeganistão a 20 anos do atentado contra as Torres Gêmeas e a guerra antiterrorista dela decorrente fincou mais um marco do longo processo de declínio ocidental. Plinio Corrêa de Oliveira vinha alertando havia décadas que o Islã ressuscitava não com o vigor dos míticos Maomé ou Saladino, mas com o fogo satânico da Revolução gnóstica e igualitária, devoradora dos restos da Cristandade. Essa previsão está se cumprindo hoje diante dos olhos de todos, mas a atualidade do caso afegão convida-nos a aprofundar a esclarecedora percepção do fundador da TFP brasileira.

      Em dezembro de 1979, analisando o processo comunista mundial, Dr. Plinio deduziu racionalmente que na Ásia “o bloco chinês precisará constituir um todo que tenha homogeneidade e fazer no Oriente uma aliança asiática à maneira da União que existe na Europa”. E acrescentou, talvez para surpresa de muitos, que “os ocidentais vão ser levados a apoiar a China, e haverá uma aliança do Ocidente com a China”.

      O presidente Nixon já tinha viajado a Pequim entre 21 e 28 de fevereiro de 1972, abrindo a transferência maciça de capitais e fábricas que tiraria o império maoísta da miséria, construindo seu presente gigantismo. Em 1º de março de 1979 os dois países formalizaram o reconhecimento diplomático mútuo, arguindo temores pela invasão soviética do Afeganistão. Os EUA foram imitados pelos países europeus e asiáticos inseridos na economia de propriedade privada e livre iniciativa.

      O Ocidente em nada precisava da China, pelo contrário, era esta que necessitava em tudo dos ocidentais para se tornar a potência comunista hegemônica universal com a qual Mao Tsé-Tung sonhou, mas não realizou nem na mais mínima medida. “No meu ponto de vista — pregou Mao — seria preciso unificar o mundo […]. A China então poderia se apresentar como ‘centro da revolução mundial’”[1]. Na ótica chinesa, o rival imediato era asiático, ou seja, a Rússia, embora essa rivalidade fosse suspeita, pois a China pregava o comunismo como os soviéticos. O Ocidente fechou os olhos e enriqueceu Pequim, pensando em desequilibrar em seu favor a falsa disputa.

Motivo da debilidade do Ocidente

O vice-chefe do governo provisório talibã, Mawlawi Abdul Salam Hanifi, tão logo tomou posse, visitou o embaixador da China, Wang Yu

      Plinio Corrêa de Oliveira não teve ilusões e anunciou que esse jogo daria “na maior chantagem da História”, pela qual a América do Norte e a Europa, com o apoio da América do Sul, tendo de sobejo os meios para derrubar o monstro comunista, por espírito de diálogo “se posicionariam como cada vez menores e mais amedrontáveis diante do colosso chinês”.

      Acrescentava que o Ocidente carecia do petróleo da região islâmica — considerada também o quintal dos imperialismos chinês e russo, como observou a Associated Press,[2] sobre a qual iam estendendo seus tentáculos. Por isso, Dr. Plinio em 1979 previu que “se tornará indispensável os EUA desembarcarem no Golfo Pérsico e tomarem conta dos poços de petróleo […] porque, do contrário, a navalha do adversário estará na nossa carótida”.

      Acrescentou ainda que “toda essa montagem parte de uma grande mentira na qual o Ocidente ex-cristão afunda há séculos: ele some na noite da debilidade porque não quis aceitar a força da luz que vem de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora”.

      Então, ele anunciava a tragédia de dimensão apocalíptica pela qual o Ocidente afundava diante de imensos Molochs diabólicos — russo ou chinês —, acreditando na mentira da inferioridade da (ex-) civilização cristã em face da grandeza enganosa dos colossos da iniquidade.

      Preparava-se assim — dizia Dr. Plinio — “o castigo mais espetacular da História. A queda da Atlântida numa noite de tempestade ou o próprio Dilúvio não são nada em comparação com isso. Porque no Dilúvio as pessoas morreram, mas não queriam morrer. Hoje há um desejo de acreditar na própria ruína e de correr com as próprias pernas rumo ao caos. A área de civilização que foi o doce Reinado de Jesus Cristo, conduzida pelo demônio, irá praticar, completamente desvairada, o suicídio numa morte histórica”.

Novos tentáculos da China no Afeganistão

Dez dias antes da retirada americana, tropas russas fazem exercícios militares com o Tajiquistão e o Uzbequistão, a 20 quilômetros da fronteira com o Afeganistão

      O atual caso afegão é ilustrativo dessa autodemolição: o vice-chefe do governo provisório talibã, Mawlawi Abdul Salam Hanifi, tão logo tomou posse, visitou o embaixador da China, Wang Yu, e Pequim lhe reiterou o apoio. Quando o último soldado americano partiu, o Partido Comunista Chinês (PCCh) desatou em impropérios contra a democracia americana. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, atacou o estilo de vida americano e objetou sua ação no Afeganistão.[3] Elogiou o regime talibã, que agora estaria “mais sóbrio e racional […] com práticas boas, positivas e pragmáticas”. Em troca, o porta-voz talibã disse à TV chinesa que Pequim cooperará com o novo regime.[4] Em ruas e casas, os fanáticos torturavam e assassinavam opositores.

      O governo talibã se associou ao bloco chinês enquanto ainda se espalhava o vírus proveniente de Wuhan com suspeitas de guerra bacteriológica; Pequim multiplicava provocações militares na fronteira com a Índia, criava bases aeronavais no Mar do Sul da China usurpando ilhas de vizinhos, hostilizando naves de guerra americanas, australianas, filipinas e de outros países, enquanto seus caças violavam o espaço aéreo de Taiwan.

      O Afeganistão é para a China o que os Sudetos anexados foram para Hitler no preâmbulo da II Guerra Mundial, observou um jornal chinês sediado em New York.[5] A ambição hegemônica não se satisfaz com a humilhação americana em território afegão e quer mais. Thomas L. Friedman chegou a supor no The New York Times[6] que a próxima guerra enfrentará os EUA amolecidos, mas ainda poderosos, e a China astuciosa e agressiva. “Não se pode achar que a era da guerra contra o mal terminou em Cabul — escreveu o vice-presidente da TFP americana, John Horvat, autor do best-seller Return to Order —, pelo contrário, ingressamos num período muito mais perigoso da decadência interna moral e religiosa do Ocidente, de seus costumes e de suas instituições”.

Tentáculos russos no Afeganistão

Zamir Kabulov (círculo), representante especial do presidente Putin no Afeganistão, reunido com líderes talibãs na embaixada russa, enquanto estes tomavam a capital

      O tentáculo chinês não foi o único a agir.Sob a administração Trump, os serviços de inteligência americanos constataram que o corpo especial russo Unidade 29155 pagava prêmios aos talibãs ou a criminosos associados para matar soldados ocidentais.[7]O então presidente foi informado e o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca debateu o problema, mas faltou coragem para uma reclamação diplomática. A mesma informação foi posta na mesa do novo presidente, mas Biden nada fez. A agência Reuters registrou a amigável relação dos talibãs com a embaixada russa em Cabul.[8] Zamir Kabulov, representante especial do presidente Putin no Afeganistão, estava “conversando” com os talibãs enquanto estes tomavam a capital. E se disse satisfeito porque a embaixada se sentiu bem protegida pelos fanáticos com os quais “vai elaborar um mecanismo permanente de segurança” tendo em vista sua conduta favorável.

*   *   *

      A patética queda de Cabul nos leva mais uma vez à previsão feita por Plinio Corrêa de Oliveira em 1979 sobre a defecção do Ocidente, a qual ele via agigantar-se como um “acontecimento terrível e, ao mesmo tempo, de grandiosas conotações trágicas em que resplandece o castigo de Deus. Não quiseram ouvir Fátima e tantas outras misericordiosíssimas advertências. A História dirá que [os moles embebidos do relativismo da Revolução anticristã] se deixaram derrotar pelos gnomos que os mataram, e que capitularam porque queriam ser derrotados, pois acreditaram na mentira anticristã que os levou à extinção”.

      Não há então esperança? Sim, contamos com Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças. Mas arguir-se-á: “As pessoas não veem em que estado foi posta a Igreja Católica?” E a resposta brota nos lábios: “Sim, como o Sagrado Corpo de Cristo após os atrozes ferimentos de sua Crucifixão e Morte. Entretanto, Ele ressuscitou, reina nos Céus em pompa e majestade, de onde prepara o reerguimento de Seu Corpo Místico que resplandecerá no Reino de Maria. É hora de apelarmos à Mãe de Deus num gesto supremo de amor e confiança”.


Notas:

Fonte: Revista Catolicismo, Nº 850, Outubro/2021.

[1]) Jung Chang e Jon Halliday, “Mao”, Gallimard, Paris, 2005, 843 p., págs. 500-501 e 609.

[2]) https://apnews.com/article/34ccb6eaba88a5035d657d8ec58640f7.

[3]) https://www.theepochtimes.com/china-claims-to-offer-real-democracy-in-wake-of-us-defeat-in-afghanistan_3984765.html

[4]) https://www.youtube.com/watch?v=NxQK-TfDBbM

[5]) https://www.theepochtimes.com/afghanistan-in-context-xi-jinping-has-occupied-the-sudetenstan_3979113.html

[6])https://www.nytimes.com/2021/09/07/opinion/china-us-xi-biden.html?action=click&module=Well&pgtype=Homepage§ion=OpEd%20Columnists

[7])https://www.nytimes.com/2020/06/26/us/politics/russia-afghanistan-bounties.html

[8]) https://www.reuters.com/world/asia-pacific/russia-will-evacuate-some-embassy-staff-afghanistan-official-2021-08-16/

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Luis Dufaur

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1043 artigos

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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