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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

A espantosa hipótese de Gorjão

Por Gregorio Vivanco Lopes

4 minhá 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:48:42 PM


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Encontrei por acaso meu ex-colega Gorjão. Nos conhecíamos da Universidade. De vez em quando esse encontro acontece, e me faz lembrar algumas discussões acirradas que tivemos quando estudantes.

Não vale a pena declinar aqui o nome inteiro dele, mas dou o traço mais marcante de sua psicologia: Gorjão gosta de apresentar-se como esquerdista radical. Quando o Partido Comunista Brasileiro mudou de nome, ele passou para o PC do B. Depois, achou essa agremiação insuficientemente radical e aninhou-se no PT. Atualmente professa uma ecologia de ponta, como o ex-frei Boff. A única coisa que nele nunca variou foi sua admiração incondicional pelos padres da Teologia da Libertação.

Sempre o tratei com civilidade. Assim, ao encontrá-lo na rua, fui logo dizendo, após os cumprimentos de estilo.

— Você viu, Gorjão? Há uma potência internacional querendo impor ao Brasil suas decisões…

Antes que eu completasse minha frase, ele se tomou de brios e de cólera, e começou a vociferar com um ardor que chamou a atenção até dos passantes, intrigados com tanta fúria:

— Mas é claro! Os Estados Unidos são assim mesmo. Imperialistas até a medula dos ossos. Esses congressistas americanos deveriam ser todos enforcados em praça pública.

Foram em vão meus esforços para interromper tal tempestade verbal e explicar meu pensamento. Ele continuou a vociferar com ímpeto total, ainda por algum tempo. Quando afinal o furacão amainou, pude prosseguir.

— Não, Gorjão. Você se engana. Quem está querendo impor ao Brasil suas decisões não são os Estados Unidos, é a ONU.

Nunca vi, na minha já longa vida, produzir-se de modo instantâneo uma tão grande transformação psicológica como a que ocorreu então com o Gorjão. Cheio de si, agressivo e colérico minutos antes, ficou de repente pálido, desconcertado, inseguro; sua voz passou de tonitruante a tímida e dulçurosa:

— Mas o que fez a ONU?!

Eu então lhe contei que a ONU está exigindo do governo brasileiro que não modifique para baixo a idade da maioridade penal. Sem se importar com as vítimas dos assassinatos, roubos, estupros e ainda outros crimes, praticados por menores de 18 anos, a ONU quer absolutamente que esses delinquentes não sejam incriminados. E se insurgiu contra o projeto de lei existente no Congresso Nacional para esse fim.

A ONU não quer –– por que não quer! –– penalizar adequadamente o menor de 18 anos que comete crimes e é responsável pelo que faz. Tão responsável, que já aos 16 anos é considerado com suficiente clarividência para poder votar, discernir os rumos mais adequados para a Nação e escolher seus mais altos dirigentes.

A perita do Comitê do Direito da Criança da ONU foi peremptória: “Queremos saber o que o Brasil vai fazer em relação a essa proposta … queremos que a idade de maioridade penal seja mantida em 18 anos” (O Estado de S. Paulo, 21/9/15).

Gorjão –– que ouviu toda essa explicação lívido e imóvel, quase se diria nocauteado –– acordou por fim de seu letargo, e numa tentativa canhestra de defender a ONU, exclamou:

— Certamente não é intervenção, deve ter havido uma combinação prévia com o governo brasileiro… A ONU não faria isso sozinha…

— Eu não tinha pensado nisso, Gorjão, mas se sua hipótese for verdadeira, o fato é espantoso! Como é que o governo brasileiro, querendo a todo custo defender os que cometem crimes, sendo menores, vai pactuar com a ONU para ela pressionar os deputados brasileiros?

Aí é que Gorjão ficou mesmo atordoado!

— Não, não… eu não quis dizer isso… eu me exprimi mal… desculpe… mudemos de assunto…

Eu não tinha nenhuma intenção de atazanar o pobre Gorjão. De modo que aceitei logo a sugestão dele e mudei de assunto. Falamos um tanto de chuva e bom tempo, e nos despedimos pouco depois com urbanidade.

Porém, a hipótese dele ficou girando na minha cabeça ainda por algum tempo. Mas não, não pode ser… É espantoso demais que o governo brasileiro vá pedir à ONU que intervenha no País para pressionar os congressistas a não penalizarem adequadamente quem comete crimes, sendo menor. Ou será que a hipótese de Gorjão é verdadeira!?

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Autor

Gregorio Vivanco Lopes

Gregorio Vivanco Lopes

173 artigos

Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

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