Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 3 anos — Atualizado em: 2/26/2022, 9:02:01 PM
Guerra híbrida. Amigo caríssimo enviou-me artigo de enorme interesse sobre a crise ucraniana. Sob vários aspectos, é o mais esclarecedor entre o material que li. Original alemão, divulgado pela Deutsche Welle; tive, entretanto, sob os olhos tradução inglesa “Russia’s hybrid war against Ukraine, 18.2.2022 (A guerra híbrida da Rússia contra a Ucrânia). Híbrido aqui significa múltipla; vários tipos de guerra usados ao mesmo tempo contra a Ucrânia, mas com um só objetivo: prostrar o país. E ainda o Ocidente. Tirar dos dois, por corrosão constante, a vontade de lutar e de resistir.
Guerra cibernética, escaramuças militares e fake news políticas. Informa o texto, apenas na última semana, a Ucrânia sofreu ataques cibernéticos sem precedentes dirigidos contra o ministério da Defesa e contra dois bancos, Privatbank e JSC Oschadbank. Foram atingidos clientes individuais e o sistema bancário inteiro. Ao mesmo tempo havia choques no leste da Ucrânia entre rebeldes treinados por militares russos contra forças do exército ucraniano. E se divulgavam notícias de que a Duma iria reconhecer a soberania da parte leste da Ucrânia, cuja população é majoritariamente de origem russa. Esses são apenas alguns exemplos, informa o estudo, das escaramuças que a Rússia vem promovendo na Ucrânia já há oito anos.
Controlar a narrativa. Comenta a respeito a Dra. Margareth Klein, pesquisadora do Instituto Alemão para Assuntos de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik / German Institute for International and Security Affairs), especializada na Europa Oriental: “Na guerra híbrida é importante ter em vista que os métodos não militares têm papel central. Não se trata sobretudo de ocupação militar do território. Pelo contrário, o objetivo é ganhar influência. Demonstrações de poder militar como a presente aglomeração de tropas nas fronteiras com a Ucrânia, os exercícios militares na Bielorrússia, bem como a anunciada retirada de tropas, são apenas parte de um vasto instrumental, mediante o qual a primeira prioridade é controlar a narrativa. Vladimir Putin realmente sabe como conduzir ao mesmo tempo esta guerra em várias frentes”.
Abatimento, desgaste e acomodação. Segundo Klein, o autocrata russo quer corroer o ânimo de resistência dos ucranianos e também dos ocidentais. É o objetivo de oito anos de guerra de desgaste: “É guerra de atrição. A Rússia está tentando colocar a Ucrânia sob pressão fortíssima, em especial na frente interna, com a esperança de reviravolta e caminho novo pró-russo. Outro objetivo pode ser provocar o cansaço de defender a Ucrânia no mundo ocidental. É uma tentativa de explicação do constante ciclo de tensão e distensão na guerra. Provocar a convicção de que a liderança norte-americana é paranóica”. Explica ainda Margareth Klein que na análise de todas as comunicações russas de que tropas do país estavam se retirando, em nenhuma delas os serviços de inteligência constataram retiradas expressivas. Era jogo de propaganda — buscava o que ela chamou controle da narrativa.
Impedir a prosperidade. A Dra. Margareth Klein amplia o panorama. Afirma que existe na juventude ucraniana enorme desejo de crescer na vida, o que seria possível pela adoção no país dos princípios vigentes nas economias ocidentais. Em outras palavras, propriedade privada, livre iniciativa, princípio de subsidiariedade. Nada de estatismo e intervencionismos. Tal fato, a disseminação da prosperidade gradual na população, seria fator importante para puxar o país para a área ocidental. Com reflexos importantes em outros países da região, mesmo na Rússia. Para impedir tal movimento, Vladimir Putin pretenderia manter a Ucrânia em constante crise econômica, é a hipótese aventada pela Dra. Klein. E assim, a Rússia não está apenas impedindo a Ucrânia de aderir à NATO. “A guerra híbrida semeia incertezas, afugenta investidores”. Breve, segundo o estudo da Deutsche Welle, talvez o motivo determinante da agressão russa contra a Ucrânia não seja a tentativa de impedir seu ingresso na NATO (o que, aliás, segundo a garantia do chanceler alemão, se vier, será daqui a muitos anos), mas o temor de que a experiência capitalista no país, com rápido enriquecimento e prosperidade, cada vez mais difundida, tenha como efeito afastar ainda mais as populações do Leste europeu do guarda-chuva russo.
Invasão iminente. O estudo da entidade alemã, que fica como pano de fundo, desperta perguntas decisivas cujas respostas (mesmo quando simples e despretensiosas tentativas com grande carga hipotética) podem enriquecer a compreensão do quadro geral. Cabe a nós procurar resposta tendo como base em especial as notícias que de lá nos chegam. No momento, alarmantes. Além dos Estados Unidos, que por suas autoridades mais importantes afirmam peremptoriamente que a invasão da Ucrânia já está decidida e é iminente (presidente da República, vice-presidente da República, secretário da Defesa), temos advertências semelhantes dos principais chefes de governo da Europa. Destaco aqui declarações de 19 de fevereiro de Boris Johnson, o primeiro-ministro inglês, a Rússia está planejando a “maior guerra na Europa desde 1945” o que poderia provocar “uma geração de derramamento de sangue e miséria”.
O Brasil tem o dever de fugir do cansaço. É claro, o Brasil sofrerá na carne os efeitos da guerra na Europa. Em defesa do interesse nacional — e por dever de consciência — precisaríamos manter viva a recusa da agressão injusta à nação martirizada pelo agressor imperialista. Não podemos cair na tentação do cansaço de defender a Ucrânia. E, é congruente, merece ainda apoio ardente a posição das potências ocidentais e da NATO em defesa dela.
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