Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 7 anos — Atualizado em: 2/16/2018, 6:55:24 PM
Não vou tratar hoje de assunto agradável. Momentoso, sim, necessário; para muitos, distante. Em 30 de setembro de 1938, Neville Chamberlain, primeiro-ministro inglês, voltando de Munique, após encontro com líderes da Alemanha, Itália e França, pronunciou célebre discurso prometendo “paz para o nosso tempo”.As tratativas do premier inglês, levadas a cabo no quadro da política de appeasement, pareciam ter varrido do horizonte o monstro da guerra na Europa. Um ano depois, na madrugada de 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia. Em resposta, a França, o Reino Unido e a Commonwealth declaravam em 3 de setembro guerra à Alemanha. Começava a 2ª Guerra Mundial.
Isolado e incompreendido, um velho político inglês trovejou na ocasião contra os chamados acordos de Munique: Winston Churchill. A ele foi atribuída esta frase, que retrata com fidelidade sua posição no Parlamento ninado pelo fascínio da paz endereçada a Chamberlain: “Tínheis a escolher entre a vergonha e a guerra. Escolhestes a vergonha, tereis a guerra”. De fato, afirmam estudiosos da obra do antigo primeiro-ministro que tal frase nunca foi dita; a legenda terá origem em carta de 13 de agosto de 1938, endereçada a Lloyd George: “Penso que nas próximas semanas teremos de escolher entre a guerra e a vergonha e tenho poucas dúvidas sobre qual decisão tomaremos”. A legenda tem direitos, simpáticos, aliás; tantas vezes põe cor, relevo e nitidez na realidade.
Desde a ascensão do nazismo ao poder, Churchill lutara pelo rearmamento inglês e recusava contemporizações, que tornaria mais devastador, sofrido e problemático o confronto que ele via como inevitável. Na prática, a Alemanha nazista utilizou-se do tempo ganho nas tratativas para se armar ainda mais e preparar melhor as agressões.
Como pesadelo, tudo isso me veio à cabeça ao ler as sanções impostas de forma unânime pelos 15 membros Conselho de Segurança da ONU à Coreia do Norte, em resposta à explosão da bomba nuclear em 3 de setembro último. É a sexta bomba coreana e a nona sanção da ONU, a primeira de 2006. Em cada vez, a situação se apresenta mais grave.
Para obter a unanimidade no Conselho de Segur04ança, os Estados Unidos aceitaram aguar a proposta inicial. E por causa da oposição da Rússia e da China, desistiram da suspensão total das exportações de petróleo para a Coreia do Norte e o congelamento dos bens do ditador Kim Jong-Un. Liu Jieyi, embaixador da China, reiterou que a solução da crise deve ser por meios “pacíficos, diplomáticos e políticos”. Enfatizou ainda que outros países não devem buscar o fim ou o colapso do regime de Pyongyang, nem defender a reunificação apressada da península. Em resumo, duas condições inegociáveis impostas pela China: fica o regime, fica Kim Jong-Un. Terceira: a reunificação por enquanto não está na pauta.
Quanto às sanções, elas proíbem importações de produtos têxteis da Coreia e suspendem novas contratações de trabalhadores norte-coreanos no Exterior. Ninguém garante que a China, nem países da região as respeitarão. Como Cuba com seus médicos, para funcionar no mínimo, a Coreia do Norte precisa mandar trabalhadores para o Exterior, retendo (expropriando) o grosso do salário. 95 mil coreanos trabalham fora, a maior parte na Rússia e na China. A resolução limita ainda a venda de petróleo à Coreia do Norte, com o teto de 2 milhões de barris por dia para produtos refinados. Também não há certeza de que a China, a maior fornecedora, obedecerá ao limite.
Nem vou continuar. Em artigo para o “Washington Post” intitulado “Por que as sanções não funcionam?”, reproduzido em “O Estado de S. Paulo” no dia 15 de setembro, Adam Taylor constata: “A Coreia do Norte está sob sanções da ONU desde 2006. Com o tempo elas se tornaram mais fortes e outros países e entidades, incluindo Estados Unidos e União Europeia também impuseram medidas unilaterais.” O articulista põe o dedo na ferida: “China e Rússia, dois dos mais importantes parceiros comerciais da Creia do Norte, hesitam em aplicá-las”. Em parte, sanções “para inglês ver”.
A reação da Coreia do Norte foi violenta e compõe bem o cenário. Prometeu acelerar o programa nuclear, “redobrar esforços para incrementar seu poderio”. Nada de inesperado.
Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão afirmaram estar preparados para fazer mais pressão, caso Pyongyang se recuse a cessar o desenvolvimento de seu arsenal nuclear. Daqui a um ano, dois, quando se constatar que a Coreia não mudou o rumo, a situação estará pior do que hoje. Virão novas sanções? E assim, até quando?
Claro como água do pote, a Coreia do Norte está caminhando para ser potência nuclear com capacidade de transportar bombas em foguetes transcontinentais. E, como reação lógica, está crescendo no mundo político e na opinião pública em geral do Japão e da Coreia do Sul a exigência de que esses dois países se armem nuclearmente. No futuro — ruminam —, do que poderá valer o guarda-chuva norte-americano, segurado por líderes que bradam o “America first”?
Parece-me óbvio que os Estados Unidos têm os meios para resolver a contento a questão. No entanto, preocupa, pois cada adiamento aumenta em muito os custos da solução. Lembro outra frase de Winston Churchill: “Você pode sempre confiar em que os norte-americanos farão a coisa certa — depois de tentarem todo o resto”.
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