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As imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo flagelado e coroado de espinhos, que normalmente vemos nas igrejas aqui no Brasil, nem de longe se comparam com a esta.

Nesta magnífica fotografia só do busto, Sua fisionomia traduz uma dor que chega até o limite da resistência. Quer dizer, um pouco mais de dor, a resistência quebraria, Ele morria. Mas ao mesmo tempo traduz uma firmeza e uma deliberação de ir até o fim. O que é impressionante!

Por outro lado, nota-se n’Ele uma tristeza meio perplexa frente à maldade que encontra diante de Si. Uma maldade que surpreende quase até ao desconcerto.

O escultor soube expressar bem o quanto Jesus era sensível à contradição e ao disparate da crueldade que sentiu diante de tanta bondade que manifestou. Não há n’Ele nenhuma cólera, mas há um reproche [uma censura] enorme. Imaculado! Justo! Reto! Naturalmente o Santo Sudário é superior, nada se lhe compara, mas imagens como esta eu conheço poucas. É a imagem de um rei padecente, mas que tem a coroa das dores, que vale mais do que a coroa de ouro.

Lembra-me uma frase profética do Antigo Testamento a respeito de Nosso Senhor: “Ecce in pace amaritudo mea amarissima” [Eis na paz a minha amargura muito amarga (Isaías 38, 17)].

O artista-escultor parece ter entrado profundamente no papel de Nosso Senhor e soube compreender a posição d’Ele. É toda uma análise da situação interna de Jesus diante do que externamente Lhe ia sucedendo durante a Paixão. No meio de tudo isso, uma doçura inefável.

O Aleijadinho é mais artista do que o escultor desta imagem, mas este expressou melhor a alma de Nosso Senhor. O Aleijadinho expressou muito bem os profetas, que considero obras-primas. São estupendos! Mas expressar a alma e o padecimento de Jesus Cristo como este escultor conseguiu, o Aleijadinho não conseguiu.

Nosso Senhor é por excelência o Vir Dolorum, o Varão das Dores. Quem desejar compreendê-Lo inteiramente, compreenderá em função da cruz. Se fizer abstração da cruz não entendeu nada.

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 8 de maio de 1993. Esta transcrição não passou pela revisão do autor. Fonte: Revista Catolicismo, 892, abril/2025

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