Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
10 min — há 3 anos — Atualizado em: 4/17/2022, 4:05:53 AM
Catolicismo transcreveu, em sua edição da Semana Santa de 2021, pungentes trechos do extraordinário livro Jesus Cristo, Vida, Paixão e Triunfo, do Padre Augustin Berthe, missionário redentorista francês do século XIX.
Para consideração de nossos leitores e meditação nos dias da Semana Santa deste ano, damos prosseguimento à narração do autor, que após comentar a Flagelação, a Coroação de espinhos, a Crucifixão, o Sepultamento e a triunfal Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, narra a sua gloriosa Ascensão. O sacerdote francês não a descreve friamente, apenas como um perito no assunto, mas de um modo vivo, fervoroso, deslumbrante.
Antes de subir ao Céu, nosso Divino Redentor preparou os apóstolos e discípulos para a grandiosa missão de difundir o Cristianismo por todas as nações. Depois ascendeu majestosamente, cercado por Anjos e testemunhado por sua Santíssima Mãe, pelas santas mulheres e por seus fiéis seguidores, encarregados por Ele de propagar o Reino de Deus.
Da Redação
GLORIOSA ASCENSÃO DE JESUS CRISTO AO CÉU
Todos os olhos, fixos n’Ele, contemplavam o seu rosto radiante, a sua fisionomia toda celestial e o seu olhar cheio de bondade e ternura que percorria os observadores como para dirigir a cada um o derradeiro adeus
Tinha Jesus concluído a sua missão na Terra. Tendo descido do Céu para pregar o Reino de Deus, resgatar a humanidade decaída e fundar a nova sociedade dos filhos de Deus, só Lhe restava transformar os continuadores da sua obra noutros tantos Cristos, dotando-os com aquele Espírito divino que falava pela sua boca e operava pelas suas mãos. Mas, como anunciara muitas vezes, não havia de enviar-lhes o Espírito Santo senão depois de voltar para junto do seu Pai e após a sua glorificação nos Céus.
Depois de um mês passado com os seus apóstolos em celestiais conversas, mandou-lhes Jesus que voltassem para Jerusalém e que O esperassem no cenáculo, onde se juntaria a eles. Puseram-se, pois, a caminho, alegres, com as caravanas que se dirigiam já para a Cidade Santa, a fim de se prepararem para as festas do Pentecostes. Ia com eles Maria, a Mãe de Jesus, rodeada das Santas Mulheres que nunca a abandonavam e de certo número de discípulos privilegiados. Estavam ainda receosos do ódio dos fariseus deicidas, mas o divino Ressuscitado estaria com eles e saberia defendê-los contra os seus inimigos.
Se os convocava para Jerusalém, era sem dúvida a fim de os fazer testemunhas de algum novo triunfo. Quem sabe — diziam eles — irá enfim restaurar o Reino de Israel? Apesar de todas as instruções do seu Mestre sobre o Reino de Deus, permanecia arraigado no seu espírito o preconceito nacional acerca do reino temporal do Messias.
Missão dos apóstolos revestidos da divina armadura*
Aos 40 dias depois da Ressurreição, estavam reunidos no Cenáculo, quando Jesus apareceu no meio deles e se sentou familiarmente à mesa. Falou, como sempre, do Reino de Deus que os apóstolos iam estabelecer na Terra. Durante os três anos que passara com eles, tinha-lhes revelado o seu Evangelho, confiado os seus divinos Sacramentos e designado o chefe soberano que devia dirigi-los. A eles pertencia agora pregar a todos a Ressurreição do Mestre, como prova da sua Divindade e da Religião Santa que o Pai intimava pelo seu Filho a todos os habitantes da Terra.
A empresa seria rude, tanto mais que os poderes deste mundo não poupariam os discípulos mais do que pouparam o Mestre. Mas Jesus não abandonaria os seus enviados. Enviar-lhes-ia o Espírito do Alto que os encheria de luz e penetraria com a sua força. Mandou-lhes, pois, que não saíssem de Jerusalém mas que ali esperassem aquele Espírito que os revestiria com a divina armadura. Começaria, nesse momento, a missão deles — a pregação da penitência para remissão dos pecados — e, em Jerusalém, onde iam receber o batismo de fogo é que deviam inaugurar o seu ministério.
Missão apostólica: expandir o cristianismo por toda a Terra
Animados com estas recomendações e promessas, imaginaram os apóstolos que, com a vinda do Espírito Santo, ia começar o reino visível do Messias. “Senhor — perguntaram eles — é agora que ides restaurar o Reino de Israel?”. Jesus não respondeu a esta pergunta e deixou ao Espírito Santo o cuidado de espiritualizar aquelas almas terrenas. Mas repetiu-lhes o que já lhes dissera sobre o seu Reino definitivo. “Não vos pertence a vós conhecer os tempos e momentos que o Pai determinou em virtude do seu poder soberano”. E, com respeito à missão deles, acrescentou: “Vai descer sobre as vossas almas o Espírito Santo e, então, sereis minhas testemunhas em Jerusalém e depois em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da Terra” (Act. 1, 6-8).
Depois da refeição levou-os Jesus para os lados de Betânia, já fora da cidade. 120 pessoas acompanhavam o divino Triunfador. O cortejo seguiu pelo vale de Josafá. Jesus avançava majestosamente no meio dos seus. Os apóstolos, os discípulos e as Santas Mulheres em grupo com Nossa Senhora, seguiam-no com santa alegria mas tristes ao pensar que o bom Mestre os ia deixar. Atravessou Jesus a torrente do Cedron, onde os seus inimigos Lhe haviam dado a beber água lodosa.
Depois, deixando à esquerda o horto de Getsêmani, teatro da sua mortal agonia, subiu pelo Monte das Oliveiras. Tendo chegado ao cimo, lançou um derradeiro olhar àquela pátria terrestre, onde tinha passado 33 anos, desde o seu nascimento no estábulo de Belém até à sua morte sobre a Cruz do Gólgota. Tendo vindo ao meio dos seus, os seus não O tinham recebido, mas aproximava-se a hora em que o gênero humano, vivificado pelo seu Sangue, ia adorá-Lo como a seu Pai e a seu Deus.
Para além do Mediterrâneo, o seu olhar abraçava aquele Ocidente onde os seus apóstolos levariam em breve o seu Nome bendito e arvorariam até no alto do Capitólio romano a cruz do Calvário. Naquelas longínquas plagas milhões de corações, durante o decorrer dos séculos, baterão por Ele com grande amor. E antes de deixar a Terra, abençoou todos aqueles povos que deviam compor o seu Reino.
Maravilhoso e majestoso espetáculo da Ascensão
Todos os olhos, fixos n’Ele, contemplavam o seu rosto radiante, a sua fisionomia toda celestial e o seu olhar cheio de bondade e ternura que percorria os observadores como para dirigir a cada um o derradeiro adeus. Depois, levantou as mãos para dar a todos uma bênção suprema e, enquanto os abençoava, prostrados a seus pés, eis que, de repente, o seu Corpo glorioso, posto em movimento por um ato do seu divino Poder, se elevou majestosamente para os Céus. Mudos de surpresa e admiração, os apóstolos e discípulos seguiram-no longo tempo com o olhar, até que, por fim, uma nuvem O envolveu e subtraiu aos seus olhos.
E, como não cessassem de fixar o ponto onde O tinham visto desaparecer, apresentaram-se a eles dois anjos vestidos de branco. “Homens de Galileia — disseram — por que estais assim a olhar para o Céu? Este Jesus que acaba de vos deixar para subir aos Céus, deles descerá um dia como O vistes subir” (Act. 1, 10-11). Tendo descido do Céu sob a forma de escravo para salvar os homens, segunda vez de lá descerá com a majestade do Rei dos Reis, para os julgar.
E Jesus continuava a subir para o Trono do seu Pai, logo se vendo rodeado de inumeráveis legiões de almas que, retidas no Limbo desde longos séculos, estavam à espera de que o novo Adão lhes abrisse as portas do Céu. À frente daqueles fiéis da antiga aliança, avançavam os dois exilados do Éden que não tinham cessado de esperar a salvação pelo Redentor prometido à sua raça. Iam também os patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob, Moisés e os Profetas. A seguir, iam as gerações de alma reta e que de coração tinham esperado Aquele que devia vir.
Gloriosa e solene entrada de Jesus no Céu
David, com a sua maravilhosa linguagem, pintou a chegada do Triunfador ao alto dos Céus. Assim como à porta do Eden vigiavam dois Arcanjos para impedir que os nossos primeiros pais nele entrassem, assim também às portas do Paraíso estavam os anjos de vigia para as abrir ao novo Adão. De repente, ouviram eles o canto triunfal do exército dos santos que rodeavam Jesus:
— “Príncipes — diziam eles — abri as vossas portas, abri-vos ó portas eternas e entrará o Rei da Glória”.
— “Quem é esse Rei da Glória?” — perguntaram os anjos.
— “É o Senhor — responderam os santos — é o Deus forte e poderoso, o Senhor dos exércitos. Abri-vos, portas eternas, é Ele, o Rei da glória” (Sl 23, 7-10).
E as portas abriram-se e Jesus atravessou as fileiras dos exércitos celestiais que, por sua vez, O aclamaram como a um chefe desde longo tempo esperado. Por Cristo, com efeito, é que as suas adorações e louvores devem subir para o Eterno, mais dignas da sua majestade. Por Ele também, é que se encherão as lacunas abertas nas suas fileiras com a queda dos maus anjos. Jesus entrou, pois, no Céu, tanto como Rei dos anjos quanto como Rei dos homens.
Estabelecer o Reino de Deus em todos os povos
David conta também como Cristo, filho de Deus segundo a carne, mas Senhor seu pela geração eterna, foi recebido pelo Pai celeste, quando se Lhe apresentou diante do Trono. “Deus disse ao meu Senhor: senta-Te à minha direita”. E o Pai lembrou-lhe que Ele tinha direito a esta honra, primeiro por ser seu Filho, igual em tudo a Ele mesmo: “Eu Te gerei antes da aurora”. E depois como Filho do Homem, vencedor do mundo e do inferno, Rei da humanidade resgatada: “Senta-Te à minha direita e os teus inimigos sejam o escabelo dos teus pés” (Sl 109, 1; Mt 22, 44).
Em virtude da sua realeza, foi Cristo investido de um tríplice poder: primeiro, de estabelecer o seu Reino sobre todos os povos, apesar da oposição dos seus inimigos:
“Terás na mão o cetro do poder e estabelecerás o teu império sobre Sião”. E, depois, sobre toda a Terra: “Tu serás combatido pelo príncipe do mundo e pelos seus sequazes mas Tu hás de dominar como soberano sobre os teus inimigos” (Sl 109, 2).
Em virtude de sua realeza, foi Cristo logo investido no pontificado eterno: “Tu és Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 109, 4). O Pai celeste rejeitou os sacrifícios e as vítimas da lei figurativa. Um só sacrificador e uma só vítima Lhe agradam: o sacrificador é o Rei Jesus e a vítima é também Ele próprio. No Céu e na Terra, Ele é o Cordeiro imolado pela salvação do mundo que se oferece ao Pai e intercede por aqueles a quem remiu.
“Eu estenderei o teu império até aos confins do mundo”
Enfim, o Pai conferiu ao Filho a suprema Jurisdição. “No dia da sua cólera, esmagará reis e povos. Julgará as nações, reduzirá a pó os seus adversários e encherá o mundo de ruínas. Pois bebeu da torrente no dia das suas humilhações e dores, justo é que levante a cabeça e confunda os seus inimigos” (Sl 109, 6-7). Sendo Filho de Deus, fez-se homem e escravo e tornou-se semelhante ao bichinho da terra que se pisa com os pés. E, por isso, é que “Deus O exaltou e Lhe deu um Nome superior a todo o nome, para que ao Nome de Jesus todos dobrem o joelho no Céu, na Terra e nos infernos” (Fil. 2, 9-11).
E este mesmo Jesus, que está sentado à direita do Altíssimo, é Aquele a Quem os apóstolos devem glorificar na Terra e o seu Reino é que eles vão estabelecer no mundo todo. Os ímpios far-lhes-ão uma guerra sem tréguas, mas quem poderá vencê-los, se com eles está Jesus? “Conspiram contra o Senhor e contra o seu Cristo”, exclama David. Deus, porém, ri-se das suas vãs conspirações. “Eu Te dei em herança as nações todas da Terra”, disse Ele ao Seu Filho. “Eu estenderei o teu império até aos confins do mundo; e aos teus inimigos parti-los-ei como quem quebra um vaso de argila. Agora, ó reis, compreendeis isto; e vós ó povos da Terra, aprendei!” (Sl 2, 2-8). E, desde a Ascensão até ao Juízo Final, a história dos séculos não será senão a representação dramática desta profecia.
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* Os subtítulos foram inseridos pela redação de Catolicismo.
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