Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 6 anos
Vai e vem; e vem e vai sem fim. Em evidência nos últimos dias, o caminhoneiro é das profissões mais simpáticas do Brasil. Trabalho duro, perigoso, espinhento. Sofre trombadas, não capota, segue na pista. Empreendedor, esbanja energia para crescer; sabe, vitamina de motorista é poeira.
O carroceiro é seu parceiro, pequeno caminhoneiro das antigas cidades do interior (e até das capitais). Foram longe na estrada da vida, grandes fortunas no Brasil têm origem na carroça, no assento e no burro (hoje, na carroceria, na boleia e no motor).
Breca. No começo da paralisação recente veio desse acervo grande parte do enorme apoio público de que gozaram. Gente sofrida, era preciso apoiá-la. Imediatamente depois a paralisação foi vista como oposição a “tudo o que está aí”, corrupção, privilégios malucos, gastança. Era também para consertar o Brasil, ampliou em muito a aprovação.
O apoio murchou na hora em que as telas mostraram as cenas de desabastecimento, apodrecimento e morte da produção, suspensão de cirurgias, gritarias de produtores rurais, advertências de economistas, comida faltando na mesa. Como um pêndulo o sentimento popular correu ligeiro para o outro extremo.
De fato, ficou impopular a paralisação, mas se manteve o apreço pelos caminhoneiros. Os políticos e os formadores de opinião, temerosos de lhes faltar chão nos pés, também oscilaram fortemente em poucos dias, o apoio inicial caloroso se fez silêncio ou crítica.
Uma primeira lição, já clara no rescaldo dos protestos de 2013 (lembro outro, também no movimento do Cansei): bobagem confundir oposição séria com exasperação emocional. Na irritação do sentimento existe oposição, mas é pouco aproveitável na maior parte dos casos. E, no longo prazo, ou a emoção se faz princípio e aí gera decisão estável, ou, nada feito.
Na raiz da paralisação está um ponto cada vez mais destacado por fundamental. O crédito subsidiado do BNDES no governo Dilma levou a excesso de compra de caminhões. Financiamento fácil, caminhões demais. Daí excesso de oferta de frete, pois houve queda na demanda por ele. O movimento dos caminhões nas estradas de momento é 26% menor do existente entre 2003 e 2007
Entre 2014 e 2016, último ano nas estatísticas, foram fechadas 72 mil vagas de motoristas. Com a crise, já de uns cinco anos, o setor está asfixiado. O único modo de conseguir fretes melhores é com o desenvolvimento da economia — aí cresce a necessidade por fretes e sobe seu preço. Não dá para mexer nesse quadro em poucos dias.
Pior ainda, nas últimas semanas subiram forte as cotações do barril do petróleo no mercado internacional, o maior patamar em duas décadas. Provocaram ajustes contínuos no mercado interno no diesel e na gasolina.
A insatisfação explodiu. Como paliativos, foram oferecidos tabelamento, contratação sem licitação por órgãos públicos, diminuição de R$0,46 por litro de óleo. Nos órgãos públicos, aplica-se a tabela. Ali, o caminhoneiro lucra, perde o contribuinte.
Em muitos casos, de particular para particular, o contratante do frete vai fazer cotação. E o caminhoneiro, que já vivia mal, mas vivia desembolsando os R$0,46 que agora não paga, vai baixar ainda mais sua proposta para não ficar parado. A vantagem aqui irá para o contratante do frete.
Haverá um extra à custa do contribuinte. Nota Armando Castelar, economista da FGV: “A concorrência vai aumentar, clientes podem pedir desconto. Esses fatores podem reduzir o valor do frete”. Uma vez mais, o perigo das soluções artificiais.
Fala-se que o governo cedeu muito por estar fraco, sangrando com as denúncias de corrupção. Correto e insuficiente. A razão maior é outra: 7 de outubro. Os políticos governistas estão pressionando, temerosos de derrotas e consequente fim de carreira pública.
Podemos esperar mais subsídios, descarados ou disfarçados, no gás de cozinha e na gasolina. Depois das eleições, a conversa provavelmente mudará de tom. Sempre foi assim, são maravilhas da democracia.
Termino com um quem avisa amigo é. Em vários momentos da paralisação, juntaram-se as gritarias da esquerda e de certas direitas, reclamando ou celebrando. Para mim, recordaram de forma canhestra o pacto Ribbentrop-Molotov que uniu os interesses da Rússia Soviética e Alemanha nazista, de Stalin e Hitler, de 23 de agosto de 1939 a 22 de junho de 1941 [foto ao lado].
Fortaleceu ainda a união nazi-comunista o Acordo Comercial Germano-Soviético de fevereiro de 1940. Dois anos, grosso modo, trabalharam em uníssono. Partilharam a Polônia, a Rússia anexou territórios, enviou matéria-prima para o esforço de guerra nazista. E tanta coisa mais.
Por que agora trago à baila o pacto Ribbentrop-Molotov? Para despertar desconfianças. Quando virem uniões de esquerda e direita, desconfiem, a direita provavelmente será inautêntica. E a boa causa (em outras palavras, o que resta da ordem temporal cristã) acabará prejudicada. Seguro morreu de velho, o desconfiado ainda vive…
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