Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:51:44 PM
“A História é a mestra da vida”, disse Cícero. No momento em que a França e a Europa discutem como responder à provocação terrorista, é esclarecedora a resposta dada por São Luís IX, Rei da França, aos enviados do Velho da Montanha, chefe da seita dos Assassinos.
O historiador Henri Wallon (1812-1904) assim descreve a recepção, baseado nas Memórias do príncipe de Joinville, companheiro de armas de São Luís IX na Primeira Cruzada, e historiador máximo desse monarca.
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Durante seu estágio em São João d´Acre, ele recebeu os mensageiros do Velho da Montanha.
A cena narrada por Joinville lança intensa luz sobre o terror que esse estranho déspota espalhava no mundo por meio de cegos algozes obedientes às suas ordens, e o ascendente que nossas ordens religiosas e militares haviam inculcado no próprio chefe desses fanáticos, desafiando a morte. São Luís bem que merecia colocá-lo também a seus pés.
Ele recebeu os mensageiros na saída da Missa. Estes se apresentaram nesta ordem: à testa, um emir ricamente vestido; atrás dele um assassino, que levava três facas enfiadas uma na outra: a folha da segunda entrava na bainha da primeira, e a da terceira na segunda. Símbolo de morte inevitável: o primeiro assassino deveria ser sucedido pelo segundo, e este pelo terceiro, até o cumprimento da sentença.
Ao mesmo tempo era sinal do desafio ao rei, e do destino que ele teria em caso de recusa. Atrás vinha um outro, que trazia um lençol envolto em seu braço, como para enterrar aquele que o punhal de seu companheiro ia atingir.
O rei convidou o emir a falar:
— Meu senhor, disse o emir, encomenda-me perguntar-vos se vós o conheceis?
— Não, respondeu tranquilamente São Luís, porque nunca o vi, mas ouvi falar dele.
— Posto que vós ouvistes falar dele, respondeu o emir, espanto-me que não tenhais enviado algo de vossa parte para tê-lo como amigo, como o faziam todos os anos o imperador da Alemanha, o rei da Hungria, o sultão de Babilônia e outros, certos de que só poderiam viver enquanto aprouvesse ao meu senhor. Se vós não quiserdes pagar, liberai-o ao menos do tributo que ele deve ao Hospital e ao Templo.
Esse feroz potentado, diante do qual o mundo tremia, de fato pagava um imposto às Ordens do Hospital e do Templo: o que podia ele sobre os grandes mestres dessas ordens, que tão logo fossem assassinados seriam substituídos por outros? Teria sido em vão enviar seus assassinos.
O rei disse ao emir que voltasse após o jantar.
Quando ele voltou, encontrou São Luís sentado entre o Mestre do Hospital e o Mestre do Templo. E o rei lhe disse então que repetisse o que havia dito pela manhã.
O emir respondeu que só o faria diante daqueles que estiveram com o rei pela manhã. Ao que os dois Grandes Mestres disseram:
— “Nós te ordenamos que fales”.
O emir obedeceu e os dois lhe ordenaram que fosse ter com eles no dia seguinte no Hospital.
Ele foi. Os dois Mestres então lhe disseram que o “Velho da Montanha” tinha ousado demais fazendo o rei ouvir tais palavras.
— Se não fosse pelo amor ao nosso rei, acrescentaram, nós teríamos feito afogar todos os três nas águas sujas do mar de Acre, a despeito de teu senhor. Nós te ordenamos que voltes junto a ele, e que, dentro de 15 dias, retornes, trazendo da parte de teu senhor cartas de fidelidade e joias tais que satisfaçam o rei”.
Decorrida a quinzena, os mensageiros voltaram, trazendo como presente a camisa do “Velho da Montanha”. “Como a camisa é a veste mais perto do corpo, assim, disseram eles, o Velho quer ter o rei mais perto de seu amor, mais do que qualquer outro rei”.
O sheik também lhe enviava outros símbolos de sua amizade, junto com mais presentes: um anel de ouro muito fino onde estava escrito seu nome, em sinal de seus desponsórios com o rei, com quem queria ser um só a partir de então; um elefante e uma girafa de cristal, maçãs em diversos tipos de cristais; jogos de xadrez e dominó de âmbar, com o âmbar ligado ao cristal com belas filigranas de ouro fino.
O rei ficou contente com esse ato de submissão e não quis ser superado em generosidade: enviou joias, panos de púrpura, taças de ouro e freios de prata ao “Velho da Montanha”.
Enviou também o Irmão Yves, um bretão que conhecia a língua do país, o mesmo que mandara como embaixador junto ao sultão de Damasco. Pensava provavelmente converter o chefe dos Assassinos.
Esse bom religioso tentou fazê-lo, mas, como Joinville dá a entender, inutilmente, transmitindo uma imagem da corte do Velho própria a desencorajar quem for. Quando o Velho cavalgava, diante dele ia um arauto com um machado dinamarquês de cabo comprido todo recoberto de prata e eriçado de facas; e o arauto bradava: “Afastai-vos diante daquele que tem em suas mãos a morte dos reis”.
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Autor: Henri-Alexandre Wallon, Saint Louis et son temps, Hachette, Pais 1878, capítulo XI, p. 221-223, http://www.inter-zone.org/joinville.html
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