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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Mudando segundo o vento

Por Gregorio Vivanco Lopes

8 minhá 9 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:49:09 PM


A metamorfose da CPT

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à CNBB, tem atuado na prática, juntamente com o MST e outros organismos de agitação agrária, para revolucionar o campo e promover a luta de classes. Tudo isso, é claro, sob o pretexto de ajudar o agricultor pobre e proporcionar-lhe uma terra para plantar.

Sua bandeira maior foi sempre a Reforma Agrária, entendida em seu sentido mais revolucionário e socialista, de promover desapropriações de terras privadas que passam para a férula do Estado, o qual, mantendo-se proprietário das mesmas, as divide em lotes para uso dos assentados.

Mas agora que o socialo-comunismo, a exemplo das cobras peçonhentas, está trocando de pele e passando do vermelho para o verde, sem perder nada de seu veneno, a CPT também se adapta. Duas razões principais aparecem evidentes para essa mudança.

A primeira é o fato de que o sistema de invasões e a criação de assentamentos têm malogrado no seu principal objetivo, que é ideológico. Não só o público em geral tem dado sinais evidentes de estar farto dessas invasões descabidas, como os próprios campônios aliciados para esses atropelos têm-se mostrado arredios à doutrinação da CPT. Quando aderem ao esquema de invasões, na maior parte dos casos é por oportunismo, pelas benesses que recebem dos governos petistas e similares. Ora, se o sistema não consegue fabricar agricultores ideologicamente revoltados, a CPT perde seu latim.

A segunda razão para a CPT adotar o novo rumo é aproveitar o clima criado pelo Papa Francisco, especialmente com a Encíclica Laudato Si, a qual adota como pressuposto as hipóteses não demonstradas dos ecologistas radicais, deduzindo daí posições sociais muito próximas do comuno-socialismo.

*        *        *

No congresso da CPT realizado em Porto Velho (RO) entre os dias 12 e 17 de julho último, uma rotação se esboçou claramente no sentido de adotar uma ação ecológico-tribalista, tática hoje em moda nas esquerdas. O grande inimigo a ser enfrentado é o capitalismo. Assim, a direção da CPT procura acertar o passo com aqueles que já fizeram anteriormente essa rotação, como o ex-frei Boff, frei Betto e outros do gênero.

A atividade revolucionária seria transferida agora para a chamada “territorialidade”, isto é, promover territórios autônomos no Brasil, seja para índios, seja para quilombolas, seja para camponeses. Enquanto unidade política e social, a nação brasileira explodiria.

Dois documentos emanados da CPT — um na abertura do referido congresso (1) e outro no final do mesmo (2) — explicam bem essa troca de pele. Vejamos.

Bispos patrocinam a rotação

“Dom Enemésio Lazzaris, presidente da CPT e bispo da diocese de Balsas (MA), deu boas-vindas aos congressistas e apresentou Dom Antônio Possamai e Dom Moacyr Grechi, também fundadores da CPT, e Dom Benedito Araújo, administrador apostólico de Porto Velho (RO)”. O vice-presidente da CPT é o bispo belga Dom André De Witte, atualmente prelado de Rui Barbosa (BA).

O regime capitalista é legítimo, condenáveis são seus abusos

Explanação a respeito do capitalismo feita pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em debate com o deputado Paulo de Tarso na TV Tupi, em 24-10-1961.

O regime capitalista é aquele regime em que o capital concorre com um elemento próprio para a produção, ao lado do trabalho; o regime capitalista é aquele em que se atribui uma parte do lucro ao capital e se atribui uma parte do lucro ao trabalho.

Parece-me absolutamente evidente que esse regime, desde que atribua partes proporcio¬nadas de lucros a cada uma das entidades a cada um dos elementos que concorrem para a produção, é um regime legítimo.

E tanto é legítimo que nós temos aqui esta afirmação de Pio XI a respeito da legitimi¬dade intrínseca do capitalismo: “Nosso Pre¬decessor, de feliz memória, em sua Encíclica se referia principalmente àquele sistema em que, ordinariamente, uns contribuem com o capital, e outros com o trabalho, para o comum exercício da economia, como ele próprio definiu na frase lapidar: ‘nada vale o capital sem o trabalho nem o trabalho sem o capital’. Foi essa a espécie de economia que Leão XIII procurou, com todas as veras, regular segundo as normas da justiça. De onde se segue que, de per si, não é condenável. E, realmente, de sua natureza não é viciosa. Viola-se a reta ordem quando o capital escraviza os operários, a classe proletária, para que os negócios e todo o regime econômico estejam nas suas mãos e revertam em vantagem própria, sem se importar com a dignidade humana dos operários, com a função social da economia e com a própria justiça social e o bem comum”.

Aí está feita a distinção entre os inconvenientes e os erros do capitalismo, de um lado, a legitimidade do regime, de outro lado. Ora, esta distinção não é uma distinção acadêmica. Ela figura com insistência nos documentos pontifícios.

Fonte: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/

“Dom Enemésio disse que iria apenas reproduzir algumas falas do Papa Francisco. ‘Não vou dizer palavras minhas, vou dizer algumas palavras do Papa, no discurso que ele fez para os movimentos sociais na Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra’. E iniciou com a frase ‘que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina!’. Na sequência, reproduziu a fala em que Papa Francisco critica a tirania do capitalismo”.

Com data de 13 de julho, o esclarecedor documento de abertura do congresso apresenta uma declaração da pesquisadora Leonildes Medeiros, do Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ), no qual ela ressalta: “Há um deslocamento em curso no debate sobre a terra no país. ‘Se nos anos 80 e 90 a pauta era prioritariamente a desapropriação e assentamento das famílias acampadas, hoje, o centro da disputa está na conquista dos direitos territoriais, que não se resolvem com a desapropriação e assentamento das famílias. Não estamos mais falando de um lugar somente de produção. Estamos falando de vida’”.

De que vida se trata? Vejamos:

“Durante o debate, foram apontadas como as principais ameaças às populações camponesas, os grandes projetos de desenvolvimento em curso no país, aliado ao agronegócio e ao capital financeiro especulativo que, através do financiamento dos conglomerados internacionais, ditam a política territorial brasileira.

‘Os povos do campo estão sendo conduzidos para o cativeiro’, ressaltou Plácido Junior, geógrafo e agente da CPT Nordeste II, ao se referir à postura do Estado de submissão a lógica do capital. ‘É por isso que tantos conflitos ocorrem. Há o projeto de vida se confrontando com o projeto de morte’”.

Já um cacique que atende pelo nome de Babau, “do povo Tupinambá da Serra do Padeiro/BA, apontou que muitos conflitos ocorrem em função de o Estado brasileiro não reconhecer as diversas territorialidades existentes no país. ‘Somos nós que compreendemos o que é melhor para o nosso povo, cada povo tem uma forma de gestão de seu território, tem sua forma de se organizar coletivamente’”.

“‘Hoje temos que enfrentar. Unir e lutar ou morrer’, convocou Maria de Fátima, liderança quilombola do Tocantins”.

Sob a influência dos orixás, das rezadeiras e das encantadas

A “Carta Final” do Congresso, datada de 17 de julho, traz ainda outras “pérolas”.

“Nós, 820 camponesas e camponeses, indígenas e agentes da CPT, bispos católicos e da Igreja Ortodoxa Grega, pastores e pastoras, rezadores e rezadeiras, vindos de todos os recantos do Brasil, convocados pela memória subversiva do Evangelho e pelo testemunho dos nossos mártires, pela presença dos Orixás, dos Encantados e Encantadas, nos reunimos para o IV Congresso da Comissão Pastoral da Terra, em Porto Velho-RO, de 12 a 17 de julho de 2015”

Diz o cacique Babau: “Hoje, tem-se consciência de que pelo avanço voraz do capitalismo é o destino da própria humanidade e da própria vida que está em jogo.”

Valdete Siqueira dos Santos, do Assentamento Transval, Jequitinhonha (MG), desafia: “Continua a convicção que nosso projeto de vida vai ser ‘na lei ou na marra’”.

Consta ainda, nessa “Carta final” a declaração de “um trabalhador numa das tendas”. O tom da declaração é de um padre progressista. Assim, numa convocatória que mal disfarça ser inspirada no brado ímpio de Marx (Proletários de todo mundo, uni-vos), diz ele: “Convocamos os povos originários e o campesinato em suas mais diversas expressões […] peões e assalariados, sem-terra, junto com favelados e sem teto, para fortalecer estratégias de aliança e de mobilizações unitárias”.

E acrescenta: “Descobrimos que conquistar terra e território e permanecer neles não é suficiente. O desafio é construir novas pessoas e novas relações interpessoais, familiares, de gênero, geração, sociais, econômicas, políticas entre espiritualidades e religiões diferentes e com a própria natureza”.

“Reassumirmos um processo urgente de MOBILIZAÇÃO REBELDE E UNITÁRIA pela vida, que inclua a defesa do planeta TERRA, nossa casa comum, suas águas e sua biodiversidade.

“Com o Papa Francisco reafirmamos que queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, na nossa realidade mais próxima, uma mudança estrutural que toque também o mundo inteiro”.

É preciso lutar por uma nova noção de “reforma agrária que reconheça os territórios dos povos indígenas e das comunidades tradicionais e uma justa repartição da terra concentrada”.

*        *        *

No total, nota-se no noticiário sobre o congresso uma sensação de impotência da CPT para realizar seus objetivos. Donde a insistência em apelar para a orientação do Papa Francisco.

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Notas:

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­1. http://www.cptnacional.org.br/index.php/acoes/congressos/iv-congresso-da-cpt/2701-participantes-do-iv-congresso-da-cpt-debatem-sobre-os-atuais-entraves-e-desafios-para-as-populacoes-do-campo;

Ver também: http://www.cptnacional.org.br/index.php/acoes/congressos/iv-congresso-da-cpt/2700-celebracao-mistica-abre-programacao-do-iv-congresso-nacional-da-cpt

2. http://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes-2/destaque/2723-carta-final-faz-escuro-mas-eu-canto

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Gregorio Vivanco Lopes

Gregorio Vivanco Lopes

173 artigos

Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

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