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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Dominação e emancipação

Por Péricles Capanema

5 minhá 5 anos


Amigos me solicitaram que escrevesse de novo sobre o chamado marxismo cultural — de momento tão relevante e na moda em decisivos meios de esquerda e na direita — e, de forma congruente, pusesse no texto informações pertinentes à Escola de Frankfurt [foto acima], atemorizador negotium perambulans in tenebris para tantos e com bons motivos. Apenas como informação provavelmente inócua, o artigo anterior “Esclarecimentos sobre o marxismo cultural”, está em meu blog (periclescapanema.blogspot.com) desde 25 de fevereiro último.

Obediente, volto ao assunto. De passagem, o hoje denominado marxismo cultural foi também chamado de marxismo ocidental, aqui e ali é qualificado de Teoria Crítica, marxismo da Teoria Crítica, um dos fundamentos doutrinários da revolução cultural. Nem faz falta realçar a importância da revolução cultural (e a consequente necessidade de estudar doutrinas e métodos seus e como a eles fazer frente).

Para cortar caminho, deixar claro o desatino da escola, embarafusto antes por atalho pouco trilhado, pinceladas rápidas sobre dominação e emancipação, duas das obsessões da referida escola. Seus mais conhecidos representantes blasonavam (não custa lembrar, o marco inicial da escola poderia ser cravado em 1923, estamos em sua terceira e quarta geração) o ideal de extinguir a dominação e levar até limites ainda impensados a emancipação humana. E continuam a alardeá-lo. Não custa lembrar por cima, cada vez que líderes de orientação igual ou parecida afirmavam aplicar o marxismo à sociedade, na prática levavam a dominação e sufocavam a emancipação a extremos delirantes. A Coreia do Norte está aí, Cuba que o diga, a Venezuela sofre efeitos dantescos dos partidários da emancipação.

Sempre é bom lutar contra a dominação? Em todas as situações deve ser buscada a emancipação? Dominação vem de dominus, senhor. Dominação é o ato próprio do senhor. Se é má a condição de senhor, maus serão seus atos. Emancipação, o que é? Emancipação igualmente tem origem latina (mancipium, qualidade do proprietário). Emancipar é extinguir a tutela do proprietário sobre outro ser.

Acontece que é boa e nobre a condição de senhor. E assim, seus atos são bons. E são bons e nobres a condição de súdito e o ato de obedecer. Censuráveis, excessos e carências em ambos os casos, senhor e súdito.

Com efeito, a autoridade existe para o bem do súdito. Removê-la em determinadas circunstâncias lesa o inferior. De forma análoga, a emancipação prematura prejudica o emancipado. Enquanto dura em condições adequadas, favorece o tutelado. Retirar o filho menor da tutela do pai, emancipá-lo antes da hora, compromete presente e futuro. Mais ainda, a autoridade e a dependência prolongam bons efeitos vida afora, perfumam-na. Anos atrás, conversei com prima distante, três filhos criados, casada com advogado rico em Belo Horizonte. Aparentemente tudo ia bem. Uma queixa ia e vinha, a morte da mãe anos antes, fazia pouco o pai. Fechava e abria a mão direita. “Me sinto um cachorro sem dono”, espetou o dedo.

Em suma, é destruidor para o desenvolvimento pessoal arrebentar todas as formas de dominação e promover a desenfreada emancipação. Que o digam em lamentos lancinantes algumas regiões da pobre e devastada África. Aqui rui nas bases o edifício da Escola de Frankfurt, verdadeira Torre de Babel de incontáveis correntes de esquerda, laboriosamente edificado ao longo dos anos.

Em boa hora para a esquerda (péssima para nós) brotou a Escola de Frankfurt. Abriu-lhe horizontes, pôs em evidência matérias imprescindíveis que a doutrina marxista empurrava para o canto ou negava na bruta; enfim, fincou estacas doutrinárias a uma ação revolucionária de maior profundidade que latejava por se expandir.

Movimento intelectual, sobretudo filosófica e sociológica, passou longe do grande público, o que não significa que teve pouca importância. Lembro a propósito, cinco camadas envolvem a Terra: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. Existem fenômenos nas quatro camadas superiores, que influenciam a troposfera, ainda que desconhecidos de nós nela imersos. Assim na sociedade humana. A Escola de Frankfurt influenciou a vida acadêmica e os estratos intelectualizados dos movimentos revolucionários no mundo inteiro. E daí seus conceitos embeberam meios de divulgação, a política, outros ambientes intelectualizados e, finalmente, a sociedade em geral. Apenas uma pequena ilustração, o maior guru do maio de 1968 e das agitações de Berkeley, um pouco antes, foi Herbert Marcuse (1898-1979), dos principais representantes da referida escola.

O marxismo, materialista, determinista e evolucionista procura explicar toda a realidade pela economia, de outro modo, pelas forças de produção. Afirmei no artigo acima mencionado: “Segundo o marxismo, o determinante na história é a economia. E na economia os meios de produção, […] base das relações de produção. As forças produtivas e as relações de produção dariam origem aos modos de produção. Existem sete modos de produção: primitivo, asiático, escravagista, feudal, capitalista, socialista e comunista. Um leva ao outro. Temos aqui a infraestrutura. A superestrutura são as ideias e instituições (entre elas, o Estado) que justificariam e garantiriam os modos de produção. O socialismo nasceria apenas depois de a sociedade capitalista estar bem desenvolvida. Por sua vez, o comunismo só depois do desenvolvimento do socialismo. Para o momento, o importante é o determinismo da doutrina marxista. Em doutrina, por ser determinista, desvaloriza o ato volitivo e relativiza por inteiro o bom, o mau, o belo, o feio, o justo e o injusto, colocados na superestrutura, dependentes das relações de produção. Até a ação política e o proselitismo. Na prática, os partidos comunistas nunca agiram segundo a pura doutrina marxista. Não foram deterministas, esperavam da ação partidária a aceleração do dia em que surgisse o homem novo sonhado pela utopia.”

Antes, tínhamos o marxismo focado em fatores econômicos. Não só deformava, limitava o horizonte. A Escola de Frankfurt propôs a revolução não só na sociedade, mas no interior do homem, privilegiou instintos, advertiu contra os perigos da razão

[em especial denunciou a razão instrumental, instrumento favorecedor da sociedade
capitalista em suas digressões]

. Propugnou a liberação moral, como atividade emancipadora. Enfatizou o papel central dos hábitos, das mentalidades, das ideias. Enfim, do que se chamou a cultura e não apenas do econômico. Daí ser titulada de marxismo cultural. Era marxismo ainda? Nas bases, não. Mas era doutrina profundamente revolucionária, que servia como luva para o avanço do comunismo no interior do homem e na sociedade. Voltarei ao tema.

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Péricles Capanema

Péricles Capanema

184 artigos

Analista político e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

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