Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
Os maiores poderes mundiais decidem seu futuro em eleições neste ano, talvez com a perspectiva iminente de uma Terceira Guerra Mundial.
10 min — há 7 meses
Protestos em Moscou contra a candidatura de Putin para eleições russa
Fonte: Revista Catolicismo, abril/2024
Acaba de ser prolongada até 2030 a autocracia de Vladimir Putin, que exerce há 24 anos seu poder absoluto na Rússia. Agora ele “obteve” 87% dos votos na farsa montada nos subterrâneos do Kremlin. Tais eleições ocorreram em meio a protestos, atentados e violências policiais.
O mundo todo desqualificou a “comédia negra” que o presidente russo montou para obter seu 5º mandato. Mas foi comemorada pelos chamados “países bandidos” (Irã, Correia do Norte, Venezuela, Cuba e China). A eles se juntaram Lula e o PT, que felicitou Putin pela “vitória”…
Um dia antes de concluir as votações, com a “vitória esmagadora” de quase 90%, conforme se divulgou, Putin se voltou ameaçadoramente contra aqueles que não o admiram. Três dias depois, o vice-presidente putinista da Duma (Assembleia russa), Piotr Tolstoi, acenou em entrevista BFMTV (da França) a possibilidade de jogar uma bomba nuclear em Paris, evocando uma infografia de 2022 representando os segundos que levaria um míssil russo para cair nas capitais europeias.
A fraude eleitoral foi pavimentada pela supressão dos candidatos que poderiam diminuir uma “arrasadora” vitória de Putin. Ninguém superaria a máquina de fraudar os resultados, porém Alexander Navalny [foto], ou alguém indicado por ele, teriam podido colher uma votação reveladora da insatisfação popular, sobretudo devido à invasão da Ucrânia.
Esse temor no Kremlin precipitou a morte do opositor Navalny, de 47 anos. Ele foi encarcerado após se submeter a um tratamento na Alemanha, que o salvou do Novichok, um dos venenos preferidos pelos serviços putinistas. Depois, desapareceu da colônia penal onde estava preso por “extremismo” e reapareceu numa outra colônia penal em Kharp, no Ártico russo, onde teria sido assassinado por ordem de Putin, segundo “The Economist” . Dezenas de milhares de russos compareceram ao enterro e às cerimônias públicas em muitas cidades, desafiando a intimidação policial.
A “purga” de dezenas de “oligarcas” e de altas autoridades militares, próximos do ditador, se somou ao mais de um milhão de cidadãos que fugiram de seu provável envio à Ucrânia como “bucha de canhão” e ao meio milhão de baixas na guerra, segundo fontes independentes, o equivalente ao número total de homens engajados no início da invasão. Putin queria, a qualquer custo, uma vitória para ser aclamado pelo eleitorado como um grande triunfador.
Por que, se a eleição estava decidida no gabinete de Putin, no Kremlin? Ele revelou suas intenções acionando um sinistro teclado de ameaças militares contra os países vizinhos. Voltou-se contra a Polônia, dizendo que esta devia boa parte de seu território a Stalin.
A Suécia e a Finlândia, países neutros há dois séculos, entraram às pressas na OTAN. Até maio, a mesma OTAN terá montado o maior exercício desde a Guerra Fria nas fronteiras com a Rússia: o Steadfast Defender 2024, com 90 mil soldados. A Suécia militarizou novamente a ilha de Gotland, no Mar Báltico, que controla a saída naval dos complexos militares russos em torno de São Petersburgo e no enclave lotado de mísseis nucleares de Kaliningrado.
A Lituânia, a Letônia e a Estônia semeiam minas na fronteira com a Rússia e prepararam suas populações para uma invasão. Putin reclamou da Noruega as ilhas Svalberg, estratégicas para a saída da frota russa de suas bases siberianas. Ao sul, Putin apontou contra a desarmada Moldávia, membro da NATO, que tem uma faixa de seu território (a Transnístria) ocupada por tropas russas. Ali um plebiscito teledirigido pediu a anexação do país à Rússia.
Na véspera da reeleição, o senhor do Kremlin causou alvoroço mundial insistindo em entrevista à TV estatal que o arsenal da Rússia “está pronto” para uma guerra nuclear e anunciando armas “mais avançadas” que as dos EUA. Só que tais armas “mais avançadas”, quando testadas, resultaram repetidas vezes em fiasco. Por sua vez, seu vice-presidente, Dmitry Medvedev, no Festival Mundial da Juventude 2024 em Socchi, apresentou um mapa do futuro, no qual a Ucrânia só fica com uma área minúscula em torno de Kiev, e mais territórios de países próximos seriam abocanhados pela Rússia.
Pouco antes do referido pleito eleitoral russo, o presidente francês, Emmanuel Macron, acenou com a possibilidade de enviar soldados à Ucrânia, deixando o prato feito para Putin ameaçar com retaliações de grande porte. Nesses mesmos dias, três unidades de soldados russos contrários a Putin adentraram em seu país a partir da Ucrânia, enquanto dezenas de drones ucranianos incendiavam as grandes refinarias de petróleo em território russo.
Ecoam na Europa rumores de guerra, as indústrias bélicas estão abarrotadas de encomendas, aumentam os orçamentos militares e o temor de uma vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, pois este declarou que cortará o dinheiro que os EUA enviam para cobrir a parte do orçamento da NATO que os europeus não cobrem.
Entrementes, seu partido, o Republicano, já bloqueia as verbas para a Ucrânia que, sem munição suficiente, perde pontos sensíveis do front, permitindo ao exército russo fazer pequenos avanços. No Partido Democrata, Joe Biden, opositor eleitoral de Trump, posiciona-se a favor da Ucrânia, embora seja o presidente mais impopular da história dos EUA e exiba uma condição física e mental débil para enfrentar uma crise das dimensões anunciadas.
Em janeiro, o general Patrick Sanders, chefe do Estado-Maior do exército britânico, anunciou que no Reino Unido os cidadãos poderão ser convocados para uma guerra com a Rússia, para a qual suas forças armadas se encontram assustadoramente desprovidas de soldados. Falou também em começar a instrução militar de 120 mil civis. O encolhimento da mais respeitada força militar da Europa é atribuível a décadas de propaganda ingênua de que o comunismo morreu, deixando lugar a uma era sem choques civilizatórios e voltada exclusivamente para a economia.
Por sua vez, o almirante holandês Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da NATO, defendeu que os países-membros dessa organização devem se preparar para um conflito iminente aberto por Moscou. No mesmo sentido, o ministro sueco da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, falou ao país que todos devem se preparar para o pior dos cenários — uma guerra com a Rússia — antes que seja tarde demais.
A Dinamarca ordenou a duplicação do número de alistamentos e forneceu jatos F16 para a Ucrânia. O serviço militar obrigatório, há anos abolido Europa, está voltando, e em alguns países incluirá as mulheres, na previsão de uma guerra massiva.
Após muitas discussões — e de contornar a resistência abjeta do primeiro-ministro húngaro Victor Orbán, aliado de Putin —, a União Europeia aprovou uma ajuda de 50 bilhões de euros em empréstimos e dons para sustentar Kiev até 2027, e mais 5 bilhões em ajuda militar. Foi o que anunciou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, após reunião extraordinária em Bruxelas, no início de fevereiro, noticiada por “Le Monde”.
Em junho deste ano haverá eleições gerais para o Parlamento Europeu, que sondarão a opinião pública continental face a um eventual ataque vindo da Rússia.
O ministro da Defesa da Letônia, Andris Spruds, estuda retirar seu país do tratado sobre minas terrestres, ou Convenção de Ottawa. Os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) concordaram em construir uma “Linha de Defesa do Báltico”, um complexo de bunkers e fortificações com sensores e obstáculos físicos antitanques, além das minas. “Podemos esperar que a NATO enfrente um grande exército de estilo soviético”, declarou em fevereiro o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia, Kaupo Rosin.
“Nosso plano é usar massivamente minas antitanque, minas de visão e todo tipo de outras minas”, disse Kusti Salm, secretário permanente do Ministério da Defesa da Estônia. Políticos bálticos pedem fazer todo o possível para que o Kremlin pense duas vezes antes de cruzar a fronteira.
Nada alarmou mais do que a difusão de um documento secreto das Forças Armadas alemãs no início do ano pelo jornal “Bild”. Ele desenha diversos cenários possíveis de uma iminente guerra europeia desatada pela Rússia. Segundo a hipótese “Defesa da Aliança 2025”, Moscou planejaria atacar o flanco oriental da NATO próximo ao mês de junho, após uma contraofensiva bem-sucedida contra a Ucrânia, que parece estar acontecendo. Essa “ofensiva de primavera” engajaria 200 mil homens e seria secundada por ataques cibernéticos e outras formas de guerra híbrida, primeiramente contra a Estônia, a Letônia e a Lituânia. A Alemanha ocupa uma posição central nesses possíveis conflitos e é muito respeitada na planificação da guerra.
Os cenários do Ministério de Defesa alemão focam a Polônia e o corredor estratégico (“Suwalki Gap”) entre a Bielorrússia e o enclave de Kaliningrado, há muito identificado como um dos calcanhares de Aquiles da NATO. Em qualquer um dos cenários, uma guerra aberta entre os dois blocos seria o início de uma Terceira Guerra Mundial, afirmou a CNN.
O conflito especulado teria como ponto de partida um exercício militar em grande escala na Bielorrússia, denominado “Zapad 2024”, cujo pior momento seria durante a transição presidencial dos EUA, arguindo falsos “conflitos fronteiriços” ou “motins com numerosas mortes”, ou até “em defesa própria” ante um complô macrocapitalista contra a gestão de Putin.
Em entrevista à Rádio e Televisão Suíça (RTS), o Papa Francisco propôs que a Ucrânia tivesse a “coragem de alçar a bandeira branca e negociar”, gesto universalmente interpretado como capitular diante da Rússia
O golpe psicológico que mais favoreceu a estratégia de Putin proveio infelizmente do Papa Francisco. Em entrevista à Rádio e Televisão Suíça (RTS), ele propôs que a Ucrânia tivesse a “coragem de alçar a bandeira branca e negociar”, gesto universalmente interpretado como capitular diante da Rússia. A reprovação da proposta foi universal. A Ucrânia convocou o Núncio Apostólico, Monsenhor Kulbokas, em sinal de protesto, e indignadas críticas e desmentidos vaticanos, que não solucionaram o caso, se sucederam.
A diplomacia ucraniana acusou o Pontífice de “legalizar a lei do mais forte” e apoiar Putin a “seguir ignorando o direito internacional”. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que “não é momento para falar em rendição”, pois “seria um perigo para todos”. E acrescentou que a única solução negociada duradoura e pacífica passa pelo respaldo militar à Ucrânia. O chanceler alemão, Olaf Scholz, discordou das declarações do Papa: “Kiev tem o direito de se defender e pode contar com nosso apoio”.
Os bispos alemães qualificaram de “infeliz” a fórmula do Papa, mas adotaram as contorções verbais vaticanas que tentam lhe dar um sentido “benigno”. De fato, as palavras criticadas deram continuidade à velha diplomacia vaticana conhecida como Ostpolitik, que tenta há décadas uma aproximação com o comunismo, hoje atualizado em Vladimir Putin.
As palavras do Papa também atiçaram um violento conflito doutrinário dentro da Igreja, rotulado de “guerra civil” religiosa, em todos os campos da teologia e da disciplina eclesiástica. Ela se mostrou agravada pela evidência de uma infiltração de agentes russófilos provocadores no mundo católico, os quais não só militam na extrema esquerda, como também se fingem “conservadores”, posição a partir da qual aplaudem ou desculpam os crimes de Putin.
Às pesadas e ameaçadoras nuvens do perigo de uma Terceira Guerra Mundial se somaram os temores pelo estado de saúde do Papa, que poderia precipitar a eleição de um sucessor num Conclave decisivo para o futuro da Igreja.
Caso esse Conclave se realize, os misteriosos manipuladores da guerra psicológica revolucionária no Ocidente e nos ambientes católicos tentarão por certo condicioná-lo. Isso se daria num contexto de conflito bélico iminente ou em ato, de formas caóticas de guerra híbrida, de ataques cibernéticos e invasões de migrantes empurrados por Moscou sobre a Europa. Nesse horizonte tenebroso, Putin, “consagrado” em eleições fraudulentas, estaria interessado num Papa que olhasse para a Rússia como um baluarte contra o Ocidente corrupto, conforme ponderou o Prof. Roberto de Mattei.
Assim, de três eleições deste ano, aparentemente muito diversas — as presidenciais russa e americana, e a de um Papa num Conclave, que, presumimos, possa acontecer sem perturbações internas ou externas —, pode se decidir o rumo da Igreja e do mundo.
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