Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 13 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:31:34 PM
Os argentinos mais lúcidos estão chamados a denunciar o custo social do populismo que os descaracteriza e ajudar seus compatriotas a se desvencilharem da atitude psicológica que, à maneira da “síndrome de Estocolmo”, mantém tantos deles numa situação de identificação e até submissão com relação aos líderes populistas.
1. O populismo argentino, liderado pela presidente Cristina Fernández de Kirchner, ganhou com 50% dos votos as eleições primárias para a escolha dos candidatos que disputarão as eleições gerais do próximo dia 23 de outubro. Ela obteve assim 38 pontos de vantagem sobre o segundo mais votado, o opositor Ricardo Alfonsín, que ficou com 12%. Na Argentina, o nome do populismo é peronismo, uma corrente política que, num novo passe de mágica política, conseguiu colocar eleitoralmente de escanteio os candidatos presidenciais da oposição. O populismo ganhou, e a única dúvida é de se não terá havido fraude eleitoral, o que está sendo investigado. Em todo caso, a pergunta mais importante é se de fato ganhou a Argentina.
2. Visto de fora, o panorama argentino continua de difícil compreensão, por sua imprevisibilidade, pelas mudanças bruscas de humores políticos, pelos shows de efeito e pelas cortinas de fumaça. Não obstante, ao menos à distância, dentro dessa imprevisibilidade parece vislumbrar-se uma constante histórica: o lento declínio de uma nação que no século passado chegou a ocupar os primeiros lugares do continente como potência política, cultural, moral e econômica, e que suscitou a admiração do mundo inteiro.
3. Desse papel de protagonista na América do Sul, a Argentina parece ter ido descendo, de degrau em degrau, passo a passo, tropeço a tropeço, declive em declive, até chegar hoje a um papel que alguns analistas qualificam de secundário. Eventuais exageros aparte, não se sabe bem ao certo em que medida a maioria dos argentinos percebe o declínio que se produziu no país. Alguns inclusive parecem continuar vivendo um sonho no qual a grandeza de outrora substitui a realidade presente, a qual se parece bem diferente.
4. Os analistas aventam motivos de diversas índoles na tentativa de determinar a causa desses problemas de vital importância para a sobrevivência cultural e política de tão importante nação. Um tema-tabu entre a maioria dos cientistas políticos é o do espírito populista visto como um dos grandes responsáveis por essa decadência. Espírito que dá a seus seguidores uma sensação térmica de aparente importância e de crescimento coletivo, enquanto na ordem concreta dos fatos se produz o efeito contrário.
5. Se a causa do problema é um tabu, também é tema-tabu uma das consequências do populismo argentino: a de ter inoculado um sutil e persistente veneno de ressentimento e luta de classes nas veias e nas capilaridades de um tecido social outrora harmônico.
6. Num país de primeira categoria, tanto cultural, econômica como politicamente, o populismo envenenou o imaginário popular com a luta de classes contra os setores tradicionais e contra a própria Igreja, enquanto no plano internacional investia verbalmente contra o “imperialismo” norte-americano, mostrando a fácies de uma mentalidade pró-socialista.
7. Desse modo, o populismo argentino, com sua raiz igualitária, em vez de promover a grandeza autêntica dessa admirável nação, parece ter efetuado uma persistente sangria de suas forças morais, políticas e econômicas, impedindo-a de avançar pelas vias de um são e merecido progresso que outrora lhe granjeou tanto respeito e admiração.
8. A figura do piquetero é um símbolo recente – e extremado sem dúvida – desse espírito, que é o oposto da Argentina autêntica. Na medida em que esta foi perdendo de vista seus horizontes e sua vocação histórica, diversos aspectos de sua vida social foram se “piqueterizando”, contribuindo para transformá-la numa caricatura de si mesma.
9. Chama a atenção – e não deixa de ‘levantar algumas pulgas atrás da orelha’, a inépcia dos líderes opositores em mostrar as causas do declínio argentino e de indicar suas possíveis soluções. Num país católico como a Argentina, chama também a atenção o método de discreto silêncio, de excessivas cautelas ou de reclamações sussurradas do Episcopado diante do problema do populismo.
10. Os argentinos mais lúcidos estão chamados a denunciar, diante de seus próprios compatriotas e das Américas, o custo social do populismo que os descaracteriza, bem como ajudá-los a se desvencilhar de uma literal “síndrome do populismo” que, à maneira da “síndrome de Estocolmo”, mantém a tantos numa situação de identificação e até de submissão aos líderes populistas, mediante a paralisação do juízo crítico.
11. Os problemas acima descritos não parecem ser um triste privilégio dos argentinos, na medida em que eles se repetiram ou vêm se repetindo, em grau maior ou menor e com características próprias, em vários países latino-americanos. Desmascarando o populismo em seu próprio país, os argentinos poderão dar um passo fundamental para que se escrevam outros capítulos do indispensável Livro Negro dos populismos latino-americanos.
12. Os argentinos e latino-americanos antipopulistas devem finalmente recordar que, quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, se produzirão então as maravilhas da História da Argentina e da América Latina.
Destaque Internacional – Año XIII – No. 329 – Madrid – San José de Costa Rica – Bogotá – Santiago, 22 de agosto de 2011. Secretario de Redacción: Javier González. Editorial interactivo.
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