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Espionagem ‘ilegal’ de Putin surpreende Ocidente adormecido

Por Luis Dufaur

4 minhá 6 anos


Um ano após a tentativa de assassinato de Sergueï Skripal, os matadores do Kremlin continuam impunes

As investigações sobre o envenenamento quase fatal do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha no Reino Unido prosseguem e acabaram de convencer o Ocidente de que Moscou não está jogando “limpo”, segundo observou o jornal de Madri “El Mundo”. 

O último ‘golpe’ assassino dos agentes silenciosos do Kremlin pôs em ressalto a “via selvagem” dos operativos secretos de Moscou no exterior.

A espionagem sempre existiu, mas Ocidente acreditava assaz tolamente que havia perdido muito de sua extensão e da ferocidade criminosa com a queda da URSS em 1989.

A tentativa de assassinato de Skripal patenteou que a máquina secreta russa está trabalhando de um modo escancarado em numerosos países, notadamente nos EUA, no Canadá e na Holanda.

Skripal foi formado na mesma escola de Vladimir Putin e enviado ao Ocidente. Acabou sendo identificado pelos serviços de inteligência britânicos e se dispôs a colaborar com eles.

Mais tarde, o então agente duplo foi descoberto e encarcerado pelos russos. No fim, se beneficiou de uma troca de agentes em 2010 e se refugiou em Salisbury, amparado pelo acordo de troca.

Mais de 60 pessoas envenenadas na área do crime

Mas a o GRU (Glavnoe Razvedyvatelnoe Upravlenie, ou Diretório Principal de Inteligência), do exército russo, não perdoa os renegados, ainda que a vingança demore. E quanto mais demora a morte é mais cruel. O GRU continua famoso com sua velha sigla embora foi rebatizado como GU para ocidental ver.

De ali a intoxicação de Skripal e sua filha com ‘Novichok’, um agente tóxico de difícil manipulação reservado como sádico aviso a outros possíveis espiões renegados. Skripal teria cometido um crime supremo denunciando as conexões dos espiões de Putin e da máfia russa, segundo a BBC.

Putin quer agentes que se não são infalíveis pelo menos ninguém segura. O GRU recruta e forma esses agentes. Por isso tem acesso direto ao presidente que autoriza atividades sem controle institucional, custem o que custar.

“Sua mentalidade é agressiva, militar, cumprir a missão é mais importante que evitar riscos”, explica Mark Galeotti, especialista em serviços secretos russos e investigador no Instituto de Relações Internacionais de Praga.

O GRU está mandado fazer para os “novos campos de batalha com contornos duvidosos”: a Síria, a África, o Meio Oriente. Entornos ‘selvagens’ sem normas nem bandos bem definidos.

O GRU, que Galeotti definiu em livro de ‘Super Máfia’ está autorizado a instalar espiões ‘ilegais’ que nem os serviços diplomáticos nem os outros serviços russos podem conhecer. Esses só obedecem a ordens do chefe supremo de Moscou.

‘O Aquário’: nova sede da espionagem militar russa inaugurada por Putin, custou bilhões

O ‘Aquário’ é o nome do complexo de prédios envidraçados onde funciona o quartel geral do GRU em Moscou.

Os agentes adotam novas identidades, geralmente com os nomes mais comuns na Rússia. O GRU, obviamente, os conhece e chama de ‘verdugos’ aos agentes e seus passaportes.

“Não são clássicos espiões, não colhem informação, esses matam”, explicou Pavel Felgenhauer, analista militar russo no jornal ‘Novaya Gazeta’. 

Segundo Felgenhauer, a tentativa de assassinato em Salisbury revela uma “presença tão ativa nos países da NATO que é má noticia, porque em geral acostumam agir em locais onde vai começar uma guerra”.

O GRU também é importante ator na espionagem cibernética e recruta especialistas em informática.

Por isso, Andrei Soldatov, especialista em espionagem e autor de ‘The new nobility’, escreve que o velho GRU, fundado em 1918 no auge da guerra civil russa e que esmagou as oposições à ditadura leninista, constitui o ‘estado dentro do Estado’ que sobreviveu sem transformações a Stalin e ao fim da URSS. 

Hoje aparece mais adaptado às novas realidades geopolíticas que qualquer outra agência russa.

Seus homens, matadores seletos, estão mais atrevidos do que nunca, e sabem que o chefe Vladimir Putin está os observando. 

Mais artigos sobre a Rússia em: https://ipco.org.br/blogs/flagelo-russo/

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Luis Dufaur

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Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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