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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Fossilização das sociedades comunistas


Faz falta clareza solar a respeito da relação entre sociedades fósseis e comunismo. Em ampla proporção o comunismo caiu na Europa Oriental pela paradeira prevalente em grandes faixas do público. O sistema gestava estagnação, difundia o torpor, causava sensação de imobilidade. Em especial, socava goela abaixo letargia e fechamento de horizontes pessoais para a juventude e para os setores mais talentosos do público, enquistados em todas as faixas, desde o operariado até as camadas letradas. Fossilizados os regimes, na decomposição, aquilo explodiu como um cadáver apodrecido. Uma vez mais, a utopia, cega à natureza humana, gerou o desastre. Outro título possível para o artigo: A fossilização das sociedades igualitárias. Ainda: A fossilização das sociedades coletivistas. No caso, é a mesma coisa, igualitarismo, coletivismo, comunismo. Horizontes fechados, poucas aspirações, pouco consumo, o atraso levando à involução.

É o queoferecem ainda hoje os petistas ao Brasil, petrificados na utopia perversa, desdeos mais radicalizados até os proclamados moderados e setores que são seus companheirosde viagem ou inocentes úteis. De outro modo, suas iscas na realidade acarretarãoa fossilização, por via rápida ou gradual. Lembra a velha disputa entrejacobinos, os radicais, e girondinos, os moderados, na Revolução Francesa.

O petista Rui Costa [foto], reeleito governador da Bahia, tenta agora tornar viável a amarga receita tóxica, que vem envenenando povos há mais de século, girondinamente colocando nela água e açúcar. Em entrevista à Veja (Páginas Amarelas, 18-9-19) dá o tom da política que espera vencedora: “O certo era ter apoiado o Ciro Gomes lá atrás. Nenhuma outra liderança teria condições de superar o antipetismo”. Contudo, o político soteropolitano continua namorando o chavismo, disparado na via jacobina: “Assim como considero um exagero dizer que o Brasil é uma ditadura, não tenho elementos para classificar a Venezuela dessa forma”.

RuiCosta vem afivelando bem a máscara do moderado, com ela espera desfilar apartir de agora na Sapucaí da política. E não está só, vários outros dirigentesdo PT apostam no mesmo recurso, como entre outros, Jaques Wagner e CamiloSantana. De começo, para não parecer um dinossauro, evita propor estatização, meninade olhos da esquerda: “O cenário mundial mudou.É preciso um novo olhar sobre gestão pública. Nos governos petistas, sistemas deágua e esgoto foram financiados pela União. Não é possível replicar isso hoje. Devemosabrir os horizontes. Na Bahia, por exemplo, eu já tenho uma política para atrairnegócios em parcerias público-privadas”.

Quem diria,um petista proclamando que estatização é para gente de horizontes acanhados. Temrazão, ainda que tardia, é para quem favorece atrofia nas personalidades, anemiana economia e fossilização social. Só que antes não se sentiam obrigados aexprimir o óbvio.

Finalmente,o governador baiano avisa que, postas certas condições, não recusaria candidaturapresidencial em 2022: “Hoje, quero construircom outras lideranças essa alternativa [um projeto de país, seja lá o que isso possasignificar]. Mas é óbvio que, se digo que estou disposto a construir algo, entãoestou disposto a assumir qualquer tarefa”.

Espumou imediatamente a Comissão Nacional Executiva do PT, para Rui Costa atitude conveniente, pois consolida sua imagem de moderado. Respigo dois pontos da nota: “O eventual apoio do PT a Ciro Gomes, se à época já não se justificava porque nunca foi intenção dele constituir uma alternativa no campo da centro-esquerda, hoje menos ainda, dado que ele escancara opiniões grosseiras e desrespeitosas sobre Lula, o PT e nossas lideranças”. Continua o órgão dirigente petista defendendo Nicolás Maduro: “Nossa visão sobre a Venezuela considera primeiramente que o país vizinho se encontra sob criminoso embargo econômico e tentativa de intervenção militar estadunidense (com apoio do governo Bolsonaro), o que denunciamos em todos os fóruns”. O PT, petrificado, ORCRIM em tantos episódios recentes nossa história, porta-bandeira ufano do atraso, sonha dia e noite em impor o bolivarianismo.

Pela via girondina, com a hoje provável vitóriakirchnerista, a Argentina será gradualmente empurrada rumo à situaçãovenezuelana. Estamos imunes a tal quadro? Óbvio, não. A volta do PT ao Planalto,por meio de suas alas jacobinas ou girondinas, é a ameaça mais próxima defossilização social para o Brasil, no que terá apoio entusiástico da CNBB, CPT,MST e forças afins. No exterior, virão apoios da China e da Rússia, que já vêmsustentando a tirania chavista. E aí, fuga de capitais, consumo em frangalhos egeneralização da miséria.

Tal ameaça é potencializada pelo mantrageneralizado de que é preciso diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Deacordo, é política saudável, necessária e urgente, desde que colocadas certaspremissas. Como tais balizas quase nunca são colocadas, o mantra na práticabafeja a fossilização.

Para que a sociedade tenha igualdade proporcionada(lembro Aristóteles) ou, se quisermos, desigualdades harmônicas, é mais urgentehoje favorecer a plenitude, sinônimo de vida. Estimular as potencialidades davida em todos os âmbitos, moral, institucional, econômico. E com isso, pelamais ampla aplicação do princípio da subsidiariedade, fortalecer a sociedade emrelação ao Estado. Um choque de fundo perpassa o Brasil, plenitude versusatrofia. A aplicação das receitas comunistas, puras ou em solução diluidora,inibe o impulso rumo à perfeição, que é a atração pela plenitude.

Meses atrás publiquei livrinho de contos sob o título“Brigo pelos homens atrofiados”, utilizando o pseudônimo Zeca Patafufo, quetratava desse tema. Na historinha, o personagem Adamastor Ferrão Bravo advertiafiguras do governo dos Estados Unidos, desenhando ampla visão de conjunto, daqual retiro o seguinte e já peço perdão pela extensão do texto:

“O coletivismo cobra seu preço. Mesmo nos Estados Unidos seu perigo é maior que o do individualismo. Se estourarem guerras ou crises econômicas com recessão prolongada, aos olhos do público, o consumo, dado por excessivo, poderá ser restringido drasticamente por pilhas de medidas autoritárias; outro motivo para restrições, a degradação ambiental, que estaria atingindo níveis intoleráveis. E, então seria mais que normal para uma montoeira de gente, alegado o estado de necessidade, desrespeitar individualidades e, congruente, frear o desenvolvimento e, com isso, ficará forçoso rifar liberdades hoje existentes — espaços de oportunidade e crescimento pessoal —, confrangimentos impostos até mesmo por autoridade mundial. Será meio de cultivo para correntes atreladas a ideias românticas da vida tribal, adeptas do pouco consumo, que de momento fazem a cabeça quase tão-só de pessoas do mundo universitário. Decrescimento e crescimento negativo viraram ali conceitos na moda. Essa batelada de disparates pavimenta a rota do apagão do homem”.

O que a torna viável o apagão? As sociedadesfósseis.

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Péricles Capanema

Péricles Capanema

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Analista político e colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

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