Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:53:08 PM
Com a rapidez das comunicações, a globalização, a internet, cada um se vê subitamente diante do universo. A Humanidade é hoje como que uma imensa sociedade anônima. E quanto maior é a sociedade anônima, maior o anonimato dela…
Alguém dirá: hoje temos a internet. Por meio dela a pessoa facilmente pode escapar do anonimato, da solidão.
É o contrário que está ocorrendo! O Instituto para Estudos Quantitativos da Universidade de Stanford realizou uma pesquisa divulgada no ano 2000, tendo concluído que a Internet está formando uma legião de solitários. O estudo pesquisou 4.114 adultos em 2.689 lares. Pesquisadores da Carnegie Mellon University chegaram a sugerir que o advento da Internet pode ter consequências sociais negativas, aumentando os níveis de depressão e solidão[1].
Segundo o cientista político Norman Nie, “a Internet está criando uma onda de isolamento social, levantando o espectro de um mundo fragmentado, sem contato humano nem emoções”[2].
Observa Valéria Propato, em artigo intitulado “Geração Virtual”: “O planeta agora cabe num computador e a palavra-chave para relacionamentos de todo tipo dentro dessa nova ordem é cada vez menos hierarquia e mais interatividade …. O maravilhoso e irreversível mundo digital trouxe também a solidão”[3] (grifei).
Retoma Edgar Morin:
“No limite extremo, o homem televisual seria um ser abstrato num universo abstrato …. As telecomunicações empobrecem as comunicações concretas do homem com seu meio”[4].
Mas os hiper-modernos vêem nessa alteração do conceito de proximidade um fenômeno positivo. Assim, F. Jameson afirma que “essa última mutação do espaço – o hiperespaço pós-modernista – finalmente conseguiu ultrapassar a capacidade do corpo humano de se localizar, de organizar perceptivamente o espaço circundante e mapear cognitivamente sua posição em um mundo exterior mapeável …. um símbolo e um análogo daquele dilema ainda mais agudo, que é o da incapacidade de nossas mentes, pelo menos no presente, de mapear a enorme rede global e multinacional de comunicação descentrada, em que nos encontramos presos como sujeitos individuais”.[5]
Flutuar nesse hiperespaço facilita o desenvolvimento das personalidades? Faz bem para os nervos?
Outro aspecto do mesmo fenômeno é a decadência da ideia de Pátria. Estará ela com os dias contados, como apregoam alguns adeptos da globalização?
O homem perde seu ambiente próprio. Os objetos que o cercam não têm nenhuma relação de raiz com ele. O que suporta uma comparação com a cabina de um corsário: “Na sala do capitão-pirata, a baixela de jantar é em prata de lei, com as armas de Castela e Leão gravadas. Os pratos de serviço são de porcelana Sung. Nas paredes, com painéis em carvalho inglês, veem-se uma delicada pintura holandesa, um par de pistolas de duelo cruzadas, que pertenceram antes a um conde francês, um kris malaio e uma couraça inca em ouro puro e flexível”[6].
Até que o pirata imaginado é chique, o que não acontece com o internauta comum. Mas tratando-se de um pirata, uma sala assim pode chegar a ser pitoresca, pois ela no fundo homenageia a diversidade entre os povos. O corsário de ontem fazia questão de certo luxo, ao passo que o de hoje que é melhor chamar de internauta detesta o fasto, e nem sempre detesta a feiura.
Com ou sem luxo, vale a pena habitar num ambiente sem nada de próprio, decorado com balangandãs “do mundo inteiro”? É o que a internet geralmente nos oferece.
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[1] John Markoff, The New York Times 16-2-2000.
[2] “Isto é”, 9-4-2000.
[3] ibid.
[4] P. 71.
[5] p. 70.
[6] Stanley Edgar Hyman, A Sala do Capitão Pirata (in Carpenter, Edmund, e McLuhan, Marshall. org., p. 126).
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