No momento, você está visualizando IMACULADA CONCEIÇÃO — uma verdade de Fé, uma sacral desigualdade

Neste dia 8 de dezembro a Santa Igreja celebra solenemente a festividade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Privilégio unicamente d´Ela que foi defendido por muitos santos e teólogos, apesar de outros considerem ser uma questão discutível e que, portanto, não seria conveniente a proclamação de um dogma declarando definitivamente como “verdade de fé obrigatória” que Ela foi Concebida sem pecado original, como ocorre com todos os homens devido à culpa — o pecado de desobediência a Deus — de nossos primeiros pais, Adão e Eva.

Entretanto, o dogma foi proclamado pelo Papa Pio IX — com a Bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854 — e ocorreu um júbilo geral entre os católicos de todas as partes do mundo.

Esse privilégio único e maravilhoso da Santíssima Virgem foi por Jacques-Bénigne Bossuet, bispo, grande orador e escritor francês do século XVII, assim sintetizado lapidarmente, vimos n´Ela “Un enfantement sans douleur, une chair sans fragilité, des sens sans rébellion, une vie sans tache, une mort sans peine” (“Um parto sem dor, uma carne sem fragilidade, sentidos sem rebeldia, uma vida sem mácula, uma morte sem sofrimento”).

Em memória dessa tão augusta celebração do dia 8 de dezembro, segue a transcrição de trecho de um célebre artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na revista Catolicismo, de fevereiro/1958, no qual ele faz uma análise da missão de Nossa Senhora em nossos tempos.

*   *   *

“Ao definir o dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio IX despertou em todo o orbe civilizado repercussões ao mesmo tempo díspares e profundas.

De um lado, em grande parte dos fiéis, a definição do dogma suscitou um entusiasmo imenso. Ver um Vigário de Jesus Cristo erguer-se na plenitude e na majestade de seu poder, para proclamar um dogma em pleno século XIX, era presenciar um desafio admiravelmente sobranceiro e arrojado ao ceticismo triunfante, que já então corroia até as entranhas a civilização ocidental.

Acresce que esse dogma era marial. Ora, o liberalismo, outra praga do século XIX, tende por sua própria natureza ao interconfessionalismo, à afirmação de tudo o que as várias religiões têm em comum (o que em última análise se reduz a um vago deísmo), e a uma subestimação, quando não a uma formal rejeição de tudo quanto as separa.

Assim, a proclamação de um novo dogma mariano — precisamente como ocorreu em alguns arraiais com a definição recente da Assunção — se afigurava aos interconfessionalistas ocultos ou declarados de 1854 uma séria e inesperada barreira para a realização de seus desígnios.

Mais ainda, o novo dogma, em si mesmo considerado, chocava a fundo o espírito essencialmente igualitário da Revolução que, a partir de 1789, reinava despoticamente no Ocidente. Ver uma simples criatura de tal maneira elevada sobre todas as outras, por um privilégio inestimável, concedido no primeiro instante de seu ser, é coisa que não podia nem pode deixar de doer aos filhos da Revolução que proclamava a igualdade absoluta entre os homens como o princípio de toda ordem, de toda justiça e de todo bem.

Aos não-católicos, como aos católicos mais ou menos infectados do espírito de 1789 [ano da Revolução Francesa], doía-lhes aceitar que Deus tivesse instalado com tanto realce, na Criação, um elemento de tão caracterizada desigualdade.

Por fim, a própria natureza do privilégio [de Nossa Senhora como “Imaculada Conceição”] é antipática para espíritos liberais. Se alguém admite o pecado original com toda a sequela de desregramentos da alma e misérias do corpo que ele acarretou, há de aceitar que o homem precisa de uma autoridade, a cujo império tem de viver sujeito.

Ora, a definição da Imaculada Conceição implicava numa reafirmação implícita do ensinamento da Igreja a este respeito.

Todavia, por mais que tudo isto seja, não estava só nisto o que ousaríamos chamar o sal do glorioso acontecimento da definição do dogma. É impossível pensar na Virgem Imaculada sem ao mesmo tempo lembrar a serpente cuja cabeça Ela esmagou triunfal e definitivamente com o calcanhar. O espírito revolucionário é o próprio espírito do demônio, e seria impossível, para uma pessoa de fé, não reconhecer a parte que o demônio tem no aparecimento e na propagação dos erros da Revolução, desde a catástrofe religiosa do século XVI até a catástrofe política do século XVIII e tudo quanto a esta se seguiu.

Ora, ver assim afirmado o triunfo de sua máxima, de sua invariável, de sua inflexível inimiga, era, para o poder das trevas, a mais horrível das humilhações.

De onde um concerto de vozes humanas e rugidos satânicos por todo o mundo, semelhante a uma imensa e fragorosa tempestade.

Ver que contra essa tempestade de paixões inconfessáveis, de ódios ameaçadores, de desesperos furiosos, se erguia só, e intrépida, a figura majestosa do Vigário de Cristo, desarmada de todos os recursos da Terra e fiada apenas no auxílio do Céu, era fonte, para os verdadeiros católicos, de um júbilo igual ao que sentiram os Apóstolos vendo erguer-se, na tempestade desencadeada sobre o Lago de Genesareth, a figura divinamente varonil do Salvador, a comandar soberanamente os ventos e os mares: ‘venti et mare oboediunt ei’ (Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem? – Mt. 8, 27)”.

Deixe um comentário