Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
5 min — há 5 anos — Atualizado em: 2/3/2020, 9:39:39 PM
A Tradiçãodesprezada volta à luz, após as trevas do “espírito do Concílio”
Os homens trabalhavam apenas para realizar uma reforma corriqueira na Igreja de Nossa Senhora do Ó e Conceição, em Valença, Piauí. Mas algumas marteladas na parte inferior do altar, localizado na capela do Santíssimo Sacramento, surpreenderam os pedreiros com o encontro de duas imagens: uma de Santa Teresa d’Ávila; e outra de Santo Antônio de Pádua com o Menino Jesus nos braços. Belas e expressivas figuras escondidas, esquecidas, agora voltavam à luz [foto acima].
Segundo o pesquisador Antônio José Mambenga,1 há décadas corriam rumores— lendas urbanas, como se diz hoje no jargão jornalístico — entre os habitantesde Valença sobre supostas imagens de santos enterradas na igreja. Nada haviasido comprovado, até a descoberta feita pelos pedreiros em 21 de novembro doano passado. O que terá ocorrido para que as imagens fossem colocadas lá?
Em entrevista,2o atual pároco, Pe. Klebert Viana, explicou que algumas diretrizes vindas doConcílio Vaticano II (1962-1965) tinham determinado novas práticas na Igreja. Segundoele, uma das novidades era enfatizar “a centralidade a Cristo”. Com base nessa “palavra de ordem”,propagou-se a ideia de que a devoção aos santos desviava de Cristo, atrapalhavao culto a Cristo. Eis a explicação do padre: “Essas igrejas mais antigastinham muitos altares laterais, com muitas imagens. Houve a orientação [vinda doConcílio] de que as igrejas que fossem construídas a partir de então tivessempoucas imagens, dando a centralidade a Cristo”.
Bem entendido, não houve uma norma explícita nosdocumentos conciliares, no sentido de eliminar as imagens.3 Houve sim uma onda — o chamado “espírito do Concílio”,impulsionado pelo progressismo — que trouxe consequências não apenas parafuturas construções, mas também provocou, naquela época, uma lamentável dilapidaçãodas antigas igrejas. Inúmeras delas foram despojadas das imagens sacras e deoutros ornamentos tradicionais.
Fumaça de Satanás
Desde o Concílio, os novos templos católicos, e tambémos que foram submetidos a reformas, passaram a exibir invariavelmente asparedes nuas, seguindo as tendências da arquitetura moderna. Disforme, insensata,inadequada à verdadeira religiosidade, a tal arquitetura moderna não escondiasua faceta revolucionária, e procurou andar bem longe dos tradicionais eveneráveis estilos barroco e gótico.
Essa negação do legado de dois mil anos de história docatolicismo confunde-se com o mesmo caudal que suscitou a constatação do PapaPaulo VI em 1972: a partir do Concílio, “a fumaça de Satanás entrou notemplo de Deus”.
E a onda progressista — a fumaça, diríamos — chegouà pequena Valença, no Piauí. Supõe-se que o Pe. Raimundo Nonato Marques, entãopároco, tenha recebido ordem para retirar as imagens da igreja. Mas não quissimplesmente jogá-las no lixo nem destruí-las. Decidiu colocá-las debaixo doaltar do Santíssimo Sacramento, selando-as com uma parede de tijolos.
Não dispomos de informações seguras sobre a decisão. Mas,apenas como hipótese, talvez o sacerdote (hoje falecido) tivesse a esperança deum dia devolvê-las aos altares da igreja, de onde nunca deveriam ter saído. Maspor que dar-se ao trabalho de sepultá-las debaixo do altar do SantíssimoSacramento? Por que não as colocar na sacristia, por exemplo? Recearia o Pe.Marques receber nova ordem superior, proibindo a ostentação das imagens mesmoem lugar secundário? Ao considerarmos a onda revolucionária de dilapidação dasigrejas, tal receio do padre parece plausível.
Então, lá permaneceram esquecidas as belas imagens deSanto Antônio de Pádua e Santa Teresa d’Ávila, por quase 60 anos! Detalhe repletode simbolismo: debaixo do altar, elas pareciam como que guardadas peloSantíssimo Sacramento, pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Podemos imaginarJesus sacramentado exclamando: “Deixem,que Eu mesmo cuidarei das imagens dos meus santos. Se os homens as desprezam, Eu as conservareicomo um tesouro meu!”.
Três passos do progressismo
A onda de destruição e modificação das igrejas, apartir dos novos ventos nefastos do Concílio, causa ainda mais horror ao observarmosas suas consequências. Antes de tudo, a desculpa de uma “centralidade a Cristo”,para justificar a retirada das imagens, semostrou de uma hipocrisia completa.Nas próprias igrejas modernizadas, hoje os sacrários são normalmente dispostosem capelas laterais; ou, quando muito, ao lado do altar em forma de mesana nave central! Muito ao contrário do que prometia o “espírito do Concílio”, Cristonem sequer está no centro das igrejas “atualizadas”. Daí constatarmos trêspassos dos reformadores, passos sucessivos da “fumaça de Satanás”: primeiro retiraramas imagens dos santos, “para colocar Cristo no centro”; depois colocaram Cristode lado; e agora chegamos ao terceiro passo. Qual é esse passo?
Como se não bastassem os inaceitáveis dois passosanteriores, o mundo católico assistiu estarrecido à recente introdução ecelebração, na Basílica de São Pedro, feita por numerosos personagens do altoclero, e na presença do Papa Francisco, em louvor a um ídolo indígena pagão, a Pachamama.A imagem pagã foi também colocada num altar lateral da Igreja de Santa Maria emTraspontina, para ser cultuada pelos fiéis. Dentro dessa lógica absurda, umapergunta é inevitável: se as imagens dos santos prejudicam a centralidade deCristo, o que faz esse ídolo nas igrejas? Esse, sem a menor dúvida, é oterceiro passo desejado pelo progressismo que circunda o Papa Francisco:substituir Cristo pela Pachamama e outros ídolos equivalentes.
A veneração das imagens, uma tradição milenar da SantaIgreja, muito longe está de afastar Jesus Cristo do centro. Pelo contrário,essa veneração dos santos do Senhor nos aproxima d’Ele. O que inegavelmenteafasta Jesus Cristo do centro é o abandono das tradições católicas, entre asquais está a veneração (não adoração) das imagens dos santos, especialmente deNossa Senhora.
Quanto simbolismo podemos extrair, não só dadescoberta em si, mas de toda a história que envolve as imagens, e de seusdesdobramentos até os dias atuais! Enfim, vemos aí mais motivos para aslágrimas de Nossa Senhora.
Um raio de luz e esperança
Todo esse panorama se apresenta carregado de trevas.Mas a descoberta das imagens em Valença parece simbolizar uma tênue luz aestimular nossa esperança. Representam também um sinal da intervenção iminentede Nossa Senhora as estupendas reações que presenciamos, entre os católicos,contra o progressismo infiltrado na Igreja. Se as santas imagens escondidas,depois de longo tempo voltaram à luz, a Santa Igreja Católica, imortal como opróprio Jesus Cristo, também voltará à luz em todo seu esplendor.
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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 829, Janeiro/2020.
Notas
Autodemolição da Igreja, Concílio Vaticano II, Esperança, Piauí, Valença
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